quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Livros: "Easy Riders, Raging Bulls", de Peter Biskind


Por Renildo Rodrigues, diretor auxiliar/produtor do Set Ufam


No século 20, a década de 1960 ocupa uma posição central. Tempos de muita rebeldia, contestação e descobertas, os sixties entraram para o imaginário popular com uma série de eventos inesquecíveis: Beatlemania, Guerra do Vietnã, a Crise dos Mísseis em Cuba, Kennedy, ditaduras na América Latina, os festivais de Monterey e Woodstock, protestos estudantis na França, a chegada do homem à lua. Ufa! Para cada ano dessa época feroz, o mundo sentiu fissuras profundas em seu âmago.
Dennis Hopper e Peter Fonda em Easy Rider - Sem Destino (1969)

Uma nova geração de cineastas, sob a influência desses acontecimentos, se pôs a virar do avesso os dogmas da Sétima Arte. Francis Ford Coppola, Martin Scorsese, William Friedkin, Steven Spielberg, Robert Altman e outros promoveram uma renovação no cinema americano, com a introdução de temas pessoais, naturalismo nos cenários e atuações, histórias que abordavam os dilemas de pessoas comuns. A ascensão e a queda desse movimento é o mote do livro Easy Riders, Raging Bulls – Como a Geração Sexo, Drogas e Rock ‘n’ Roll Salvou Hollywood, do jornalista Peter Biskind. Lançada lá fora em 1998, a obra chegou ao Brasil no fim do ano passado. Leitura obrigatória para cinéfilos, Easy Riders, Raging Bulls é o registro de um momento decisivo na evolução dessa arte.
Al Pacino, Marlon Brando, James Caan e John Cazale em O Poderoso Chefão (1972)

Biskind fez centenas de entrevistas, buscando recriar as circunstâncias em que muitos desses filmes foram produzidos, e a personalidade de seus realizadores. O hilariante e perturbador Dennis Hopper (de Easy Rider – Sem Destino) e o megalomaníaco Coppola rendem grandes momentos. Descobrimos o trabalho obstinado de pequenas produtoras, as circunstâncias absurdas em que algumas obras vieram à luz, a mudança nos centros de poder em Hollywood, a derrocada patética de muitos artistas, num ciclo de escândalos sexuais e abuso de drogas. Mas, acima disso, descobrimos o intenso, pulsante conteúdo humano que foi a força motriz do cinema americano dos anos 60 e 70. Biskind mostra a extensão do legado de cada um desses cineastas, que, afinados com o cinema europeu da época (Fellini, Bergman, Antonioni), puseram novos valores no mapa. E também a reação de Hollywood: pouco a pouco, os preceitos desse grupo ajudaram a construir as novas diretrizes dos blockbusters, com Tubarão (1975) e Star Wars (1977) como emblemas dessa mudança.
Robert De Niro em Taxi Driver (1976)

Easy Riders, Raging Bulls ajuda a recuperar uma época de ambição e mudanças, na qual foi criado um conjunto de obras tão forte que muitos de seus filmes são listados entre os melhores já feitos. Ele chega num ótimo momento para os fãs de cinema no Brasil, em que muito desses filmes têm ganhado edições especiais em DVD, permitindo a redescoberta de diretores maravilhosos e esquecidos, como Hal Ashby (de Amargo Regresso), Terrence Malick (Terra de Ninguém), Nicholas Roeg (Inverno de Sangue em Veneza) e Warren Beatty (Reds). E, claro, a prazerosa revisão de clássicos como O Poderoso Chefão, Taxi Driver, Scarface, M.A.S.H., Chinatown, Um Estranho no Ninho, Laranja Mecânica, Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, O Exorcista, A Última Sessão de Cinema, Rocky...
Brian De Palma, Steven Spielberg e Martin Scorsese: mudanças profundas no cinema americano

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