domingo, 9 de junho de 2013

Dá um tempo, Johnny! - Atualizada

Por Caio Pimenta


Johnny Depp é um dos atores mais adorados pelo público e um dos mais talentosos surgidos em Hollywood nos últimos 20 anos.

Cada filme que carrega o nome dele é um sinônimo de destaque na mídia e de boas bilheterias.

Porém, o excesso de filmes protagonizados pelo astro vem provocando um desgaste na sua imagem e tornando suas atuações cada vez mais iguais.

Mudando de visual freneticamente e transitando nos mais diversos gêneros, o ator era até 2003 um ilustre conhecido, pero no mucho do grande público.

Explico: apesar de ter feito filmes de sucesso como "Edward Mãos de Tesoura" e "A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça", ambos com o parceiro Tim Burton, Depp ainda tinha um ar de ator cult, mesmo sendo um rosto conhecido.

Foi a partir de 2003, porém, que o ator passou a ser uma estrela ao interpretar o inesquecível Jack Sparrow em "Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra".

De lá para cá, Depp esteve presente em 13 filmes (não entram na contagem os filmes em que ele participa como comentarista nem documentários).

A média de quase 2 filmes ao ano traz a necessidade de uma reflexão: será que não era a hora de Johnny Depp dar uma parada para descansar sua imagem, além de poder se reinventar?

Para isso, analiso as atuações do astro depois do sucesso do primeiro "Piratas do Caribe".

"Era Uma Vez no México" (2003): em uma atuação canastrona, o astro participa deste fraco e sem-graça filme de Robert Rodriguez (como todos os desse diretor). Quem se lembra desse longa?

"A Janela Secreta" (2004): suspense morno, no qual Depp é o único destaque. Poderia passar muito bem sem essa obra no currículo.

"Em Busca da Terra do Nunca" (2004): neste emocionante longa de Marc Forster, Depp faz uma excelente, mas superestimada atuação. Ainda conta com os sempre competentes e talentosos Dustin Hoffman e Kate Winslet e a revelação Freddie Highmore para ajudá-lo.

"O Libertino" (2004): a melhor atuação do ator nos últimos anos (sem contar Sparrow, óbvio). Em um trabalho difícil e corajoso, o ator domina o filme e nos faz torcer para que desista um pouco de fazer blockbusters.

"A Noiva-Cadáver" (2005) e "Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet" (2007): as melhores parcerias que Depp teve com o companheiro Tim Burton nesses últimos anos. No primeiro, o astro mostra-se bastante a vontade e faz um trabalho competente como dublador neste excelente filme; no musical, apesar de não se mostrar um cantor dos mais afinados, Depp traz um homem angustiado e em busca de vingança, sendo um dos pontos altos de sua carreira.

"A Fantástica Fábrica de Chocolate" (2005) e "Alice No País das Maravilhas" (2010): aqui, Depp faz dois personagens exóticos, com risadinhas estranhas, caras de abobalhados e visuais marcantes. Porém, o frisson causado pelos dois filmes foi maior que a qualidade deles e o astro começa a dar sinais de repetição de trejeitos de Jack Sparrow.

"Piratas do Caribe: O Baú da Morte" (2006), "Piratas do Caribe: No Fim do Mundo" (2007) e "Piratas do Caribe: Navegando em Águas Perigosas" (2011): a ganância da Disney e do produtor da saga, Jerry Bruckheimer, em explorar a figura de Jack Sparrow foi tanta que acabamos cansando da presença dele em cena, diminuindo o impacto da atuação de Depp, que permanece excelente.

"O Mundo Imaginário do Doutor Parnassus" (2009): chamado para "apagar o incêndio" causado pela morte do protagonista do filme, o saudoso Heath Ledger, Depp parece estar perdido e protagoniza uma cena de dança de ficar com vergonha alheia. Pelo menos, valeu a intenção de ajudar.



"Inimigos Públicos" (2009): neste suspense de Michael Mann ("O Informante"), Depp e Marion Cottilard dominam a cena, deixando Christian Bale de lado. Uma atuação sóbria, sem afetações e contemplada pela belissíma sequencia passada dentro do cinema tornam este um ponto alto na carreira do americano de Kentucky.


"O Turista" (2011): parece, mas Depp não interpreta um sonâmbulo neste filme. Abusando do carisma que possui perante o público, o astro "engata" um piloto automático a tal ponto que parece desinteressado com o que se passa ao redor e apenas contempla a beleza de Angelina Jolie. Pior de tudo, é ver o quanto ele usa os trejeitos de Sparrow, sendo a fuga dos russos correndo em cima de telhados na cidade de Veneza o exemplo mais claro de como o pirata afetou seu modo de construir personagens.

"Rango" (2011): volta a se juntar com o diretor Verbinski na animação vencedora do Oscar. Vai bem e nada mais.

"Diário de um Jornalista Bêbado" (2011): repetindo os mesmos problemas de "O Turista", Depp parece ser um arremedo do bom ator que se consagrou. O jeito sonolento e blasé com que atua deixa a história do filme ainda mais fraca. Parece estar com preguiça de tudo aquilo.

"Sombras da Noite" (2012): a oitava parceira entre o astro e Tim Burton é divertida e traz ambos em bons momentos. Mas a sensação de déjà vu de "Edward Mãos de Tesoura" ecoando a todo momento.

Sem contar a participação especial em "Anjos da Lei", Depp retorna neste ano aos cinemas com "O Cavaleiro Solitário". A foto do personagem mostra bem que o ator repetirá o mesmo tipo que o público se acostumou nestes últimos anos.

Definitivamente, na minha visão, Johnny Depp atravessa um caminho perigoso.

Ou dá uma pausa e repensa o rumo de sua carreira, quem sabe priorizando a escolha de filmes com maior qualidade artística ou faz um blockbuster atrás do outro e arrisca-se a desgastar sua imagem.


Pelo bem dele, dá um tempo Johnny!