segunda-feira, 30 de julho de 2012

Crítica: Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge, de Christopher Nolan

Por Thiago Guedes

Que fila!!! Mais de duas horas em pé. Fazia tempo que não via tanta gente na frente de um cinema. Na verdade, aquela era a primeira vez que enfrentava tumulto pra ver um filme. O ano? 1989. Em cartaz? Batman! O primeiro. Foram horas de espera para meses de celebração. 

Algum tempo depois, no meu aniversário de 5 anos, ganhei um boneco do super-herói. No dia das crianças, pedi um batmóvel de controle remoto. Levei um de plástico fabricado em Taiwan. Tava ÓTIMO. No Natal, implorei por uma fantasia. Perdi a conta de quantas vezes utilizei o traje como pijama. 

Mais de 20 anos depois o Homem-Morcego ressurge nas telas. Uma volta mais sensacional que a criação de Tim Burton desta vez sob o comando de Christopher Nolan. 

O ponto de partida deste "Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge" é exatamente o fim do capítulo anterior, quando o herói é acusado de ter matado o promotor Harvey Dent (Aaron Eckhart). “Gotham precisa de um heroi com rosto.”, diz Batman. E é assim que o Homem-Morcego passa a ser odiado por Gotham, enquanto a cidade passa a admirar Harvey devido a uma lei anticriminalidade. Isto sem saber que este tinha se transformado no vilão Duas Caras. Com a paz de volta a cidade, o jeito é Batman sair de cena por longos oito anos até o surgimento de Bane, um cidadão nascido no “inferno”, que quer instaurar o caos. 

O filme tem defeitos. Isso é verdade. O vilão assusta, mas quem viu o Coringa de Heath Ledger - cheio de trejeitos e com cara de psicopata - quer mais de um fortão, paradão, mascarado. A atuação de Marion Cotillard é outro problema. Ela interpreta Miranda Tate, uma filantropa que assume as indústrias Wayne em um momento crítico da companhia e do próprio Bruce. A francesa, apática, ficou longe do que pode fazer. 

Com isso, quem não assistiu, deve se perguntar: Então o terceiro é pior que o segundo?

A resposta é não. Nem melhor. "O Cavaleiro das Trevas Ressurge" é o encerramento, o ponto final de uma grande história. Os três filmes da nova saga não podem ser analisados isoladamente. Para que Christopher Nolan dirigisse o inacreditável "Cavaleiro das Trevas", ele teria que explicar o início de tudo, como foi feito no ótimo "Batman Begins". Nolan também precisava de uma conclusão. (O herói não poderia se despedir como vilão, certo?).

Aí entra o terceiro capítulo. Um bom roteiro que conta com grandes personagens conhecidos dos fãs (Oldman, Freeman, Caine...) e ótimas novidades, como Joseph Gordon-Levitt e Anne Hathaway. Levitt faz o policial parceiro de Bruce, John Blake (no final dá pra descobrir mais sobre esse nome.). Já Hathaway é a sensual ladra Selina Kyle, a Mulher-Gato. 

Mais uma vez, o lado sombrio de Batman é a tônica. Em todo filme, a dor é ingrediente básico. Bruce sente falta da paixão Rachel Dawes (morta no segundo capítulo). O corpo exigido pelo trabalho de justiceiro, já demonstra sinais de cansaço. O isolamento é a alternativa encontrada, mas a reclusão precisa ser quebrada para o bem de Gotham e dos fãs. 

Pode parecer piegas, mas a dor agora vem do lado de cá da tela. A trilogia, extremamente competente, vai deixar saudades. No finalzinho do filme, fica claro que talvez não seja o adeus. Uma nova saga pode começar. Sem Bale e sem Nolan. Será que vale a pena?

Quando soube da produção de Batman Begins, fiquei assustado. Culpa do Batman e Robin, dirigido por Joel Shumacher.  Me surpreendi. Hoje, o receio é outro. Superar a obra de Nolan não será fácil. Enquanto nada é definido, eu comemoro. 

Obrigado Meu Deus... Bom que existem os DVDs... 

domingo, 29 de julho de 2012

Crítica: Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge - COM SPOILERS

Por Caio Pimenta

“Um grande poder traz uma grande responsabilidade”.


O conselho de Tio Ben a Peter Parker em "Homem-Aranha" (2002) serve bem para analisar o último filme da saga de 'Batman' sob o comando de Christopher Nolan. Com a necessidade de encerrar uma história que ressuscitou Bruce Wayne para os cinemas e elevou os longas baseados em HQ's a um novo patamar de qualidade, "O Cavaleiro das Trevas Ressurge" sente a pressão, não conseguindo dar coesão a todas as inúmeras tramas que passam pelos 164 longos minutos de projeção, deixando a riqueza de seu universo e suas alegorias ao mundo que vivemos, grande diferencial dos dois filmes anteriores, resumida a uma história de mocinhos e vilões.


"Batman Begins" (2005) e "Batman - O Cavaleiro das Trevas" (2008) traziam belas referências ao mundo em que vivemos, como, por exemplo, o poder do medo enfrentado por Bruce Wayne, as consequências dos males da corrupção a uma cidade e povo, força motriz da decisão de Ra's Al Gul querer o fim de Gotham, o vazio da violência, sem causas e ideologias, trazida por Coringa e a trajetória de Harvey Dent, o qual, assim como muitos nomes de nossa política, começam com ideias promissoras, porém vão passando por tantas transformações que terminam sendo justamente aquilo que tanto combatiam. 

Já neste terceiro filme, o roteiro escrito pelos irmãos Christopher e Jonathan Nolan, a partir do argumento de David S. Goyer, parece esquecer dessas reflexões e referências que tanto enriqueciam o universo da história, focando a trama na superação de Batman e nos desafios representados pelo vilão. Exceto por um pequeno e quase imperceptível momento, quando Blake (Joseph Levitt-Gordon) questiona o agora Comissário Gordon (Gary Oldman) sobre as bases que levaram àquele período de baixa criminalidade pré-Bane, o restante se trata da clássica história entre o bem e o mal, com personagens bem delineados para os dois lados e sem grande complexidade.

Como se já não bastasse essa queda reflexiva da saga, o roteiro do novo filme se mostra mais extenso do que o necessário, apostando em subtramas em excesso e reviravoltas que soam tolas (tal fato, diga-se de passagem, já havia atrapalhado de maneira menos intensa Nolan no excelente "A Origem").

O novo filme começa oito anos depois do fim de "O Cavaleiro Das Trevas", quando Batman (Christian Bale) é acusado da morte de Harvey Dent (Aaron Eckhart) e precisa sair de cena. Desta vez, Gotham passa por um momento de calmaria, com a violência em baixa, devido à lei que leva o nome do promotor público, a qual apertou o cerco a criminosos. Porém, o sossego está prestes a ir pelos ares com a chegada da turma do grandalhão Bane (Tom Hardy), o qual traz o perigo do terrorismo à cidade. Com isso, Bruce Wayne se vê em uma situação sem saída e isto é a senha para o Homem-Morcego voltar a ativa.
 
O excesso de personagens e subtramas que acompanhamos atrasam o desenvolvimento do longa, tornando passagens que poderiam ser resolvidas com maior fluidez em algo arrastado. As partes passadas envolvendo magnatas da empresa de Bruce Wayne (donos da pior fala da saga: "Você é pura maldade", diz um deles a Bane antes de morrer) e os planos para tirar os policiais de dentro do túnel atrasam todo o processo.


Com isso, trechos que poderiam desenvolver bons personagens como Comissário Gordon e Lucius Fox (Morgan Freeman) perdem espaço. Já os novatos, Selina Kyle (Anne Hathaway) e Blake (Joseph Levitt-Gordon) dependem muito mais do carisma de seus intérpretes do que por serem grandes personagens, apesar de terem seus bons momentos (principalmente Kay com sua rapidez de raciocínio e sagacidade). 


Porém, nenhum deles é mais prejudicado do que Miranda Tate (Marion Cotillard). Em uma personagem que não diz a que veio durante quase 80% da projeção, após várias tentativas dos roteiristas de inseri-la na história com algum peso dramático (até para cama com Wayne, ela vai), a atriz francesa sofre para ganhar espaço, dependendo de uma reviravolta má inserida e sem o impacto necessário que o momento exigiria para que possa ganhar algum peso na história.


Para compensar, Michael Caine brilha como o mordomo Alfred que vê seu patrão e quase filho em ruínas, implorando para que volte a viver e deixa a vida de Batman de lado, pois, sabe que aquilo poderá causar sua morte.


Apesar da sombra de Coringa (Heath Ledger), Tom Hardy até que se sai bem como o vilão Bane. Mesmo limitado pela máscara que cobre o rosto do personagem, o ator consegue fazer um trabalho vocal e físico impressionantes, dando a exata dimensão do terror representado pelo personagem.

Enquanto isso, Christian Bale mostra a característica mais forte da sua carreira: a entrega física que faz a cada papel. Aqui, a palidez e magreza de Wayne no início do filme contrastando com a força e o trabalho físico feito para viver o herói, principalmente, no ato final, carregam simbolismos que ressaltam de forma clara os desafios enfrentados pelo Homem-Morcego e o que seu alter-ego enfrenta para ser o justiceiro que Gotham necessita, mesmo que isso, possa custar sua vida.

Quem brilha mesmo em toda a projeção, para o bem ou para mal, porém, é Hans Zimmer, Autor da trilha sonora que acompanha a saga, o compositor criou uma música-tema que dá o tom do filme, com acordes de maneira mais abafada e baixa nos momentos em que Batman está passando por dificuldades e que cresce moderadamente até ser preponderante quando o herói consegue se superar e passar por cima dos vilões e desafios impostos. 


Christopher Nolan sabia do brilhantismo que tinha em mãos e a usou o quanto pode em seus filmes, transformando-os em quase uma ópera, mesmo que, em alguns momentos, o cineasta dê a impressão de que não acredita tanto no que é mostrado como forte o suficiente para atrair o espectador, necessitando que a trilha complemente aquilo que exibe. Em "O Cavaleiro das Trevas Ressurge", o momento em que mais se percebe isto é na saída de Bruce Wayne do inferno, quando a trilha só falta sair da tela de tão alto que fica. 

Entretanto, é interessante notar que os dois momentos mais fortes do filme surgem justamente quando a música incidental cessa: o pedido emocionado de Alfred a Bruce Wayne para que não seja Batman novamente e a luta trágica com Bane, na qual o Homem-Morcego fica paralítico, quando a brilhante edição de som transforma cada pancada em algo feroz, feito por dois seres fora da realidade.


Apostando em tom mais realista e tenso, principalmente pela fotografia em tons mais azulados de Wally Pfister, nada lembrando o período mais escuro e sujo de "Batman Begins" que lembrava, em certos momentos, "Blade Runner", "O Cavaleiro das Trevas Ressurge" se ressente de grandes cenas de ação, tendo uma montagem equivocada, diminuindo o ritmo da ação em momentos que deveriam ser mais ágeis, fato sentido principalmente na sequência final.

Sobre a polêmica que surgiu sobre a cena final de que Bruce teria morrido e Alfred tenha tido uma visagem, acho que a própria trilha em um tom mais animado e de triunfo do que habituamos a ver em toda saga, o momento em que vemos o holofote consertado e, por último e decisivo, a presença de Selina Kay, personagem que o mordomo somente conhecia como empregada da casa na festa do início do filme, não chega a dar grande margem para esse pensamento, apesar de ser interessante para discussões sem fim.



"O Cavaleiro das Trevas Ressurge" passa longe de ser um filme ruim, porém, transmite a sensação amarga que poderia e deveria ser bem melhor, após tudo que presenciamos nos filmes anteriores. Nada que apague o brilho da saga de Christopher Nolan e a importância da série cinematográfica mais influente desta década, ao lado de "O Senhor dos Anéis".


Nota: 7.0

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Tudo sobre a estreia de "Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge" em Manaus


Filme: Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge

Direção: Christopher Nolan
Elenco: Christian Bale, Michael Caine, Gary Oldman, Tom Hardy, Anne Hathaway, Marion Cottilard, Joseph Gordon-Levitt, Liam Neeson, Cilliam Murphy, Morgan Freeman
Sinopse: Batman (Christian Bale) é perseguido pela lei depois de ser acusado de ter assassinado do promotor Harvey Dent. A busca, liderada por seu amigo Comissário Gordon (Gary Oldman), não chega a lugar algum, mas obriga o herói a abandonar sua identidade secreta. Em meio à dor pela morte de seu amor Rachel Dawes (Maggie Gyllenhaal), oito anos se passam, até que o Homem-Morcego é obrigado a voltar à ativa quando o líder terrorista Bane (Tom Hardy) chega à Gotham City trazendo o caos e destruindo tudo a sua frente.

Cinemais - Manaus Plaza Shopping

Sala 1 - 21h00 - Dublado
Sala 2 - 15h10 - 18h20 - 21h30 - Dublado
Sala 6 - 14h20 - 17h30 - 20h40 - Dublado

Cinemais - Millenium Shopping

Sala 1 - 21h40 - Legendado
Sala 4 - 14h40 - 17h50 - 21h00 - Legendado
Sala 6 - 14h00 - 17h10 - 20h20 - Dublado
Sala 8 - 15h10 - 18h20 - 21h30 - Dublado

Cinemark - Studio 5

Sala 1 - 13h10 - 16h40 - 20h20 - 00h00* - Dublado
Sala 5 - 10h40 - 14h10 - 17h40 - 21h20 - Dublado
Sala 6 - 12h20 - 15h50 - 19h20 - 23h00* Dublado
Sala 7 - 11h20 - 14h50 - 18h30 - 22h10 - Dublado
*somente sexta (27/07) e sábado (28/07)

Playarte - Manauara Shopping

Sala 1 - 20h50 - 23h59* - Legendado
Sala 3 - 14h00 - 17h15 - 20h30 - 23h45* - Legendado
Sala 4 - 14h01- 17h16 - 20h31 - 23h46* - Legendado
Sala 6 - 13h30 - 16h45 - 20h00 - 23h15* - Dublado
Sala 7 - 13h31 - 16h46 - 20h01 - 23h16* - Dublado
*somente sexta (27/07) e sábado (28/07)

Severiano Ribeiro - Amazonas Shopping

Sala 4 - 14h00 - 17h20 - 20h40 - Dublado
Sala 5 - 20h40 - Dublado

Não perca: na próxima segunda-feira confira a crítica do Cine Set para "Batman - O Cavaleiros das Trevas Ressurge" e na terça-feira, um especial com o melhor e pior da saga do Homem-Morcego comandada por Christopher Nolan!

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Crítica: Valente, de Mark Andrews, Brenda Chapman e Steve Purcell

Por Renildo Rodrigues



Poucas produtoras podem se orgulhar de sua obra como a Pixar. Criada em 1986 pelo magnata da computação Steve Jobs, a empresa se destacou desde o início por seu trabalho visionário na área da animação digital.

Curtas elaboradíssimos deram lugar a longas idem, numa série de produções antológicas. De Toy Story (1995) até Up – Altas Aventuras (2009), a Pixar reinou absoluta.

Mas então veio Carros 2 (2011), sequência de um sucesso de 2006 – e com esse filme vimos, pela primeira vez, a produtora dar um passo em falso. Era uma aventura convencional: redondinha, envolvente, mas nada original, sem a surpresa e a inovação constante a que a Pixar havia nos acostumado.

A recepção negativa gerou dúvidas: poderia o amado estúdio da luminária ter “perdido a mão”?

Essa indagação cercou a estreia de Valente, uma aventura jovial, impetuosa e lindamente rude como sua protagonista, Merida.

Herdeira do trono da Escócia, Merida é educada desde o berço pela mãe, a rainha Elinor, para se tornar uma princesa. O problema é que essa é a última coisa que a garota quer. Merida é um espírito livre, exímia amazona e arqueira, e seu maior prazer é viver aventuras pelos arredores do castelo. Quando os herdeiros dos principais clãs do reino vêm disputar sua mão, Merida se rebela, e tenta fazer a mãe mudar de ideia – se não na conversa, com a ajuda de uma misteriosa feiticeira.

O diferencial mais marcante de Valente, na comparação com outras obras da Pixar, é mesmo sua estrela: primeira protagonista feminina do estúdio, Merida é um personagem fascinante. Com seus cabelos vermelhos cheios e esvoaçantes e sua personalidade indomável, a princesa eletriza o filme quando aparece em cena.

O problema maior de Valente está no uso que se faz da personagem: se Merida, a princípio, está no centro de tudo, a partir do feitiço a história ganha outro rumo, e essa mudança abrupta de tom faz imaginar os caminhos que a trama poderia ter tomado.

Do jeito que ficou, o que era um filme sobre uma personalidade forte e independente passa a ser uma história edificante sobre as relações de pais e filhos.

Não é ruim – longe disso –, mas, dada a recusa da Pixar em seguir caminhos óbvios, é quase chocante ver como algumas das cabeças mais criativas de Hollywood cederam a uma trama convencional e de apelo fácil junto ao público. Se uma coisa marcou a trajetória da Pixar até aqui – até Carros 2, vai – foi a convicção absoluta de seus realizadores. Muito se especulou se isso não seria uma imposição da Disney, que é dona do estúdio desde 2006. Não há como afirmar isso com certeza, mas que é estranho, é.

Se o filme não surpreende, tampouco ele é desprezível. O trabalho da equipe continua certeiro, em todos os aspectos. Os detalhes de ambientação e textura são um show para os olhos: repare nos cabelos de Merida e na decoração do castelo; a trama equilibra bem os diferentes registros, embora não aproveite todos os personagens a contento (o urso Mor’du não consegue ser um vilão marcante); e a trilha de Patrick Doyle é discreta e eficiente.

Mesmo que Valente (e, por extensão, Carros 2) não tenha o brilho das maiores obras da Pixar – Os IncríveisRataouille, Wall-E –, mesmo assim, eu me pergunto: e quantas mais chegaram a esse nível nos últimos anos? E mais: se um filme da Pixar não for uma obra-prima, isso o torna necessariamente um mau filme?

Não é Valente que vai silenciar as especulações sobre o futuro da empresa. Para mim, porém, a Pixar continua no topo.

Nota: 8,5

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Crítica: Chernobyl, de Bradley Parker


Por Diego Bauer

O ano é 1999. Um verdadeiro fenômeno da história recente do cinema era lançado ao mundo, fazendo milhões de dólares em bilheteria e alcançando um público gigantesco, o que de certa forma era bastante surpreendente, haja vista que o filme em questão foi orçado em aproximadamente 20 mil dólares.

A Bruxa de Blair (1999) fez realmente muito barulho, mas não apenas pelos números obtidos, mas pela forma escolhida para se contar essa história. Utilizando sempre a sugestão, o medo pelo desconhecido, e pelo que não sabemos exatamente o que é, e o filme é extremamente eficaz ao criar um denso clima de suspense, deixando de lado os sustos e os truques baixos dos filmes de terror convencionais, apostando na criatividade como principal arma para chegar ao telespectador.

Depois de algumas continuações muito mal sucedidas, e um bom tempo sem nenhum filme de terror empolgante, que lembrasse o estouro que foi A Bruxa de Blair, em 2007 novamente vimos algo semelhante. Um filme de baixo orçamento, apostando na proposta do documentira, e apenas na sugestão das situações de horror, obteve grande sucesso, e fez com que muita gente dormisse de luzes acesas.

Escrito e dirigido por Oren Peli, Atividade Paranormal (2007) obteve quase 200 milhões de dólares em bilheterias pelo mundo todo, e parecia que iria dar um novo fôlego ao gênero que, junto com as comédias românticas, era o que mais precisava se reinventar e buscar coisas novas.

Hoje sabemos que isso infelizmente não aconteceu.

E ver um filme como Chernobyl (2012) faz com que eu tenha a confirmação de que o gênero de terror é o que mais sofre com a falta de talento e conhecimento de técnicas cinematográficas, e que bons filmes do tipo são cada vez mais raros.

Sendo roteirizado e produzido por Peli, e com a direção do estreante Bradley Parker, o filme conta a história de um grupo de amigos que está fazendo uma viagem pela Europa, e acabam descobrindo algo chamado de turismo radical, e que nesse tour está incluída uma viagem a Chernobyl, cidade isolada devido ao acidente nuclear acontecido nos anos 80. Lá eles conhecem a cidade, visitam prédios abandonados, casas, praças, etc.. Ao voltarem ao carro, eles descobrem que ele foi destruído, e que terão que passar a noite no lugar. Mas logo eles percebem que não estão sozinhos na cidade, e terão que lutar pra sobreviver e escapar desse lugar habitado por pessoas afetadas pela radiação.

Logo nas primeiras cenas vemos imagens feitas pelos próprios personagens durante a viagem à Europa. Parecia que o filme iria novamente pra esse caminho do documentira, dos próprios atores filmarem os “acontecimentos reais”, mas logo na sequência, percebemos que aquilo foi uma espécie de drible, e que ele vai se desenvolver de maneira ficcional mesmo.

Os problemas são apresentados logo de cara. A câmera na mão incomoda as vezes, os planos são mal feitos, e alguns cortes são desnecessários, dando planos demais a cenas que não mereciam tanto. A cena em que eles saem da festa e encontram quatro rapazes que querem confusão é completamente desnecessária, sem nenhuma razão de existir.

E se parecia que a história iria engrenar após eles chegarem à cidade (e nesse ponto tenho que destacar as excelentes locações utilizadas), somos tirados do filme ao ver aquele urso feito em holografia, ou alguma tecnologia com poucos recursos, que é tão mal feito que fica muito difícil acreditar naquilo.

Mas com certeza o pior dos erros está nos clichês utilizados pelo filme, subestimando o público, e apostando no que há de mais óbvio.

O que, de longe, mais me incomodou foi a cretina trilha sonora. É impressionante como, nesse filme, a trilha é usada como uma muleta pra causar susto e apreensão na plateia, e mesmo assim é mal sucedida. 

Por que que entrou aquela exagerada trilha de suspense no momento em que o guarda conferia quem estava no carro? Aliás, por que a trilha estava presente em várias cenas da primeira metade, sendo que não havia nenhuma necessidade pra isso? E pra se ter noção de como ela tenta ser manipuladora, (mas acaba mais parecendo como feita por um cara que acabou de fazer um curso de duas horas sobre como criar uma atmosfera de tensão em filmes de terror), depois da morte de um dos personagens, é colocada uma trilha dramática forçando a barra para criar uma relação com a plateia. Dá pra acreditar?

E se isso não fosse o bastante, aqui também há o clichê supremo em filmes de terror: o do personagem medroso, que de uma hora pra outra vira machão, quer ir atrás do monstro com um pedaço de madeira para matá-lo, e acaba tomando as atitudes mais estúpidas possíveis. Fica muito difícil acreditar naqueles personagens com as atitudes que eles tomam.

E, infelizmente, o filme acaba ficando no meio do caminho da proposta do que foi A Bruxa de Blair e Atividade Paranormal. Ao mesmo tempo em que ele tenta, de certa forma, deixar indefinido o que é o inimigo, mostrando-os de maneira rápida, ou desfigurando os seus rostos para não vermos exatamente o que são, ele não é capaz de criar quase nenhuma tensão.

Com exceção da cena em que a câmera fica no carro, e observamos de longe dois deles serem atacados, e o momento em que eles tentam recuperar a arma que está num lugar com a presença de um dos agressores, o filme chega a ser chato, monótono, com problemas gravíssimos de ritmo, fazendo com que a plateia sinta muita coisa, menos medo e apreensão.

E com um final que é a cereja do bolo, Chernobyl consegue ter o que de pior existe nos filmes de terror.

Uma pena, pois a premissa era até interessante, e prometia bons momentos. Mas definitivamente não foi isso o que eu vi.

NOTA: 3,0

terça-feira, 24 de julho de 2012

Massacre em Aurora, o cinema e a ignorância

Por Caio Pimenta


O massacre em um cinema da cidadezinha de Aurora, subúrbio de Denver, nos Estados Unidos, traz à tona, mais uma vez, a superficialidade e demagogia para a discussão de assuntos mais sérios. Tudo para que o fato inconcebível se torne mais justificável e, assim sendo, possamos "entendê-lo" melhor.

Culpar o cinema de ação e os filmes 'violentos'  pela tragédia que vitimou 12 pessoas é sempre tão mais fácil do que analisar processos profundos de nossa sociedade, como a violência ser a primeira e não a última solução, a facilidade ao acesso às armas, o isolamento do homem moderno, a banalização da vida do próximo, o sistema educacional sendo uma local para se atingir metas em vez de formar cidadãos, entre outros fatores.

Infelizmente, parte deste processo, é alimentado por uma parte da mídia que, pelo sensacionalismo e apelo fácil do assunto, usam argumentos vazios e tolos para comentar o fato superficialmente. Um bom exemplo ocorreu aqui em Manaus mesmo. Ao terminar de ler a informação da tragédia na sexta (20), um radialista local começou a tecer comentários sobre os filmes de ação de Hollywood que, cheio de tiros e explosões, influenciavam jovens mundo afora a cometer estes atos, segundo ele.

Nos dias seguintes, mais e mais comentários em programas televisivos e redes sociais em que o tema vinha à tona e, vez por outra, lá eram os filmes de ação escolhidos como culpados pelo massacre não somente de Aurora, mas também de Columbine, Realengo e do Shopping Morumbi.

O raciocínio de que pessoas se sintam influenciadas a saírem por aí metralhando quem aparece pela frente após assistirem um filme violento não leva em conta que tal atitude é feita por um número inexpressivo de pessoas (uma ou duas) se comparadas a todos espectadores do longa (bilhões).

Por lógica estapafúrdia parecida, pode-se considerar as novelas culpadas pelo crescimento populacional do Brasil, afinal de contas, em todo final de folhetim, o elenco feminino inteiro fica gestante. Tudo para representar a felicidade e a união da família. Ou seja, pouca educação sexual, nem pensar.

Acreditar que o atirador tenha realmente se inspirado no Coringa, interpretado pelo ator Heath Ledger, é cair na lábia do sujeito. Um cidadão com os problemas psicológicos que o rapaz deve ter, somente precisa de uma desculpa para sair de si e realizar o ato que fez, pois, sendo si próprio, jamais o faria. Nada melhor, então, do que se transformar em um personagem e usá-lo como uma possível "desculpa".

Para completar, o desconhecimento perante a obra 'crucificada' é típico das pessoas que procuram a resposta fácil. "Batman" ainda tem a sorte de ser uma série extremamente conhecida e popular, principal "O Cavaleiro das Trevas", no qual justamente o Coringa é o vilão.

Porém, basta recordar o que aconteceu com "Clube da Luta" no Brasil em 1999 após o estudante de medicina Mateus da Costa Meira invadir a sala de exibição com uma metralhadora e matar três pessoas em um shopping paulista. Após a tragédia, o filme teve carreira curtíssima no mercado do país e foi lançado em home vídeo sem grande alarde. E olha que o filme era estrelado por Brad Pitt!

Até hoje, há quem abomine o longa e pense que o filme dirigido por David Fincher tenha influenciado o rapaz na decisão de cometer o crime por se tratar de uma obra que, segundo se supõe, estimule a violência. Com essa atitude de rejeição tola e equivocada, quem não parou para analisar e, ao mesmo, assistir ao longa, perdeu um clássico dos anos 90 com duros golpes à sociedade consumista e vazia da atualidade.

Evidente que o cinema é capaz de influenciar tantas pessoas mundo afora. Desde o uso dos cigarros pelos caubóis norte-americanos, passando pela rebeldia de James Dean e Marlon Brando a sensualidade de Marylin Monroe e Sharon Stone, a sétima arte mexe na vida e no estilo de milhões de pessoas.

Porém, um crime dessa magnitude faz parte de um contexto social muito maior, no qual o cinema é uma fração mínima. Respostas rápidas e tolas para perguntas complexas que uma tragédia dessas traz provoca uma incompreensão do fato maior, impedindo, dessa maneira, que novos massacres aconteçam.

Dessa maneira, as mortes de Gordon W. Cowden, Rebecca Ann Wingo, Jesse E. Childress, Alex M. Sullivan, John T. Larimer, Matthew R. McQuinn, Jonathan T. Blunk, Alexander C. Teves, Jessica N. Ghawi, Micayala C. Medek, Alexander J. Boik e Veronica Moser-Sullivan terão sido em vão.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Crítica: E Aí... Comeu?, de Felipe Joffily

Por Renildo Rodrigues



Homens comuns, numa mesa de bar, disparam suas considerações sobre as mulheres e a vida – nessa ordem.

Esse é o ponto de partida para E Aí... Comeu?, novo trabalho de Felipe Joffily, do mediano Muita Calma Nessa Hora (2010). A empreitada, baseada em uma peça do escritor Marcelo Rubens Paiva, não vai muito além, ainda que a comédia seja eficiente e tenha momentos realmente divertidos.

O principal problema é a falta de foco da produção. O filme se alterna entre a vida dos três protagonistas, suas longas conversas de bar, e esquetes cômicos desnecessários, que mais parecem ter saído de um Cilada da vida – não à toa, Bruno Mazzeo é um dos personagens principais. Ele vive Fernando, que se separou há pouco da namorada (Tainá Müller) e não se conforma com esse desfecho; seus companheiros de mesa são Honório (Marcos Palmeira), que tem maior tempo de tela e a história mais interessante, sobre as dificuldades de um casamento “amornado” com Leila (Dira Paes, ótima como sempre); e Fonsinho (Emilio Orciollo Netto), escritor frustrado que só consegue se relacionar com mulheres casadas e prostitutas.

São arquétipos, o que não chega a ser um problema, e as situações cômicas exploram bem as possibilidades dos personagens. Os diálogos são ao mesmo tempo o melhor e o pior do filme. Ágeis, eles dão uma boa dinâmica às conversas de bar, que, afinal, são a base de toda a história, e algumas das tiradas são deliciosamente vulgares. Mas a maioria acaba recaindo em velhos clichês batidos da relação homem-mulher. Uma pena, pois, nos bons momentos, eles revelam um diferencial do filme em relação à produção de comédias nacionais.

Se vocês ficaram desconfiados ao ver Bruno Mazzeo e lembraram do horroroso Cilada.com, podem ficar tranquilos: E Aí... Comeu? não é uma chanchada como o antecessor, e seu propósito não é a apelação para obter o riso a qualquer custo.

Mesmo as palavras sujas dos personagens se encaixam bem no contexto dos diálogos, e o filme não tem o menor medo de soar politicamente incorreto.

Ao fim e ao cabo, E Aí... Comeu? se encaixa numa tradição tipicamente masculina da comédia nacional, explorando de forma cômica os anseios e neuroses dos homens na sua relação com as mulheres. O mote é aproveitado aqui com bons resultados, mas acaba soando falho pela incapacidade da trama de resolver a contento seus diferentes registros.

Dá margem a boas expectativas para um próximo filme, porém...

Nota: 7,0