sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Estreias da Semana nos Cinemas de Manaus - 31 de Agosto


Filme: Os Mercenários 2
Direção: Simon West
Elenco: Jason Statham, Bruce Willis, Liam Hemsworth, Sylvester Stallone, Arnold Schwarzenegger, Jean-Claude Van Damme, Jet Li, Chuck Norris, Dolph Lundgren
Sinopse: A trama do novo longa começa com o brutal assassinato de Tool (vivido por Mickey Rourke no filme antecessor) em uma missão. Seus companheiros decidem então vingá-lo, mas também precisam resgatar a filha de Tool, que partiu na própria missão de vingança.
ONDE: Cinemark, Cinemais, Playarte e Severiano Ribeiro

Filme: Procura-se Um Amigo Para o Fim do Mundo
Direção: Lorene Scafaria
Elenco: Steve Carell, Nancy Carell, Keira Knightley, Adam Brody
Sinopse: Dodge (Steve Carell) foi abandonado pela esposa após descobrir que um meteoro se chocará com a Terra em um curto espaço de tempo. Decidido a recuperar o tempo perdido, ele sai numa viagem para encontrar uma namorada dos tempos de escola e acaba conhecendo Penny (Keira Knightley) no meio dessa confusa história.
Onde: Cinemark e Cinemais

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Crítica: "Rock of Ages", com Tom Cruise

Por Renildo Rodrigues


E o musical, quem diria, parece que voltou pra ficar.

O gênero, tão atacado pelo seu “superficialismo”, por mostrar pessoas que, de uma hora pra outra, saem por aí cantando e dançando como profissionais, às vezes inspirando uma alegria tão suspeita nestes tempos de fundamentalismo e violência, vem encontrando um público que, enfim, reconhece o óbvio: musicais são filmes onde se canta, dança e é alegre.

Espantoso é o fato de que esses mesmos detratores não achem “superficial” nem fora do comum o fato de que, nos filmes de ação, qualquer pé-rapado lute como Bruce Lee e saiba manejar facas e tanques.

Essas mesmíssimas pessoas admitem como “realistas” e “interessantes” filmes sobre carros de visual esdrúxulo fazendo manobras impossíveis, comoVelozes e Furiosos, e gente esguichando sangue, vômito e vísceras, como em qualquer filme de terror que se preze, ao passo que uma modesta valsa no Central Park ao luar (no maravilhoso A Roda da Fortuna, de Fred Astaire, lançado em 1953) “não aconteceria na vida real”.

Para aqueles que ignoram essa mentalidade tacanha, um bom programa é o musical Rock of Ages – O Filme, lançado recentemente nos cinemas de Manaus. O filme recria, com nostalgia e muito humor, a fase áurea do hard rock pomposo e purpurinado dos anos 1980.

Sherrie (Julianne Hough) é uma fã do estilo que larga a vida no interior do Kansas (EUA) para tentar a sorte em Hollywood. Ela conhece Drew (Diego Boneta), jovem com aspirações musicais que trabalha no famoso clube de rock Bourbon Room, administrado pelo doidão gente-boa Dennis (Alec Baldwin). Todos têm admiração irrestrita por aquele que se revela a verdadeira “alma” do filme: o músico Stacee Jaxx (Tom Cruise), vocalista confuso e chapado da fictícia banda Arsenal. Paralelo a isso, Patricia Whitmore (Catherine Zeta-Jones) lidera uma campanha para “limpar” a cidade da turma “decadente e corruptora” do hard rock, encarnada acima de tudo em Stacee e no clube Bourbon.

Vê-se por aí que a trama apoia-se em clichês e anedotas sobre o período. Stacee, por exemplo, é um carbono de Axl Rose, vocalista da banda Guns ‘n’ Roses: seus trejeitos ao microfone e a atitude fora do palco são idênticas às do astro em seu auge.

Já Catherine encarna Tipper Gore, mulher do hoje intocável político americano Al Gore, que na década de 80 criou a Parents Music Resource Center (PMRC), comitê responsável pela infame classificação etária dos discos lançados nos Estados Unidos.

Tenho visto, em outras resenhas, muitas críticas à batida história de amor entre Sherrie e Drew. Elas procedem, mas penso que os méritos de Rock of Ages, como em qualquer outro musical, estão muito mais nos seus números de canto e dança do que na trama.

O já citado A Roda da Fortuna, por exemplo, tinha um fiapo ainda mais tolo de história, e mesmo assim está entre as obras-primas de Astaire e do cinema americano. Não que este filme possa ser comparado àquele, mas é no aspecto musical que Rock of Ages se afirma com uma das produções mais divertidas e agradáveis lançadas em 2012.

Quem mais surpreende é Tom Cruise. Seu Stacee Jaxx é denso e sensual, e o ator, talvez tentando reverter a maré de antipatia em torno de suas esquisitices religiosas, se arrisca como não o víamos fazer desde Magnólia (1999). Seus números musicais, em cima de canções famosas do Guns e de Bon Jovi, são interpretados com garra, apesar da voz pequena. Também merece destaque o hilário dueto com Malin Akerman, de Watchmen (2009).

Pouca voz não é um problema para Julianne Hough. Vinda do programa Dancing with the Stars, que venceu duas vezes, Julianne tem frescor, simpatia e charme de sobra no papel da ingênua Sherrie. Só não deve agradar aos roqueiros mais xiitas, que vão achar suas interpretações de “Waiting for a Girl Like You” (Foreigner), em dueto com Boneta, e “More Than Words” (Extreme) mais adequadas a Glee do que a um musical sobre rock.

Seu parceiro, o estreante Diego Boneta, tem maior “pegada” roqueira, embora não muito. Vale prestar atenção na hilária sequência em que, tentando emplacar uma carreira musical, seu personagem aceita virar membro de uma boy-band ao estilo New Kids on the Block.

Completando o elenco principal, Alec Baldwin e Catherine Zeta-Jones aparentam estar se divertindo muito em seus papéis. Ele, que tem dificuldades nos números musicais, ao menos esbanja carisma e é responsável pela cena mais engraçada do filme, um dueto com o comediante Russell Brand (“Can’t Fight This Feeling”, do REO Speedwagon), o qual vive Lonny, seu sócio na administração do Bourbon Room. Ela capricha na interpretação histérica,over-the-top, mas o diretor Adam Shankman pouco aproveita os dotes de dançarina mostrados em obras como Chicago.

Com tudo isso, Rock of Ages é uma introdução divertida e sem muitas pretensões a esse período festivo do rock. Em vez de sacrificar as canções à estética do seriado Glee (ainda que o filme tenha boa parte da equipe do programa nos créditos), como muito tem se alardeado por aí, vejo-o mais como uma forma de apresentá-las à geração atual, especialmente a que tem esse seriado como referência. Se isso não acontecer, resta pelo menos um pequeno e divertido musical para nos entreter durante duas horas na televisão ou no aparelho de DVD.

P.S.: E alguns minutos da voz divina de Mary J. Blige, em participação especial como dona de um clube de strip, não fazem mal algum.

Nota: 7,5

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Crítica: "O Ditador", com Sacha Baron Cohen

Por Diego Bauer


Em 2006, Sacha Baron Cohen era um ator quase desconhecido, a não ser para quem já havia assistido o seu promissor debute em Ali G Indahouse (2002). E o fato dele ser um quase anônimo foi importante para que o seu próximo projeto fosse desenvolvido da maneira mais adequada, e conseguisse alcançar o sucesso esperado. É claro que estamos falando do fantástico Borat (2006), comédia que lançou Cohen para o estrelato e fez com que ele se tornasse um dos atores mais comentados da época.

Depois disso, a carreira do ator teve altos baixos, como o decepcionante Bruno (2009), mas também boas participações em Sweeney Todd (2007) e A Invenção de Hugo Cabret (2011).

Os fãs estavam ansiosos para ver qual seria o próximo filme protagonizado pelo ator, e se ele seguiria o mesmo estilo ousado de Borat.

Pode-se dizer que sim, que O Ditador permanece na mesma linha do longa anterior, e mesmo apresentando falhas, se mostra como um bom passo adiante na carreira de seu protagonista.

Dirigido por Larry Charles, também diretor de Borat e Bruno, o filme conta a história do general Aladeen (Sacha Baron Cohen), líder da Wadiya, que comanda o seu país de forma excêntrica e autoritária. Ele é convocado a comparecer às Nações Unidas pressionado pela maneira que conduz o seu país. Logo que chega em Nova York, ele é traído por Tamir (Ben Kingsley), e vê um sósia assumir a sua identidade. Perdido numa cidade desconhecida, ele é ajudado pela ativista Zoey (Anna Faris), e depois busca reaver o seu cargo com a ajuda de Nadal (Jason Mantsouskas).

Logo de cara percebemos que o filme não tem nenhum tipo de pudor com piadas pesadas, ou de tom politicamente incorreto, quando vemos no início uma mensagem que diz que o filme é dedicado a Kim Jong-il, ditador da Coreia do Norte.

Além disso, piadas com o autoritarismo patético de Aladeen, que dentre outras coisas, decide eliminar todas as pessoas que não concordam com ele, ou quando decide mudar palavras do alfabeto pelo seu próprio nome (gerando uma das melhores piadas do filme, quando o médico vai dizer ao paciente se ele tem ou não aids), citações a ditadores da vida real, ou quando ele ironiza a questão dos muçulmanos com o terrorismo, na cena em que Aladeen e Nadal estão em um helicóptero com mais dois passageiros americanos, e eles morrem de medo de eles serem homens-bomba são momentos em que o filme mais cresce.

Embora seja natural sentir uma espécie de culpa por achar todas essas situações engraçadas, isso é algo digno de elogios, pois se o filme manteve durante toda a sua projeção piadas de tons racistas, antissemitas, machistas, debochando de uma série de temas relacionados aos direitos humanos, tudo isso foi feito numa brilhante forma de criticar esses assuntos, mostrando, através de situações absurdas, que eles ainda são vistos de uma maneira assustadora e incrivelmente mal informada em várias partes do mundo.

E se rimos desses absurdos, se em vez de acharmos Aladeen cruel e impiedoso achamos graça de suas excentricidades, isso se deve quase que exclusivamente ao talento de Cohen. É um trabalho de ator tão rico, tão detalhado, tão maior que qualquer piada, que fica claro quehouve uma pesquisa minuciosa para desenvolver uma personagem. É algo muito maior do que “colocar uma peruca e fazer graça”. E, além disso, note que Cohen consegue desenvolver dois personagens de forma distinta, cada um com suas peculiaridades, e ambos verdadeiramente engraçados.

Mas mesmo que o filme tenha momentos hilários, e consiga desenvolver uma história competente, que prende a atenção da plateia, bate uma sensação de repetição de piadas, que chega a incomodar na metade para o final do filme, quando fica nítido que há uma perda de fôlego e um constante mais do mesmo.
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PRÓXIMO PARÁGRAFO COM SPOILER

Porém esse problema chega a ser pequeno, perto da imperdoável cena que quase pôs todo o filme a perder, que é a ocasião em que Aladeen diz que está apaixonado por Zoey no meio da assinatura do contrato com a ONU. Esse momento é o tipo de coisa mais clichê, óbvia, previsível e manipuladora que as comédias românticas podem fazer, e é realmente uma pena ver que até neste filme isso também está presente. Algo completamente inexplicável, que depõe totalmente contra o que acabamos de ver, e que deixa uma mancha num desfecho que poderia ser infinitamente melhor.
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Mesmo com tudo isso, o saldo de O Ditador é positivo, e se não vemos algo do mesmo nível de Borat, ainda assim é um filme que diverte e que tem momentos dignos de gargalhadas e vários risos culpados.

NOTA: 7,5

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Estreias da Semana nos Cinemas de Manaus - 24 de Agosto


Filme: O Ditador
Direção: Larry Charles
Elenco: Megan Fox, Sacha Baron Cohen, Anna Faris, John C. Reilly, Ben Kingsley
Sinopse: Comédia sobre um ditador árabe (Sacha Baron Cohen) que tenta fazer de tudo para que a democracia não chegue ao seu país. Durante uma reunião da ONU, nos Estados Unidos, ele conhece um sósia e acaba se apaixonando pela dona de uma loja de alimentos.
Onde: Cinemark, Cinemais e Severiano Ribeiro

Filme: Rock of Ages: O Filme
Direção: Adam Shankman
Elenco: Tom Cruise, Malin Akerman, Bryan Cranston, Catherine Zeta-Jones, Alec Baldwin, Paul Giamatti
Sinopse: Em 1987, na cidade de Los Angeles, Drew (Diego Boneta) e Sherrie (Julianne Hough) buscam seus sonhos na cidade grande. Um amor à primeira vista surge quando os dois se encontram no Sunset Strip em Hollywood, mas o arrogante e veterano roqueiro Stacee Jaxx (Tom Cruise) também quer conquistar a garota.
Onde: Cinemark e Cinemais

Filme: A Casa Silenciosa
Direção: Chris Kentis, Laura Lau
Elenco: Elizabeth Olsen, Adam Trese, Eric Sheffer Stevens
Sinopse: A jovem Sarah (Elizabeth Olsen) está presa em uma antiga casa de campo da família. Ela, seu pai John (Adam Trese) e seu tio Peter (Eric Sheffer Stevens) estão reformando o imóvel para colocar à venda. Quando os dois homens entram em uma discussão, Peter resolve descansar e ir até a cidade, deixando Sarah e seu pai sozinhos na casa. Aos poucos, a jovem começa a perder o contato com o mundo exterior, aterrorizada por acontecimentos estranhos.
Onde: Cinemark, Cinemais e Playarte

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Crítica: "360", de Fernando Meirelles

Por Diego Bauer


Quantos diretores podem dizer que fizeram um filme genial, uma obra-prima? Quantos podem dizer que fizeram um filme que vai ficar marcado, aconteça o que acontecer, na história do seu país, e quem sabe até na história do cinema?

Fernando Meirelles pode. E essa certamente é a sua maior dádiva, ao mesmo tempo que é sua maior ruína, pois ter feito Cidade de Deus (2002) logo no início da sua filmografia é algo que pode ter atrapalhado, e muito, a sequência da carreira do diretor.

É evidente que Meirelles é um bom cineasta. E também que O Jardineiro Fiel (2005) e Ensaio Sobre A Cegueira (2008) são dois bons filmes, com altos e baixos é verdade, mas que possuem momentos realmente brilhantes. O “problema” é que Cidade de Deus é (bem) melhor, e isso sempre acaba eclipsando os novos trabalhos do diretor, que infelizmente parece não ter competência para fazer um novo filme que termine com essas comparações de uma vez por todas.

360 é mais um exemplo disso.

Escrito por Peter Morgan (A Rainha; Frost/Nixon), o filme conta a história de várias pessoas, em diferentes cidades pelo mundo. Conhecemos Mirka (Lucia Siposová), uma mulher que começa a se aventurar na vida de garota de programa, e que logo de cara tem como cliente Michael (Jude Law), um executivo que, mesmo parecendo amar sua esposa, Rose (Rachel Weisz), aparenta estar infeliz. Ao mesmo tempo, ela o trai com Rui (Juliano Cazarré) há um certo tempo, mas parece querer terminar o caso, que acaba sendo descoberto por Laura (Maria Flor), namorada de Rui, que ao descobrir que estava sendo traída, decide voltar ao Brasil. No caminho de volta, ela encontra um homem solitário (Anthony Hopkins) que teve a filha desaparecida há alguns anos, e que estava viajando para reconhecer o corpo de uma jovem que poderia ser a sua filha. No aeroporto, Laura encontra Tyler (Ben Foster), um homem recém-saído da prisão, que busca se reabilitar de uma psicopatia sexual. Ainda conhecemos um dentista (Jamel Debbouze) que é apaixonado por sua secretária (Dinara Drukarova), mas se sente culpado por isso pelo fato de ela ser casada com Sergei (Vladimir Vdovichenkov), um homem que trabalha para um mafioso, que em determinado dia decide contratar os serviços de Mirka.

Ao contrário do que acontece em filmes como Magnólia (1999) e Crash – No Limite (2004), em que diferentes histórias se cruzam de maneira orgânica, em 360 a impressão que fica é a de que a inter-relação desses casos acontece de forma sutil até demais, parecendo que estamos vendo uma série de histórias independentes, que pouco interferem no rumo uma da outra. As exceções disso são os cruzamentos de Laura com os personagens de Anthony Hopkins e Ben Foster, e também o de Mirka com Sergei.

Além disso, o filme pretende fazer uma espécie de relação com o acaso, insinuando que ele é parte importante da história. Mas essa relação é mal desenvolvida, acaba ficando pela metade do caminho, e é quase totalmente esquecida do meio para o final do filme.

Mas, sem dúvida, o principal problema é o desnível existente entre as histórias, e a ordem em que elas são estabelecidas. A relação entre o dentista e Valentina é bem desinteressante, chata mesmo; Rose quase não tem função no filme, sua trama com Rui é fraca e mal desenvolvida, e Weisz mais parece uma coadjuvante de luxo, que quase não aparece no filme; e logo no início, quando começamos a nos interessar pelo que vai acontecer com Michael, a história é cortada, e volta muito tempo depois, fazendo com que quase nos esqueçamos do personagem.

Outro problema é uma queda grave de ritmo que começa depois do depoimento de Hopkins, e vai quase até o final do filme, em que uma série de tramas e momentos desinteresses (alguns bem chatos) tomam a tela, levando o filme para lugar nenhum, brecando o desenrolar de núcleos que funcionavam e faziam a história fluir.

Mas o filme não é um desastre, pois tem momentos muito bons. O responsável pela melhor trama do filme, e pelos momentos em que o longa mais cresce, é Ben Foster. É nítido um trabalho de ator que mergulha na alma da personagem, e que busca detalhadamente encontrar todas as motivações psicológicas e físicas daquele homem, em que cada olhar, cada toque, cada movimento de corpo significa muita coisa.

Também é digno de elogios o trabalho de Anthony Hopkins, que traz muita dignidade ao seu personagem, e faz com que compreendamos todo o seu sentimento de forma sutil e verdadeira, na melhor cena do filme, em que ele dá um depoimento sobre como o seu encontro com Laura mudou a sua forma de pensar.

E já que ela foi citada, é bom ressaltar o bom trabalho de Maria Flor, que mesmo sendo estreante em longas internacionais, desenvolve de forma madura uma personagem importante para o filme. Também não se pode deixar de citar Lucia Siposová, que faz de Mirka uma personagem que cresce bastante na história, sempre com conflitos bem interessantes e densos, desenvolvendo talvez a trama mais surpreendente do filme.

E já que se trata de um filme de Fernando Meirelles, tenho que dizer que, por mais contraditório que isso possa parecer, é nítido que o diretor amadureceu bastante desde os tempos de Cidade de Deus. Um exemplo claro disso é o início de 360, que é realmente muito bom. Percebe-se ali um diretor maduro, com pleno conhecimento da técnica cinematográfica, que sabe que, em filmes como esses, menos é mais. 

Se compararmos o momento atual do diretor em relação ao que era nos tempos de Cidade de Deus, que boa parte é filmado com câmera na mão, em um ritmo mais acelerado, com transições estilosas numa linguagem mais pop, fica claro que o diretor se tornou mais “responsável”, deixando os seus filmes mais “limpos”, optando por uma direção mais sóbria. Isso quer dizer que ele é melhor diretor do que era?

Sim e não. A tal da “irresponsabilidade” pode ser considerada como um dos principais motivos de Cidade de Deus ser o que é, e ao mesmo tempo, dizer que Meirelles não evoluiu como diretor é injusto e inadequado, pois seus filmes subsequentes demonstram isso, embora não apresentem uma unidade satisfatória.

Mas o que importa é que ao término do filme, bate a sensação de que realmente seria muito bom se 360 fosse um grande filme.

Infelizmente não é.

NOTA: 6,5

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Crítica - 'O Vingador do Futuro', com Colin Farrell

Por Renildo Junior


Nas entrevistas com a imprensa brasileira para a divulgação de O Vingador do Futuro, Colin Farrell pareceu sempre um pouco reticente, alheio – mais interessado em discutir a influência das favelas cariocas sobre a concepção visual do filme do que em promover suas virtudes.

A postura do ator é significativa: há pouco o que se promover aqui. O Vingador do Futuro é apenas um grande amontoado de perseguições, tiros, frases de efeito – e só. Pouco lembra o filme de Paul Verhoeven (de 1990) em que foi baseado, mesmo sendo os mesmos personagens e quase a mesma história. O conto de Philip K. Dick que inspirou a trama, então – esse deve estar em algum lugar da Zona Sem Zonas do filme.

A premissa, vá lá, é bacana: após décadas de desastrosas guerras químicas, a Terra é um planeta devastado, resumido a uma Federação Britânica (a Europa), onde moram os ricos e privilegiados, e uma Colônia (a Austrália), onde se amontoa o resto da humanidade. Douglas Quaid (Farrell) é um operário da Colônia que começa a se questionar sobre a inutilidade da sua rotina. Angustiado, ele procura a Rekall, uma empresa que vende memórias artificiais, onde a pessoa pode ser tudo o que ela deseja. O problema acontece quando Douglas pede para ser um agente secreto e descobre que ele já foi um agente de verdade – e alguém em quem o governo da Federação quer pôr as mãos a todo custo.

No filme de Verhoeven, essa proposta rendeu um cult da ficção científica, um filme de visual extravagante e cheio de humor, e que de quebra trazia reflexões pertinentes sobre a sua época – o tema da confusão entre o virtual e o real, por exemplo, antecipa em nove anos a série Matrix. Mas, no trabalho do diretor Len Wiseman (série Anjos da NoiteDuro de Matar 4), tudo isso se perdeu.

O novo Vingador deixa de lado as sutilezas (e olha que o filme de Verhoeven era acelerado e sangrento) e parte para a ação pura e simples. Nenhum personagem, em nenhum momento da história, é desenvolvido a ponto de gerar alguma empatia; nenhum sentimento genuíno surge do frenesi e da correria das cenas; e nenhuma ideia, no decorrer da trama, é original ou minimamente marcante.

Na verdade, esse Vingador é apenas uma colcha de retalhos de outros filmes de ficção científica: lá está a cidade sinistra de Blade Runner, os soldados de Star Wars; os carros e andróides de Eu, Robô; e a mulher de três peitos do Vingador original.

Colin Farrell sustenta o trabalho com seu carisma infalível (e carisma é tudo o que ele pode oferecer aqui), e Bryan Cranston (do seriado Breaking Bad) convence como o vilão Cohaagen, apesar de algumas falas ridículas. Mas Kate Beckinsale, que é esposa de Wiseman, apenas reprisa as caras e bocas de sua personagem em Anjos da Noite, e Jessica Biel, bem, continua sendo Jessica Biel. Mas o maior problema é mesmo o roteiro, a cargo de Kurt Wimmer e Mark Bomback.

É uma sucessão de diálogos crassos e situações absurdas. Quando Colin ri, na cena em que seu personagem senta e toca piano, em meio à matança e às perseguições, seu espanto está mais no nonsense da cena do que na descoberta feita por Douglas. E por que cargas d’água Melina (Biel), que até então havia sido cautelosa em cada passo seu dado no filme, resolve se arriscar só para dar um tiro em Lori (Beckinsale) por esta ter mexido nos brios de sua relação com Douglas?

Tá bom, talvez eu esteja pegando pesado com um filme que se propõe apenas a ser um thriller eficiente e divertido. Mas, para mim, diante de filmes como os já citados MatrixBlade Runner e do próprio Vingador original, sem falar de um exemplo presente e gritante como Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge, que são filmes de ação eletrizantes ao mesmo tempo em que trazem ideias originais e questões intrigantes, estacionar nesse saldo, e ainda com a premissa lá de cima, é uma grande decepção.

Cabe dizer, apesar de tudo, que O Vingador do Futuro é, sim, um filme de ação bastante divertido e que tem efeitos visuais espetaculares, como o provam as cenas da cidade e a perseguição nos elevadores. Mas eu insisto: poderia ser muito mais.

Nota: 7,0

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Tony Scott (1944-2012)

Por Caio Pimenta


Gênio ele não era, porém, passava longe de ser ruim e, muito menos, de ser um nome sem importância no mercado cinematográfico.

Tony Scott era daqueles não muitos conhecidos do grande público e que a crítica especializada insistia em não reconhecer seus méritos por ser diretor de longas de um gênero pouco inovador e visto como alienante: os filmes de ação.

Para piorar, ainda tinha um irmão também cineasta (Ridley Scott) com obras mais clássicas ("Blade Runner", "Alien", "Thelma e Louise", "Gladiador") e um nome mais forte e conhecido tanto no mercado quanto entre o público e crítica.

Mas, como ignorar alguém que tem no currículo "Fome de Viver", "Top Gun", "Dias de Trovão", "Maré Vermelha", "Inimigos do Estado", "Jogos de Espiões", "Déja Vu"? Aposto que, pelo menos, um desses você deve ter visto e gostado.

Podem não ser clássicos, é verdade, mas são filmes que conseguem realizar exatamente aquilo que se propõem: colocar você em tensão constante, com ótimas cenas de ação, utilizando de maneira clara e nada confusa o que recursos técnicos disponíveis em Hollywood tem de melhor e nos fazer sair satisfeitos da sala de exibição.

E, ora, o que é mesmo o cinema de ação hollywoodiano senão isso citado acima?

A perda de Tony Scott é um duro golpe a um gênero tão maltratado por tantos diretores picaretas da atualidade.

Que a inteligência e riqueza de seus trabalhos ecoem muito mais que tudo feito por Michaels Bays da vida!

Anthony David "Tony" Scott
(21/06/1944 - 19/08/2012)

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Crítica: A Delicadeza do Amor, com Audrey Tautou

Por Diego Bauer


- O que você gosta de fazer? Gosta de cinema?
- Ah, sim, acompanho bastante!
- Sério? Poxa, não sabia.
- É, gosto muito de ir ao cinema. Adoro comédias românticas.

Ver uma conversa dessas hoje em dia é bastante comum, e pra quem costuma ter o cinema como uma atividade que vai além do simples entretenimento, um diálogo desses faria com que automaticamente formássemos uma série de opiniões sobre a segunda pessoa, que diz adorar comédias românticas.

Claro que com a enxurrada desses filmes descartáveis (ou ruins mesmo) que foram lançados nos últimos dez anos, é natural que tal pessoa perca muita credibilidade quando for falar sobre cinema, pois de uns tempos pra cá, acabou se formando um “senso comum cult” que praticamente abomina as comédias românticas.

O que é uma pena, pois o gênero é muito interessante, haja vista o genial trabalho de Woody Allen, que com clássicos como Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977), Manhattan (1979), Todos Dizem Eu Te Amo (1996), Vicky Cristina Barcelona (2008) e Meia-Noite em Paris (2011) (apenas para citar alguns filmes) mostrou como é possível fazer um trabalho de extrema qualidade, e que a pieguice é algo que, definitivamente, não precisa fazer parte do processo.

E foi com um sentimento de satisfação que eu deixei a sala de cinema após assistir A Delicadeza do Amor, pois saí com a nítida impressão que, após tanto tempo, finalmente acabara de ver uma comédia romântica de qualidade.

Dirigido pelos estreantes em longa metragens, David e Stéphane Foenkinos, o filme conta a história de Nathalie (Audrey Tautou), uma mulher que vive um feliz casamento com François (Pio Marmai). Ambos estão apaixonados e parecem que foram feitos uma para o outro. Porém, depois de algum tempo casados, François sofre um acidente e morre. Nathalie fica de luto pela morte do marido, e não consegue se relacionar com outros homens durante bastante tempo. Até que num dia ela conhece Markus (François Damiens) e tasca-lhe um beijo, sem nenhum motivo. Depois disso acompanhamos a curiosa relação dos dois, que sofre com o preconceito das pessoas próximas, pelo fato de Markus ser considerado pobre, feio e inadequado para a bela Nathalie.

Logo de cara, o filme se mostra bastante competente ao mostrar com maturidade, sem nenhum tipo de afetação, todo o momento que envolve a dor sofrida por Nathalie pela morte de seu marido. O não saber o que fazer, o sentimento de dúvida, misturado com saudade e ódio é mostrado de forma sóbria e adulta, como na cena em que ela pega o celular, e fica em dúvida se apaga ou não o nome de François. Ou também quando, em conversa com uma amiga, pede para que as pessoas passem a agir normalmente com ela.

Demonstrando essa consciência com a parte dramática da história, o filme ganha, e muito, ao não ter receio em se aprofundar nesses momentos sérios, algo que algumas comédias procuram se esquivar, apenas pelo fato de serem comédias, e que por isso devam apenas fazer as pessoas rirem. Aqui esses momentos são desenvolvidos da maneira certa, e possuem função importante para o desenvolvimento das personagens.

Mas o ponto mais forte do filme é sem dúvida a interessante relação, e a surpreendente química, que acontece entre Nathalie e Markus. Aparentando sempre um ar de ingenuidade e inocência, é muito fácil criar uma simpatia quase que imediata por Markus. Sendo o responsável por praticamente todos os momentos cômicos do filme, o grandalhão desengonçado de Damiens mais parece um adolescente apaixonado, o que faz com que a relação dos dois se torne bonitinha demais de se ver, no melhor sentido que essa frase possa parecer. Como na cena em que ele diz que quer se proteger dela, ou quando, logo após o beijo, ele passa a imaginar o que ela está fazendo.

Bom também é o trabalho de Tautou, que traz charme, delicadeza, mas ao mesmo tempo uma personalidade forte a sua personagem, que consegue tornar plausíveis as contradições que Nathalie está vivendo.

E se o filme se mostra eficiente nos momentos cômicos, também é eficaz ao abordar a maneira como as pessoas reagiam à relação dos dois. Sem tentar ser bonitinho, ou tentando fazer com que tenhamos pena de Markus, o longa aborda de forma interessante o preconceito das pessoas ao verem um casal que julgam ser “estranho”, apenas por ter uma moça rica e bela com uma rapaz pobre e feio. Ao abordar o fato de maneira equilibrada, o filme consegue fazer a audiência se questionar sem precisar de mensagens bonitinhas ou trilha sonora emotiva.

O belo final (algo cada vez mais raro em filmes do gênero) coroa um trabalho sensível, que ao mesmo tempo diverte e emociona.

Se tivesse que definir o filme em uma frase, diria: Isso sim é que é comédia romântica de verdade.

NOTA: 8,0