sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Crítica - PRECIOSA

Em determinado momento de Preciosa, admito que pensei o seguinte:

- Porra! É muita desgraça junto! Não é possível que alguém sofra tanto como essa menina!

Indicado a seis Oscar, entre eles o de melhor filme, Preciosa conta a difícil história da personagem-título: estuprada pelo pai, com qual já tem uma filha com síndrome de Down e a espera do segundo, Claireece Jones Precious é agredida verbal e fisicamente pela mãe, com quem divide um pequeno apartamento em Nova York. Para piorar a situação, ela ainda é humilhada pelos vizinhos pelo excesso de peso e mal sabe ler e escrever. Tudo isso aos catorze anos. A única forma de escapar desse inferno é através da imaginação fértil que Preciosa possui. É a partir da entrada dela em uma escola especial para adolescentes problemáticos que o panorama começa a mudar.

Longe de suavizar a história, o diretor Lee Daniels consegue mostrar as monstruosidades vividas pelas personagens da história de um forma crua, o que torna tudo ainda mais chocante. As motivações,os desejos (ou a falta deles), as vitórias e frustrações das duas protagonistas da trama são exploradas com grande complexidade pelo roteiro de Geoffrey Fletcher, baseado no livro "Push" de Sapphire.

Além disso, a fotografia do filme contrasta tons sufocantes para ilustrar a relação entre mãe e filha (reparem nas cenas passadas na casa das duas) com tons mais claros nos momentos em que a sorte parece mudar para Precious. Destaque também para a montagem ágil e o som do filme.

Falar de Preciosa é, acima de tudo, destacar o trabalho de Gabourey Sibide e Mo´Nique, as protagonistas do filme.

Gabourey Sibide

Estreando no cinema, Gabourey faz uma atuação que muitas atrizes veteranas cheias da grana esperam um dia fazer na vida: evitando fazer uma coitadinha que passa o tempo todo lamentando a dura e trágica vida que leva, Gabourey torna Precious uma pessoa com atitude, capaz de desafiar quem que seja, mas,também, solitária, sem muitos amigos e desanimada com o que o futuro parece lhe reservar. Chamam a atenção o olhar da menina que nos diz tudo sobre a personagem e a naturalidade da narração que conduz a história.

Já a favorita ao Oscar de atriz coadjuvante, Mo´Nique faz um dos personagens mais repugnantes produzidos pelo cinema americano nos últimos anos: completamente amargurada, o ódio que ela trasmite por tudo que acerca a torna incapz de um ter um diálogo minimamente educado com alguma pessoa. Com o passar do filme, vamos descobrindo o que provocou tudo aquilo e, ao mesmo tempo, que compreendemos a razão de todo aquele comportamento, é impossível não perceber uma pessoa ciumenta, possessiva e doentia, a ponto de permitir o ato imperdóavel revelado na parte final, em uma cena que é clássica desde o começo.

Mo´Nique

Se você for assistir Preciosa é melhor se preparar, pois é um filme difícil e que nos deixa com uma pergunta que, infelizmente, sabemos a resposta: quantas Claireece Jones Precious existem perto de nós e nada fazemos por elas?

NOTA:8,0

Por Caio Pimenta
Diretor-Geral do SET UFAM

Um comentário:

  1. Não que Preciosa mereça um 10, mas ao ler a sua crítica concordei com tudo o que disse,mas não concordo com a nota 8 que foi dada ao filme. Digo isso pelo quilate das interpretações das suas protagonistas. Gabourey Sibide mostra uma maturidade surpreendente para uma atriz inexperiente e Mo'Nique está sensacional como uma vilã que há muito tempo não via. Não consigo pensar em uma nota menor que nove. Mas respeito a sua crítica

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