domingo, 17 de julho de 2011

Crítica - Harry Porter e as Relíquias da Morte - Parte 2

Por Caio Pimenta
 
Os cinemas do mundo inteiro esperavam o fim da saga “Harry Porter” desde 2001, quando foi lançado o primeiro filme.

Não porque a série fosse ruim, mas o frisson causado pela história do bruxinho que possui milhões de fãs fiéis já era sinônimo de um sucesso gigantesco de bilheteria.

Bem, o último filme da saga está faturando alto (ainda mais com o lançamento em 3D, o que potencializa o faturamento com seus ingressos mais caros), fãs formam filas quilométricas para assistir o longa e não se tem outro tema quando o assunto é o mundo Pop.

Porém, será que depois de tanta expectativa pelo último filme da série, pode-se dizer que “Harry Porter e as Relíquias da Morte – Parte II” corresponde o frisson causado?

  A resposta não é simples.

Isso porque este filme de encerramento traz tudo o que a saga de Harry Porter nos cinemas teve de bom e ruim, transformando a experiência em algo coerente com a história já nos apresentada, mas sem nada novo para quem queria ser surpreendido.

O filme começa exatamente do ponto final de “Relíquias I” com Lorde Voldemort (Ralph Fiennes) violando o túmulo de Dumblodore e roubando a varinha mais poderosa do mundo mágico. Já Harry (Daniel Radcliffe), Hermione (Emma Watson) e Ron (Rupert Grint), mesmo abalados com a morte de Dobby, continuam na caçada para encontrar as Horcruxs, capazes de enfraquecer o Senhor das Trevas para matá-lo. Paralamente a isso, Hogwarts está cada vez mais retrógrada e sombria sob o comando de Severo Snape (Alan Rickman). 

Esse é o campo em que se desenrola os dramas desse último filme da série e revelar mais do que isso seria estragar as surpresas que a história reserva.

“Harry Porter e as Relíquias da Morte – Parte II” deve boa parte de seu sucesso ao elenco excepcional que conseguiu tornar aqueles personagens tão importantes e valorosos para os espectadores durante tanto tempo. 

Observar o amadurecimento da atuação de Daniel Radcliffe, capaz de transformar Harry Porter em um sujeito complexo, sempre tenso e com um ar melancólico por carregar tamanho fardo mesmo sendo tão jovem, é digno de aplausos. Isso para não falar de Emma Watson e Rupert Grint, dois excelentes atores que, se nos primeiros filmes abusavam das caretas para expressar todos os sentimentos possíveis, conseguiram nos conquistar com atuações seguras nos últimos quatro filmes da série.

Talvez, o crescimento deles tenha sido facilitado por ter ao lado o elenco coadjuvante que a série “Harry Porter” teve durante esses oito filmes: não é todo dia que você pode contar com gente do naipe de Gary Oldman, Jim Broadbent, Emma Thompson e Maggie Smith (maravilhosa neste último filme com momentos de coragem e bom humor que nos faz torcer e dar ainda mais valor para a professora Minerva McGonagall) para se inspirar.

 Antes que você esteja me crucificando, não, eu não vou esquecer Alan Rickman.

Intérprete do professor Severus Snape, melhor personagem de toda saga, o britânico sempre que entrava em cena nos deixava confuso: seria este homem um crápula digno de morrer da forma mais cruel possível por todas as suas maldades ou uma pessoa boa, na qual Harry e seus amigos poderiam confiar, mas que esconde algo grave no seu passado, fazendo o agir de maneira dúbia?

As revelações trazidas em “Relíquias da Morte – Parte II” mostram o quanto Rickman foi sensacional em seu trabalho na saga.

Com uma interpretação tão cuidadosa e cheia de detalhes (reparem na entonação assustadora dele durante uma reunião com os alunos de Hogwarts ainda no primeiro ato) não custaria nada a Academia de Hollywood dar a ele uma indicação na categoria de melhor ator coadjuvante no OSCAR 2012

Como todo grande blockbuster hollywoodiano, os efeitos especiais de “Relíquias II” são um show a parte. A batalha em Hogwarts travada entre os seguidores de Voldemort e os amigos de Harry Porter é muito bem construída, dando a dimensão ideal da grandiosidade que aquele confronto significa.

Ver o herói com seus fiéis escudeiros fugindo dos ataques da tropa do Lorde das Trevas em câmera lenta e perceber que a escola, antes colorida e cheia de vida, virou um palco de destruição e morte, com apenas o fogo das explosões para iluminar o local, é impressionante.

Vilões e Clímax – “Dores de cabeça” de Harry Porter

Foram oito filmes em dez anos.
Quatro diretores passaram pelo comando da série.
Ao todo, 1.166 minutos de filme, o que corresponde a 19,4 horas.

Mesmo com todo esse tempo, a saga de Harry Porter foi incapaz de tornar Lorde Voldemort em um vilão capaz de assustar uma mísera garotinha de 5 anos de idade.

Os primeiros filmes da série apostaram em fazer da ameaça do Senhor das Trevas mais impactante do que mostrar o personagem de carne e osso, uma decisão acertada já que a série tinha um aspecto mais infantil, o que poderia afastar esse público com uma figura de aparência assustadora. 

Logo em seguida, a escolha de Ralph Fiennes, um dos atores mais competentes de sua geração, fazia parecer que seria criado um dos melhores vilões já vistos na telona.

Porém, a medida que Voldemort foi ganhando mais destaque na história, pouco se viu do vilão terrível que mal podia ter pronunciado seu nome em Hogwarts. O ser capaz de matar os pais de Harry, dando início a toda essa história, não conseguia parecer assustador, inteligente ou sagaz.

Perto de Snape, por exemplo, o Lorde das Trevas era inofensivo a Harry Porter.

Para piorar, a impressão é que Fiennes se sentia pouco à vontade no papel do vilão, não parecendo ter ânimo de fazer algo diferente ou ousar um pouco mais.

A situação se comprova definitivamente em “Relíquias – Parte II”: não há momento em que Voldemort pareça realmente ser o maior desafio que Harry Porter já enfrentou.

Tudo evidentemente é maior e mais trágico, já que sabemos que estamos no final da saga, mas a impressão que passa é que o bruxinho enfrentou mais perigo nas dificuldades impostas pelos seguidores de Voldemort ou nas próprias confusões que se metia do que no poder de seu rival.

Impressionante também foi a capacidade da saga em conseguir destruir momentos que teriam tudo para ser os mais emocionantes da série. Tal situação acontece devido a rapidez com que aparecem na tela ou dentro de um contexto que não permite que não nos choquemos o suficiente com o acontecido, já que logo somos transferidos para um outro momento de ação.

Em “Relíquias da Morte – Parte II” há quatro momentos gritantes que exemplificam bem essa colocação (PULE ESSA PARTE, CASO NÃO TENHA VISTO O FILME):




 1) o beijo tão esperado entre Hermione e Ron acontece de maneira tão rápida e sem um clima apropriado que dá a impressão ter sido feito na base do susto. Logo depois, eles já estão de volta para a ação. Romantismo: nota zero!

2) Harry decide se entregar a Voldemort logo depois que vê o resultado das batalhas travadas entre os dois lados: professores e amigos de Hogwarts mortos.

Algumas dessas vítimas são velhos conhecidos nossos que aprendemos a admirar e ter um carinho especial ao longo desses anos. Porém, o tratamento que recebem por parte da edição final que foi aos cinemas é terrível, já que com um ou dois curtos takes seus destinos na série são selados.

A ausência de um tempo maior para desenvolver esse trecho faz com que o filme perca a possibilidade de percebemos ainda mais a dimensão do quanto aquele conflito é nocivo. 

3) a volta de Harry Porter do “mundo dos mortos” quando Voldemort já está em Hogwarts pedindo aos alunos do local que desistam da batalha é tão rápida que mal o vemos cair dos braços de Hagrid.

O que poderia gerar um momento de catarse para o público simplesmente virou um trecho de dois segundos para começar o confronto final entre os dois lados.

Custava falar: "Ei! Otário! Perdeu!
4) no clímax do filme, temos, na verdade, um anti-clímax, apesar do tom épico em que ele é construído, com Harry e Voldemort em uma Hogwarts destruída distante um dos outros, atirando o poder de suas magias um contra a outra com um toque de faroeste à la Sergio Leone.

Porém, quando Voldemort perde sua última defesa com a morte da cobra Nagini e fica completamente vulnerável, era a hora de Harry Porter jogar um “Avada Kevadra”, exterminar o seu rival de uma vez por todas e deixar todo o público em delírio nas salas de cinema.

Entretanto, o que vemos é Lorde das Trevas virando pó. 

Legal, né?

Os mais fanáticos por Harry Porter podem até dizer: “Ah! Mas no livro é assim. Acontece como está no filme”, porém o longa é uma adaptação e não uma reprodução do texto escrito, o que dá ao diretor e os roteiristas a possibilidade de mexerem na história de acordo com o que consideram melhor para versão cinematográfica.



LEGADO DE HARRY POTTER

Um problema não solucionado em toda adaptação cinematográfica da série “Harry Porter” foi em conceber momentos especiais, aqueles que eu, você, seus amigos, familiares e desconhecidos vamos nos lembrar para sempre.
Explico: qual cena você se lembra de “O Poderoso Chefão”?
A armadilha feita ao filho de Don Corleone no pedágio de uma rodovia ou a morte do personagem de Marlon Brando são os momentos (quase sempre) mais lembrados.

Qual cena você se lembra da trilogia “O Senhor dos Anéis”?
Batalha das Minas de Moria (“A Sociedade do Anel), conflito no Abismo de Helm (“As Duas Torres”) ou sequência nos campos de Pellinor (“O Retorno do Rei) ficam na memória de qualquer cinéfilo.

 "Star Wars"?
- Luke, I´m your father!"
- No!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Harry Porter?
Deixa eu ver.... Peraí.... Calma, tô pensando..... Ih! Não tem!

Claro que os fãs podem dizer um ou outro momento, mas aquela cena de maravilhar não apenas os pottermaníacos, mas a todos que gostam de cinema, ficou faltando na saga.

Pode ser um pequeno detalhe, eu sei, mas em uma série de oito filmes é uma pena não ter esse momento.

Entretanto, é admirável a capacidade da saga de Harry Porter ter mantido uma qualidade sempre estável durante esses dez anos de existência nos cinemas.

Mesmo não tendo produzido um filme digno de estar entre os indicados a melhor filme do OSCAR ou até mesmo tendo dificuldades de figurar em alguma lista das dez melhores obras lançadas em seus respectivos anos (exceto, “O Prisioneiro de Azkaban”, de 2004, melhor longa da saga, na minha opinião), a série “Harry Porter” sempre conseguiu ter bons filmes, sem nunca sair dos trilhos.
 
Louvável também foi a ótima transição feita durante os oito filmes na abordagem da história e nos aspectos visuais.

“A Pedra Filosofal” e “Câmara Secreta” possuem temáticas mais infantis e cenários bem mais agradáveis, apostando no colorido e no clima de aventura, exatamente o oposto do que é visto em “O Cálice de Fogo” e nas duas partes de “Relíquias da Morte”, mais sombrios e densos em todos os aspectos.

Tudo isso feito de uma forma que soou natural e dentro do contexto em que os personagens estavam inseridos, já que não seria condizente ver aqueles locais bonitos e um clima de magia fofinho em um ambiente perigoso e de mortes que se transformou o mundo mágico da saga nos últimos filmes.

Para as produções cinematográficas recentes, Harry Potter abriu um leque de filmes que misturam fantasia com toques de realidade focado em personagens juvenis que inundam os cinemas do mundo inteiro a cada ano como, por exemplo, “Percy Jackson”, “Eu Sou o Número Quatro”, “As Crônicas de Nárnia”, “Eragon”, entre outras.

Falhas e elogios à parte, é inegável que somos privilegiados de ter acompanhado o desenvolvimento e desenrolar de um dos maiores sucessos vistos nas telas do cinema de todos os tempos.

Harry, Ron e Hermione deixaram órfãos uma geração de cinéfilos.

 Que bom foi ter tido a companhia de vocês por essa década!


Harry Porter e as Relíquias da Morte - Parte 2 / NOTA: 7,5

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