quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Filmes do barulho

 


Por Renildo Rodrigues


Em algum momento de sua história, o cinema deixou de ser algo especial, reverenciado, uma arte para a qual se construíam salas como as de teatro ou concertos, que exigia concentração e ensejava a análise, para ser só mais uma loja do shopping, uma na qual se entra para comer pipoca e tomar refrigerante, e se é entretido com algo de valor não mais duradouro (ou nutritivo).

Estou sendo duro demais? Pode ser. Filmes-passatempo são uma constante desde que o cinema é cinema, e muitos deles são realmente saborosos de se ver, alguns até tendo se tornado plats no menu clássico (No Tempo das Diligências, Psicose e Tubarão já foram vistos assim um dia). Os cine-palácios, que antes abrigavam até atrações musicais (Carmen Miranda e Frank Sinatra, entre outros, já foram estrelas desses lugares) e possuíam estruturas imponentes, com milhares de assentos, há muito foram extintos. Um processo, se não natural, inevitável.

O problema é o comportamento que as pessoas passaram a ter no cinema. Não é raro, aqui em Manaus (como em todas as demais cidades brasileiras), os espectadores de um filme conversarem sem parar durante a sessão, espicharem os pés sem dó ao lado ou mesmo atrás de outra pessoa, gritarem, passearem, falarem ao celular, até levarem um radinho pra acompanhar o Brasileirão (acreditem, vi isso em uma sessão recente). Assistindo mesmo ao filme, quem, um? Dois? Deve ser muito.


O que há que faz essas pessoas pagarem um preço muitas vezes alto pra assistir a um filme, se não é o que elas desejam? E quem está lá pra isso, como fica? Cinema não é um lugar público; pode abrigar um bom número de pagantes, mas tem suas regras próprias de comportamento, entre elas o silêncio e a atenção. Quem achar que é pedir muito está autorizado a não ir: pode gastar seus suados tempo e dinheiro em lugares onde se pode falar à vontade, a todo volume, e não é preciso prestar atenção nas coisas chatas que acontecem na tela – um bar, por exemplo –, e, o que é melhor, sem precisar entrar em atrito com esses malas que, como eu e você, vão ao cinema para assistir – vejam só que coisa estranha – um filme.

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