sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Crítica: As Aventuras de Tintim

Por César Nogueira

Tintim é uma história em quadrinhos criada pelo belga Hergé em que um jornalista entra em altas aventuras por causa das matérias. Admirada em todo o mundo, a obra ganha uma versão cinematográfica dirigida por Steven Spielberg e co-produzida por Peter Jackson. As Aventuras de Tintim honra a HQ com uma história bem-amarrada e mostra que Spielberg é grande mesmo quando se repete.


O diretor usou a técnica motion-capture para transpor as emoções dos atores para a animação, que mistura expressões faciais e ambientes realistas com corpos de desproporção cartunesca. Dessa forma, acompanhamos uma aventura em que o jornalista (no original, sua voz é a de Jamie Bell, de Billy Elliot), acompanhado pelo seu cãozinho Milou, apura uma matéria que envolve tesouros perdidos, viagens para o norte da África, milionários, Interpol e sede de vingança que atravessa gerações. Tudo isso aconteceu depois de um singelo passeio por uma praça, onde comprou um navio em miniatura muito importante para o capitão Haddock (Andy Serkis, o eterno Gollum) e para o vilão Sahkarine (Daniel Craig).


Spielberg conta uma história sem pontas soltas, incoerências nem forçadas de barra. Mesmo os acontecimentos paralelos, como o cleptomaníaco, contribuem para o desenvolvimento da história e não tomam mais tempo que o necessário. A fotografia e montagem são eficientes como o roteiro. Os closes, particularmente nos objetos, e os reflexos, graças à sua funcionalidade, não são só exercícios de estilo. A câmera ajuda a reforçar sensações, como quando ela reforça com tremedeiras o raciocínio tortuoso que  Haddock faz até chegar a uma informação importante. Destaca-se também o plano-sequência da perseguição à águia. As transições, elegantes, usam poças d'água e semelhanças na forma e nos movimentos. A cena em que  Haddock se lembra da informação importante usa várias dessas transições e foi montada de um jeito que também reforce sua caminhada pelos labirintos da memória.



As piadas também funcionam, mesmo que apelem para tipos e para o pastelão, e são embaladas num clima de matinê, onde tudo dá certo no último segundo. Isso porque a influência de Indiana Jones é notória: substitua a arqueologia pelo jornalismo, tire alguns anos do Dr. Jones, dê-lhe um topete ruivo, mantenha o estilo de fotografia e montagem e, assim, teremos Tintim. Indy já foi comparado anteriormente ao jornalista. Para Spielberg, talvez não haveria melhores referências nem outros caminhos a serem seguidos senão olhar para a sua própria filmografia quando foi dirigir “Tintim”. Mesmo assim, a sensação de estarmos vendo um episódio de Indiana Jones feito em animação, com um 3D que não influi nem contribui e sem nenhuma grande inovação em relação aos filmes anteriores é grande.

Os créditos iniciais, a piadinha do auto-retrato do início do filme e expressões como “carambolas” homenageiam a HQ.


O Caio Pimenta não achou "Cavalo de Guerra" ruim, mas esperava mais dele por ser um filme de Spielberg. Talvez “As Aventuras de Tintim” desperte o mesmo sentimento no Caio e em outras pessoas que partilham de sua opinião. Compreendo-os, mas penso de outra maneira. Spielberg dirigiu “Tintim” fazendo o feijão-com-arroz, mas acertou nos temperos. O filme não vai mudar a história do cinema. Talvez nem ganhe relevo na carreira do diretor. Mesmo assim, diverte e, para mim, um básico bem-feito do Spielberg vale mais que o ápice de muitos. Talvez a situação fique problemática mesmo se ele insistir nesses rescaldos nas continuações de Tintim. Afinal, tudo em excesso enjoa.


NOTA: 7,5.

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