sábado, 7 de novembro de 2009

Soundtracks (#4)


Da mesma forma que Across the Universe, Não Estou Lá é a reflexão de um diretor (Todd Haynes) sobre um ícone dos anos 60 e do rock (no caso, Bob Dylan). Mas a semelhança acaba aí. Across the Universe é um musical, uma história inspirada pela música dos Beatles e criada em função de suas canções. Já Não Estou Lá é um filme... único.
A definição capenga é a única que cabe nessa obra, um verdadeiro mosaico de verdades, lendas e interpretações sobre o cantor americano. Antes que isso pareça complicado demais, lá vai: Não Estou Lá tenta mostrar os diferentes aspectos da vida e da música de Dylan, dividindo os períodos de sua carreira em personagens. Assim, a fase rock fica com Cate Blanchett (perfeita), a de protesto e a religiosa com Christian Bale, a country com Richard Gere, a romântica com Heath Ledger, a poética com Ben Whishaw, e a folk com o garoto (e revelação) Marcus Carl Franklin.
Mais do que isso, e aí está uma bela sacada do diretor Haynes, cada faceta recebe um tratamento cinematográfico diferente, remetendo a um grande diretor do passado. A parte de Blanchett é puro Fellini; a de Ledger, Godard; a de Gere, Sam Peckimpah, e por aí vai. O filme é cabeça, mais voltado a cinéfilos e fãs do cantor, mas, se você estiver disposto a arriscar, eu garanto que será uma experiência intensa e original.
A trilha de Não Estou Lá traz apenas uma gravação de Bob Dylan, uma música inédita das lendárias “Basement Tapes” (gravações feitas com a The Band durante a reclusão do cantor, no fim dos anos 60, enquanto se recuperava de um grave acidente de moto), chamada, isso mesmo, “I’m Not There (o nome original do filme), e muito boa. A ideia de Haynes foi reunir uma série de nomes do rock atual, ao lado de alguns mais antigos, para regravar canções dos períodos retratados no filme. O resultado, na minha opinião, é um dos melhores discos-tributo já feitos.
A escolha dos artistas e a produção das faixas ficaram a cargo de Lee Ranaldo, guitarrista do Sonic Youth, um dos grandes nomes da história do rock alternativo. E é a sua banda que inicia os trabalhos, com uma versão de “I’m Not There”, bem no estilo do grupo. As surpresas vêm a cada faixa: Eddie Vedder grita em “All Along the Watchtower”; a brilhante versão do punk (é!!!) John Doe para a gospel (é!!!) “Pressing On”; “Dark Eyes”, numa linda gravação de Iron & Wine (descubra essa banda) e Calexico; a criativa versão de “Ring Them Bells” por Sufjan Stevens; a rascante “Maggie’s Farm” de Stephen Malkmus e os Million Dollar Bashers; a suingada “Mama You’ve Been on My Mind”, por Jack Johnson, com trechos de “Last Thoughts on Woody Guthrie”; “When the Ship Comes in”, cristalina na voz de Marcus Carl Franklin.
A trilha sonora de “Não Estou Lá” é dupla, e não se encontra nas lojas do Brasil, exceto em versões importadas (como a maior parte da discografia de Dylan, o que é lamentável). Ela serve como uma boa introdução à obra de um dos maiores compositores americanos. Só não deixe de ir atrás dos maravilhosos álbuns originais das músicas.
Internet, mãos à obra!

Os seis Bob Dylans do filme

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