domingo, 29 de julho de 2012

Crítica: Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge - COM SPOILERS

Por Caio Pimenta

“Um grande poder traz uma grande responsabilidade”.


O conselho de Tio Ben a Peter Parker em "Homem-Aranha" (2002) serve bem para analisar o último filme da saga de 'Batman' sob o comando de Christopher Nolan. Com a necessidade de encerrar uma história que ressuscitou Bruce Wayne para os cinemas e elevou os longas baseados em HQ's a um novo patamar de qualidade, "O Cavaleiro das Trevas Ressurge" sente a pressão, não conseguindo dar coesão a todas as inúmeras tramas que passam pelos 164 longos minutos de projeção, deixando a riqueza de seu universo e suas alegorias ao mundo que vivemos, grande diferencial dos dois filmes anteriores, resumida a uma história de mocinhos e vilões.


"Batman Begins" (2005) e "Batman - O Cavaleiro das Trevas" (2008) traziam belas referências ao mundo em que vivemos, como, por exemplo, o poder do medo enfrentado por Bruce Wayne, as consequências dos males da corrupção a uma cidade e povo, força motriz da decisão de Ra's Al Gul querer o fim de Gotham, o vazio da violência, sem causas e ideologias, trazida por Coringa e a trajetória de Harvey Dent, o qual, assim como muitos nomes de nossa política, começam com ideias promissoras, porém vão passando por tantas transformações que terminam sendo justamente aquilo que tanto combatiam. 

Já neste terceiro filme, o roteiro escrito pelos irmãos Christopher e Jonathan Nolan, a partir do argumento de David S. Goyer, parece esquecer dessas reflexões e referências que tanto enriqueciam o universo da história, focando a trama na superação de Batman e nos desafios representados pelo vilão. Exceto por um pequeno e quase imperceptível momento, quando Blake (Joseph Levitt-Gordon) questiona o agora Comissário Gordon (Gary Oldman) sobre as bases que levaram àquele período de baixa criminalidade pré-Bane, o restante se trata da clássica história entre o bem e o mal, com personagens bem delineados para os dois lados e sem grande complexidade.

Como se já não bastasse essa queda reflexiva da saga, o roteiro do novo filme se mostra mais extenso do que o necessário, apostando em subtramas em excesso e reviravoltas que soam tolas (tal fato, diga-se de passagem, já havia atrapalhado de maneira menos intensa Nolan no excelente "A Origem").

O novo filme começa oito anos depois do fim de "O Cavaleiro Das Trevas", quando Batman (Christian Bale) é acusado da morte de Harvey Dent (Aaron Eckhart) e precisa sair de cena. Desta vez, Gotham passa por um momento de calmaria, com a violência em baixa, devido à lei que leva o nome do promotor público, a qual apertou o cerco a criminosos. Porém, o sossego está prestes a ir pelos ares com a chegada da turma do grandalhão Bane (Tom Hardy), o qual traz o perigo do terrorismo à cidade. Com isso, Bruce Wayne se vê em uma situação sem saída e isto é a senha para o Homem-Morcego voltar a ativa.
 
O excesso de personagens e subtramas que acompanhamos atrasam o desenvolvimento do longa, tornando passagens que poderiam ser resolvidas com maior fluidez em algo arrastado. As partes passadas envolvendo magnatas da empresa de Bruce Wayne (donos da pior fala da saga: "Você é pura maldade", diz um deles a Bane antes de morrer) e os planos para tirar os policiais de dentro do túnel atrasam todo o processo.


Com isso, trechos que poderiam desenvolver bons personagens como Comissário Gordon e Lucius Fox (Morgan Freeman) perdem espaço. Já os novatos, Selina Kyle (Anne Hathaway) e Blake (Joseph Levitt-Gordon) dependem muito mais do carisma de seus intérpretes do que por serem grandes personagens, apesar de terem seus bons momentos (principalmente Kay com sua rapidez de raciocínio e sagacidade). 


Porém, nenhum deles é mais prejudicado do que Miranda Tate (Marion Cotillard). Em uma personagem que não diz a que veio durante quase 80% da projeção, após várias tentativas dos roteiristas de inseri-la na história com algum peso dramático (até para cama com Wayne, ela vai), a atriz francesa sofre para ganhar espaço, dependendo de uma reviravolta má inserida e sem o impacto necessário que o momento exigiria para que possa ganhar algum peso na história.


Para compensar, Michael Caine brilha como o mordomo Alfred que vê seu patrão e quase filho em ruínas, implorando para que volte a viver e deixa a vida de Batman de lado, pois, sabe que aquilo poderá causar sua morte.


Apesar da sombra de Coringa (Heath Ledger), Tom Hardy até que se sai bem como o vilão Bane. Mesmo limitado pela máscara que cobre o rosto do personagem, o ator consegue fazer um trabalho vocal e físico impressionantes, dando a exata dimensão do terror representado pelo personagem.

Enquanto isso, Christian Bale mostra a característica mais forte da sua carreira: a entrega física que faz a cada papel. Aqui, a palidez e magreza de Wayne no início do filme contrastando com a força e o trabalho físico feito para viver o herói, principalmente, no ato final, carregam simbolismos que ressaltam de forma clara os desafios enfrentados pelo Homem-Morcego e o que seu alter-ego enfrenta para ser o justiceiro que Gotham necessita, mesmo que isso, possa custar sua vida.

Quem brilha mesmo em toda a projeção, para o bem ou para mal, porém, é Hans Zimmer, Autor da trilha sonora que acompanha a saga, o compositor criou uma música-tema que dá o tom do filme, com acordes de maneira mais abafada e baixa nos momentos em que Batman está passando por dificuldades e que cresce moderadamente até ser preponderante quando o herói consegue se superar e passar por cima dos vilões e desafios impostos. 


Christopher Nolan sabia do brilhantismo que tinha em mãos e a usou o quanto pode em seus filmes, transformando-os em quase uma ópera, mesmo que, em alguns momentos, o cineasta dê a impressão de que não acredita tanto no que é mostrado como forte o suficiente para atrair o espectador, necessitando que a trilha complemente aquilo que exibe. Em "O Cavaleiro das Trevas Ressurge", o momento em que mais se percebe isto é na saída de Bruce Wayne do inferno, quando a trilha só falta sair da tela de tão alto que fica. 

Entretanto, é interessante notar que os dois momentos mais fortes do filme surgem justamente quando a música incidental cessa: o pedido emocionado de Alfred a Bruce Wayne para que não seja Batman novamente e a luta trágica com Bane, na qual o Homem-Morcego fica paralítico, quando a brilhante edição de som transforma cada pancada em algo feroz, feito por dois seres fora da realidade.


Apostando em tom mais realista e tenso, principalmente pela fotografia em tons mais azulados de Wally Pfister, nada lembrando o período mais escuro e sujo de "Batman Begins" que lembrava, em certos momentos, "Blade Runner", "O Cavaleiro das Trevas Ressurge" se ressente de grandes cenas de ação, tendo uma montagem equivocada, diminuindo o ritmo da ação em momentos que deveriam ser mais ágeis, fato sentido principalmente na sequência final.

Sobre a polêmica que surgiu sobre a cena final de que Bruce teria morrido e Alfred tenha tido uma visagem, acho que a própria trilha em um tom mais animado e de triunfo do que habituamos a ver em toda saga, o momento em que vemos o holofote consertado e, por último e decisivo, a presença de Selina Kay, personagem que o mordomo somente conhecia como empregada da casa na festa do início do filme, não chega a dar grande margem para esse pensamento, apesar de ser interessante para discussões sem fim.



"O Cavaleiro das Trevas Ressurge" passa longe de ser um filme ruim, porém, transmite a sensação amarga que poderia e deveria ser bem melhor, após tudo que presenciamos nos filmes anteriores. Nada que apague o brilho da saga de Christopher Nolan e a importância da série cinematográfica mais influente desta década, ao lado de "O Senhor dos Anéis".


Nota: 7.0

5 comentários:

  1. Logo depois que assisti ao filme eu não sabia dizer se Rises era melhor que Cavaleiro das Trevas, mas depois de analisar um pouco, vi que esse é inferior ao segundo filme, justamente por ser uma produtora que precisava fechar a trilogia.

    Rises dependente dos dois filmes anteriores (principalmente do primeiro) para se desenvolver, o que faz difícil ele, por si só, ser um filme tão bom quanto o Cavaleiro das Trevas.

    Alguns pontos colocados na crítica são bem interessantes, como as subtramas em excesso, o que acaba realmente prejudicando o desenvolvimento do plot principal.

    Mas isso não quer dizer que Rises é ruim. Para sua proposta de ser o último filme da trilogia, ele desempenha muito bem o papel e ainda conta com cenas impactantes e excelentes, como a primeira briga entre Batman e Bane.

    Era muito difícil superar Cavaleiro das Trevas, muito por causa do excelente desenvolvimento e atuação do Coringa e Harvey Dent/Duas Caras, mas Dark Knight Rises ainda consegue ser muito foda

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  2. Caio, também vou fazer um comentário com spoilers..

    achei este o mais fraco da trilogia, o que me decepcionou muito.. a primeira frase da crítica devia ir pro nolan (a do spider), mas tudo bem, ainda eh um filme "de heroi" melhor do que qualquer outro..

    pra mim, faltou ousadia ao nolan.. o batman begins e, principalmente, o cavaleiro das trevas incomoda (no bom sentido) o espectador.. já este filme, pode passar na sessão da tarde tranquilamente com o velho maniqueísmo do mocinho contra o vilão..

    gostei do elenco inteiro, o gordon-levitt me surpreendeu fazendo o primeiro robin que presta (apesar daquela cena em que a funcionária chama ele de robin ser desnecessária, o mistério ou alguma coisa mais sutil seria melhor).. aí eh questão de gosto, então não crucifico o nolan..

    mas o que ele fez com a sensacional Marion Cotillard foi sacanagem.. o papel dela estava tão inútil que dava para prever a reviravolta dela no final.. assim como a "redenção" da selina após trair o bruce com o bane.. roteiro bem clichê, na minha opinião (eh a unica coisa que eu discordo da tua crítica)..

    a apresentação do Bane no avião também foi muito forçada.. como um agente da cia coloca dois terroristas mascarados no avião e não tem "nem a curiosidade" de ver quem é.. comparando novamente os filmes, a apresentação do curinga e do ra's foi muito melhor..

    achei criativa a cena do terrorismo durante jogo do futebol americana, mas no geral me pareceu um filme domesticado pelo estúdio, com clichês imperdoáveis para alguém com o talento do Nolan..

    apesar disso, tem umas referencias boas como o "abandono do Katrina", a "dependencia ao mercado financeiro", o uso da mentira para forjar ídolos (oi história do mundo ocidental), mas elas foram muito sutis e não chegaram a incomodar o publico como o coringa o fez (tá, eh a ultima vez que eu comparo os filmes)..

    ainda acredito no nolan, ele ainda está acima da média entre os diretores atuais..

    ah, sobre a cena final, pra mim ficou claro que o bruce forjou a morte, mas sobreviveu.. o próprio fox descobriu que ele consertou o piloto automático da "nave" seis meses antes..

    foi mal o comentário rápido e sem revisão.. abração

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  3. A minha opinião sobre esse filme difere totalmente da de vocês. Por mais que eu ache a atuação do Heath Ledger boa, aquele filme deu muita ênfase ao personagem dele e relegou completamente o Batman como herói de Gotham. Nem mesmo o primeiro filme conseguiu desenvolver o herói direito, focando muito na jornada pessoal do Bruce Wayne e não na figura do morcego.

    Já esse filme conta a história do Batman, sua queda e seu ressurgimento, sem fazer comparações apelativas com problemas do "mundo real" e sem se preocupar em fazer uma estória 100% fiel a fatos reais (?) o que é muito bom em um filme, feito para o cinema.

    Os vilões (mulher-gato também é vilã) foram extremamente bem caracterizados, com exceção da Talia, mas nem isso chega a importar muito, já que o foco não era neles. E o espetáculo do filme em si, os cenários, os personagens, a trilha sonora, fotografia, atuações etc foram completamente competentes e construídos pra fazer um fim de saga digno.

    Ou seja, cumpriu o propósito que tinha. Se esperavam outras coisas, era porque esperavam algo que o Dark Knight fez vocês pensarem que o Batman era. Mas caras, ainda é um filme sobre uma pessoa que se veste de morcego e sai batendo em supervilões.

    Ah, e Caio, o nome da mulher-gato é Selina Kyle. Conserta aí. o/

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    1. Muito obrigado a todos pelos comentários.

      Olha Jack (desculpe, mas se o conheço, não reconheci) concordo plenamente com você quando diz que o Batman volta a ser destaque neste "Cavaleiro das Trevas Ressurge". Isso realmente é um ponto positivo.

      Sobre o fato das questões reflexivas da saga, fique pensando nisso também antes de escrever a crítica. Será que eu estou exigindo demais de um filme do Batman? De um filme de super-heróis?

      A resposta vem imediatamente cada vez que pensava sobre o fato: não. Se "Begins" e, acima de tudo, "O Cavaleiro das Trevas" me trouxeram isso, algo tão raro no cinema atual, por que não este terceiro filme também.

      Esperar que somente filmes de grandes diretores ou europeus e asiáticos me tragam inteligência ou tramas interessantes e o restante sejam tolos, não vai haver graça ir ao cinema ou assistir filmes. E olha que nem mesmo estes não são tão pensativos e reflexivos assim.

      Enfim... a discussão continua aberta e é saudável.
      Valeu a todos que leram!

      Ass - Caio Pimenta

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  4. Caio, ainda me falta assistir o filme, mas se era pra dar "fim" no Batman, Nolan deveria seguir "quase" que fielmente o HQ do Batman "O CAVALEIRO DAS TREVAS", a verdadeira história como ela foi, 100% diferente do filme, alias, será lançado o filme desse quadrinho ainda esse ano e sua continuação em 2013.

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