quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Crítica: "O Ditador", com Sacha Baron Cohen

Por Diego Bauer


Em 2006, Sacha Baron Cohen era um ator quase desconhecido, a não ser para quem já havia assistido o seu promissor debute em Ali G Indahouse (2002). E o fato dele ser um quase anônimo foi importante para que o seu próximo projeto fosse desenvolvido da maneira mais adequada, e conseguisse alcançar o sucesso esperado. É claro que estamos falando do fantástico Borat (2006), comédia que lançou Cohen para o estrelato e fez com que ele se tornasse um dos atores mais comentados da época.

Depois disso, a carreira do ator teve altos baixos, como o decepcionante Bruno (2009), mas também boas participações em Sweeney Todd (2007) e A Invenção de Hugo Cabret (2011).

Os fãs estavam ansiosos para ver qual seria o próximo filme protagonizado pelo ator, e se ele seguiria o mesmo estilo ousado de Borat.

Pode-se dizer que sim, que O Ditador permanece na mesma linha do longa anterior, e mesmo apresentando falhas, se mostra como um bom passo adiante na carreira de seu protagonista.

Dirigido por Larry Charles, também diretor de Borat e Bruno, o filme conta a história do general Aladeen (Sacha Baron Cohen), líder da Wadiya, que comanda o seu país de forma excêntrica e autoritária. Ele é convocado a comparecer às Nações Unidas pressionado pela maneira que conduz o seu país. Logo que chega em Nova York, ele é traído por Tamir (Ben Kingsley), e vê um sósia assumir a sua identidade. Perdido numa cidade desconhecida, ele é ajudado pela ativista Zoey (Anna Faris), e depois busca reaver o seu cargo com a ajuda de Nadal (Jason Mantsouskas).

Logo de cara percebemos que o filme não tem nenhum tipo de pudor com piadas pesadas, ou de tom politicamente incorreto, quando vemos no início uma mensagem que diz que o filme é dedicado a Kim Jong-il, ditador da Coreia do Norte.

Além disso, piadas com o autoritarismo patético de Aladeen, que dentre outras coisas, decide eliminar todas as pessoas que não concordam com ele, ou quando decide mudar palavras do alfabeto pelo seu próprio nome (gerando uma das melhores piadas do filme, quando o médico vai dizer ao paciente se ele tem ou não aids), citações a ditadores da vida real, ou quando ele ironiza a questão dos muçulmanos com o terrorismo, na cena em que Aladeen e Nadal estão em um helicóptero com mais dois passageiros americanos, e eles morrem de medo de eles serem homens-bomba são momentos em que o filme mais cresce.

Embora seja natural sentir uma espécie de culpa por achar todas essas situações engraçadas, isso é algo digno de elogios, pois se o filme manteve durante toda a sua projeção piadas de tons racistas, antissemitas, machistas, debochando de uma série de temas relacionados aos direitos humanos, tudo isso foi feito numa brilhante forma de criticar esses assuntos, mostrando, através de situações absurdas, que eles ainda são vistos de uma maneira assustadora e incrivelmente mal informada em várias partes do mundo.

E se rimos desses absurdos, se em vez de acharmos Aladeen cruel e impiedoso achamos graça de suas excentricidades, isso se deve quase que exclusivamente ao talento de Cohen. É um trabalho de ator tão rico, tão detalhado, tão maior que qualquer piada, que fica claro quehouve uma pesquisa minuciosa para desenvolver uma personagem. É algo muito maior do que “colocar uma peruca e fazer graça”. E, além disso, note que Cohen consegue desenvolver dois personagens de forma distinta, cada um com suas peculiaridades, e ambos verdadeiramente engraçados.

Mas mesmo que o filme tenha momentos hilários, e consiga desenvolver uma história competente, que prende a atenção da plateia, bate uma sensação de repetição de piadas, que chega a incomodar na metade para o final do filme, quando fica nítido que há uma perda de fôlego e um constante mais do mesmo.
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PRÓXIMO PARÁGRAFO COM SPOILER

Porém esse problema chega a ser pequeno, perto da imperdoável cena que quase pôs todo o filme a perder, que é a ocasião em que Aladeen diz que está apaixonado por Zoey no meio da assinatura do contrato com a ONU. Esse momento é o tipo de coisa mais clichê, óbvia, previsível e manipuladora que as comédias românticas podem fazer, e é realmente uma pena ver que até neste filme isso também está presente. Algo completamente inexplicável, que depõe totalmente contra o que acabamos de ver, e que deixa uma mancha num desfecho que poderia ser infinitamente melhor.
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Mesmo com tudo isso, o saldo de O Ditador é positivo, e se não vemos algo do mesmo nível de Borat, ainda assim é um filme que diverte e que tem momentos dignos de gargalhadas e vários risos culpados.

NOTA: 7,5

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