quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Crítica: O Legado Bourne, de Tony Gilroy

Por Diego Bauer


Em 2002, um filme de espionagem pouco falado antes do seu lançamento, e sem tanto lobby em cima, acabou mudando a forma de se fazer filmes deste gênero, substituindo os longas do 007 como “o filme a ser seguido”.

Com uma trama inteligente e muito bem construída, cenas de ação inovadoras, e personagens interessantes de se acompanhar, A Identidade Bourne (2002) redefiniu a forma de se contar os filmes de ação “com cérebro” dos últimos anos, e se estabeleceu como uma série de sucesso com os bem sucedidos A Supremacia Bourne (2004) e O Ultimato Bourne (2007).

Com a recusa de Matt Damon em continuar com a série, coube ao astro em ascensão, Jeremy Renner, a tarefa de recomeçar toda uma história e tentar manter o nível dos trabalhos anteriores.

E se O Legado Bourne não pode ser considerado um trabalho ruim, que ofende a trilogia original, ao mesmo tempo também não pode ser comparado com os outros filmes da série, pois se mostra abaixo dos episódios anteriores em quase todos os aspectos.

Dirigido e escrito por Tony Gilroy, também roteirista dos três filmes anteriores, a trama conta a história do agente Aaron Cross (Jeremy Renner), que assim como Jason Bourne, faz parte do polêmico programa Outcome, que visa, através de um vírus, criar indivíduos superiores física e mentalmente. Só que com Bourne a solta o plano pode vir à tona, portanto o coronel Eric Byer (Edward Norton) ordena a morte de todos aqueles que se configuram como ameaça a descoberta deste programa, e as cobaias do projeto são as primeiras vítimas. Isso também inclui a cientista Martha Shearing (Rachel Weisz), que acaba se tornando a única esperança de Cross, que se torna dependente de uma medicação. Então os dois vão em busca de uma forma de salvar o agente, enquanto são perseguidos de forma implacável por membros do governo.

Em A Identidade Bourne não nos incomodávamos com a intricada trama que se desenvolvia no decorrer da história por confiar que havia uma explicação para tudo aquilo, e principalmente pelo fato da personalidade de Bourne, apesar de ter amnésia, se mostrar muito interessante de se analisar. Além disso, também havia um sentimento de cumplicidade entre a plateia e o protagonista, pois descobríamos todas as situações junto com ele.

Aqui isso não acontece, seja pela falta de identificação com o protagonista, seja pelo fato de o filme demorar bastante para engrenar. É uma falação muito chata, que se torna monótona e cansativa com o passar do tempo.

E as diversas citações a Jason Bourne, e aos filmes anteriores só acabam por dificultar ainda mais a identificação com esse, pois acabamos nos lembrando que, embora esses filmes tenham uma significativa parte em que a história é mais centrada em diálogos e falatório, ela também sabe como mesclar isso com boas cenas de ação, desenvolvendo com correção a inter-relação desses momentos, fato que não se repete aqui.

Mas realmente fica difícil desenvolver bem essas tramas, pois há um problema anterior a isso, que são os personagens do filme, que se mostram desinteressantes. Mas é importante salientar que o problema não se deve ao trabalho do competente elenco, encabeçado por Jeremy Renner, Edward Norton e Rachel Weisz. De certa maneira não havia muito o que fazer, e eles fizeram um trabalho discreto e contido, exatamente como deveria ser.

Apesar dos problemas, o filme cria uma excelente sequência de ação na sua metade final, especialmente em uma perseguição sobre duas rodas que possui momentos inspirados, que de certa forma tentam compensar o marasmo da primeira metade.

Porém, fica difícil não sentir uma decepção após o convencional final do filme, que sela de uma vez uma continuação inferior e dispensável.

NOTA: 5,5

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