terça-feira, 15 de novembro de 2011

Oito Anos de Amazonas Film Festival - Prós e Contras

Por Caio Pimenta



Oito anos se vão desde que o Amazonas Film Festival teve início.

Durante esse período, o evento já reuniu nomes importantes do meio cinematográfico como Roman Polanski, Alan Parker e Fernando Meirelles, da mesma maneira que trouxe celebridades do naipe do ex-RBD Alfonso Herrera, Bai Ling e Neve Campbell.

Terminada mais uma edição do festival, uma pergunta fica em minha cabeça: o que o Amazonas Film Festival trouxe para a cidade, sua população e profissionais da área?

Enumero aqui dois pontos que julgo positivo e outros dois negativos, colocando em discussão para que você leitor pense, reflita, discorde ou concorde.

O espaço está aberto a pontos de vistas os mais variados possíveis.

Aspectos Positivos

1) Curso de Cinema na UEA

O anúncio feito pelo secretário Robério Braga na abertura do 8º Amazonas Film Festival da criação do curso de ensino superior de cinema na Universidade do Estado do Amazonas (UEA) é, sem dúvida, a principal contribuição do evento.

Pensar em uma faculdade de cinema no Amazonas a oito anos atrás seria um absurdo tão grande que até mesmo pedir que este fosse criado soaria absurdo.

Com o crescimento de produções locais no setor audiovisual estimuladas, entre outros fatores, pelo surgimento do AFF, o pedido, porém, começou a se tornar mais forte.

Ter um evento do tamanho que temos anualmente sem que haja um desenvolvimento na produção cinematográfica seria ilógica.

Depois de inúmeras promessas por parte do governo estadual, inclusive do atual governador Omar Aziz que afirmou na cerimônia de encerramento do ano passado a criação do curso para este ano, o curso sai do papel.

A formação de profissionais especializados na área pode levar o cinema amazonense a atingir patamares já obtidos por estados fora do eixo Rio-São Paulo, como Porto Alegre, Recife e Salvador, tornando nosso Estado definitivamente relevante no cenário nacional.


2) Credibilidade do Amazonas Film Festival cresce

A vinda de Fernando Meirelles para ser o presidente de Honra desta edição; o lançamento mundial de “Xingu”, superprodução de R$ 15 milhões; exibição de filmes que tiveram ótima recepção nas Mostras de Cinema de São Paulo e Rio de Janeiro como o iraniano “A Separação”, o argentino “O Estudante”, o brasileiro “Eu Receberia as Piores Notícias de Seus Belos Lábios”; presença da imprensa especializada em cinema de vários cantos do país e importantes publicações européias.

Esses elementos todos citados acima mostram que o Amazonas Film Festival deixou de ser apenas um evento em que o exotismo de se realizar um festival de cinema em plena Selva Amazônica predomina, mesmo que isso seja um grande chamariz.

O Amazonas Film Festival também começa aos poucos a ser visto por produtores cinematográficos como uma boa porta de entrada para seus filmes serem reconhecidos.
São evoluções obtidas por um evento que tem se mostrado capaz de conseguir aliar show e glamour para vender como também qualidade técnica através da boa seleção feita pelos organizadores de filmes que concorrem nas mostras competitivas.


Aspectos Negativos

1) Concentração de Atividades no Largo de São Sebastião

Desde a primeira edição, o Amazonas Film Festival concentra suas atividades em um determinado espaço da cidade de Manaus: Largo de São Sebastião. As principais atividades se restringem ao Teatro Amazonas, Palácio da Justiça e o próprio Largo.

Os centros de convivência da família da Aparecida, Cidade Nova, além do Teatro da Instalação também possuem programação, porém restrita a exibição de filmes sem a presença dos convidados especiais ou da realização das convivência.

Infelizmente, regiões da cidade como a zona centro-sul, oeste e leste da cidade de Manaus fiquem de fora.

Seria tão interessante se Governo do Estado e Prefeitura de Manaus formassem uma parceria e pudessem ampliar a programação do festival com exibição e conversas do público com atores, diretores e produtores de cinema em outras áreas da cidade.

Por que não realizar isso no Parque do Idoso, Parque dos Bilhares, Parque do Mindu praças do Ouro Verde, Mauazinho e Nossa Senhora de Fátima que recentemente receberam o projeto “Cine da Gente”, da Prefeitura de Manaus?

Isso poderia fazer com que as pessoas conhecessem mais o festival e torná-lo algo que envolvesse, de fato, toda a cidade.


2) Espaço e consumo de filmes alternativos continua em baixa em Manaus

Ser cinéfilo em Manaus é uma coisa de guerreiro.

Veja os filmes que as redes de cinemas programam para a próxima semana na cidade: “Gigantes de Aço”, “O Preço do Amanhã”, “Atividade Paranormal 3”, “11-11-11”, “A Casa dos Sonhos”, “Contágio”, “Reféns”, “Terror na Água”, “Diário de um Banana 2”, “O Palhaço” e “A Saga Crepúsculo: Amanhecer – Parte I”.

Tire o filme dirigido por Selton Mello e terás uma lista somente de blockbusters norte-americanos formada por longas medíocres e esquecíveis.
Que fique bem claro aqui: não sou desses que acha o cinema de Hollywood um lixo e que deveria ser banido de nossas salas. Tanto penso assim, que acho “X-Men – Primeira Classe” um dos cinco melhores filmes desse ano.

O problema é que continuamos a sofrer sem espaço para filmes mais artísticos e de outras regiões do mundo como a Europa e a América Latina.

Perdemos a chance de ter em nossas salas longas como o argentino “Um Conto Chinês”, o espanhol “A Pele que Habito”, de Pedro Almodóvar, o chinês “A Árvore do Amor”, de Zhang Yimou, entre outros.

Isso para não falar dos filmes que chegam atrasados como “A Árvore da Vida” e “Melancolia”, para ficar nos casos mais recentes.


Triste também foi ver um Teatro Amazonas quase vazio para a exibição inédita de “Late Bloomers”, de Julie Gravas com William Hurt e Isabella Rosselini, e de “Eu Receberia as Piores Notícias de Seus Belos Lábios”, de Beto Brant e com a excepcional atuação de Camila Pitanga.

Ambos foram exibidos gratuitamente.

Repito: GRATUITAMENTE!

Para encher o Teatro e não “pegar mal” para a imprensa de fora do Amazonas e os artistas presentes, a organização do festival encheu a sala de estudantes de colégios públicos.*

Preocupa-me que em oito anos de Amazonas Film Festival e a exibição de belos filmes durante toda essa trajetória (somente em 2010, tivemos “Lixo Extraordinário” e “Inverno da Alma”), não conseguimos criar um público na cidade para esse tipo de filme que fuja do padrão de Hollywood.

Para piorar, as atividades cineclubistas pouco evoluem em nossa cidade e as sessões vivem às moscas, limitada ao mesmo grupo, sem a vontade dos realizadores de promoverem e expandi-las.

Um festival como o AFF precisa estimular o consumo de mais filmes alternativos.

Poderíamos ter o “esquenta” do Amazonas Film Festival”:  sessões freqüentes de cinema, promovendo a exibição de longas que não chegam ao circuito comercial com freqüência ou mostras de grandes diretores (Almodóvar, já citado aqui, poderia ser uma ótima escolha para iniciar) em várias partes de Manaus e no interior do Estado.

De nada adianta termos um festival que traz filmes que o público da cidade não se sente estimulado a assistir e viver somente da platéia que vai ver o “Poncho”, Max Fercondini ou a Malu Mader.

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