quinta-feira, 28 de junho de 2012

Roman Polanski: Um gênio do cinema que ainda tem muito a oferecer

Por Diego Bauer


Há duas semanas estreou em algumas capitais do Brasil (e é uma pena saber que Manaus não está entre elas) Deus da Carnificina, o novo filme do fantástico cineasta polonês, Roman Polanski.

Baseado numa famosa peça de teatro, o filme é formado por um elenco de estrelas, com nomes do peso de Kate Winslet, Christoph Waltz, Jodie Foster e John C. Riley, e através de uma história que nos faz lembrar o clássico Quem Tem Medo de Virginia Woolf? (1966), o longa faz um estudo sobre os jogos de aparência existentes na sociedade norte-americana, e como elas podem ser enganosas, e facilmente desmascaradas quando colocadas à prova em situações desagradáveis.

Mas esse texto não é pra falar sobre o filme, mas sim sobre o seu diretor, que está novamente em evidência devido a recorrente consistência dos seus trabalhos.

Falar de Roman Polanski é falar de clássicos inesquecíveis, de um diretor talentosíssimo e de um cinema como obra de arte, algo pouco visto hoje em dia.

Logo no seu primeiro filme, A Faca na Água (1962), Polanski já mostrou as características que marcaram a sua carreira: tramas instigantes, sombrias, desenvolvendo com maestria os conflitos psicológicos dos seus complexos personagens, com uma direção segura, que sabe o que quer, e que domina completamente todos os elementos que compõem o filme.

A Faca na Água foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1964, perdendo para 8 ½ de Federico Fellini.

Após isso, Polanski realizou a famosa Trilogia do Apartamento, com três grandes filmes: Repulsa ao Sexo (1965), O Bebê de Rosemary(1968) e O Inquilino (1976). Com estes trabalhos (principalmente os dois primeiros, que foram realizados ainda no início de sua carreira), Polanski ganhou fama e reconhecimento internacionalmente, e se tornou um cineasta respeitado por público e crítica.

E esse respeito aumentou ainda mais com a realização do clássico Chinatown (1974).

Se com Repulsa ao Sexo O Bebê de Rosemary Polanski se apresentou como um talentoso e promissor cineasta, com Chinatown ele alcança todo o seu potencial artístico, e realiza uma obra perturbadora, instigante, elaborando um suspense de grande qualidade, e dando elementos para que Jack Nicholson fizesse um trabalho memorável.

Chinatown teve onze indicações ao Oscar de 1975, e a primeira nomeação de Polanski a categoria de melhor diretor.

O cineasta foi novamente lembrado pelo Oscar anos depois, com Tess – Uma Lição de Vida (1979). O longa foi indicado a seis Oscars, e novamente Polanski foi indicado ao prêmio de melhor diretor.

Mas a vida do cineasta não se resume apenas a grandes filmes e premiações. Em 1969, a atriz Sharon Tate, esposa de Polanski, e mais quatro amigos do casal foram brutalmente assassinados por membros da Família Manson. O crime aconteceu na própria casa onde Polanski e Tate moravam.
Tate estava grávida de oito meses. No dia do crime, Polanski estava na Europa produzindo um filme.

Anos depois, em 1977, Polanski é acusado de estuprar uma garota de 13 anos. O crime teria acontecido na residência de Jack Nicholson em Hollywood. De acordo com a vítima, Samantha Geimer, o estupro aconteceu durante uma sessão de fotos para a revista Vogue.
Polanski confessou o crime, embora alegou que a relação sexual foi consensual.

O diretor foi condenado a prisão em 1978, mas fugiu para a França antes do julgamento, e desde então nunca mais voltou para os Estados Unidos.

Depois de passar por um momento de tanta turbulência, ele só voltou a realizar filmes relevantes no final da década de 80, com Busca Frenética (1988), numa das melhores interpretações da carreira de Harrison Ford; e também no início da década de 90, com Lua de Fel(1992), e com o subestimado A Morte e a Donzela (1994), que apresenta uma madura e interessantíssima reflexão sobre a vingança, e sobre como o ser humano, por mais racional e equilibrado que seja, acaba se voltando para os instintos mais primitivos quando tem a chance de punir alguém que fez mal para ele.

Mas mesmo depois de tantos clássicos, tantos filmes memoráveis, com a carreira completamente estabilizada, já sendo considerado um dos grandes nomes da história do cinema, e não precisando mais provar nada para ninguém, Polanski ainda estava para realizar o seu melhor filme.

Adaptando a autobiografia do pianista polonês Wladyslaw Szpilman, que sobreviveu ao holocausto em uma Polônia com sede de sangue judeu, Roman Polanski impressiona o mundo com o lançamento de O Pianista (2002).

Filho de poloneses, o diretor viu sua mãe ser morta em Auschwitz, e durante toda a Segunda Guerra Mundial teve sempre de estar fugindo dos oficiais alemães. Portanto, ele era a pessoa ideal para contar a história de Szpilman, que de certa forma lembra a do próprio Polanski.

Contado de forma crua, de difícil digestão, mas ao mesmo tempo com um valor artístico inquestionável, O Pianista é um filme belíssimo, impactante, que não faz concessões aos espectadores. Além, é claro, de contar com uma direção não menos que espetacular, e com um trabalho fantástico de Adrien Brody.

O Pianista foi indicado a sete Oscars, e pela primeira vez Polanski venceu na categoria de melhor diretor. 

Além disso, o filme ganhou a Palma de Ouro, além dos prêmios de melhor filme do César e do Bafta, e melhor direção nos dois últimos.

E se parecia que Polanski havia perdido a mão, após o lançamento do irregular Oliver Twist (2005), ele mostrou que continua em plena forma ao lançar o thriller muito acima da média, O Escritor Fantasma (2010), facilmente um dos melhores filmes de 2010.

Com mais de quarenta anos de carreira, e com a lucidez de um cineasta em plena forma, Roman Polanski ainda se mostra capaz de realizar grandes filmes, e demonstra ter um fôlego que daria inveja pra muito estreante.

E quem sai ganhando com isso somos nós, que temos o privilégio de acompanhar mais trabalhos desse artista genial.

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