segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Crítica: 007 - Operação Skyfall, com Daniel Craig

Por Diego Bauer


Se você tem vinte e tantos anos, talvez nem entenda porque existe um lobby tão grande em cima dos filmes de 007, pois os trabalhos vistos por essa geração (na qual me enquadro), protagonizados por Pierce Brosnan, não justificam um bafafá tão grande, sem saber que a série viveu dias de glória quando estrelada por Sean Connery e Roger Moore.

Vimos o surgimento e a estabilização da franquia Bourne tomando conta do mercado de filmes de ação com cérebro, ao mesmo tempo que a franquia de James Bond entrou em total declínio, culminando com o fraquíssimo 007 – Um Novo Dia Para Morrer (2002).

Quatro anos se passam, e um novo James Bond surge, desta vez interpretado pela estrela em ascensão, Daniel Craig. O revigorante 007 – Cassino Royale (2006) trouxe um protagonista, digamos, mais machão, com cara de homem, menos charmoso e sofisticado (embora isso ainda esteja presente, claro), e trazendo uma nova cara e maneira de vermos o personagem, fez com que a série voltasse a fazer grande sucesso, criando uma nova esperança nos fãs mais antigos, e dando motivos para que a nova geração voltasse a ter James Bond como o nome mais forte para filmes de espionagem.

Anos depois aparece 007 – Quantum Of Solace (2008), um filme, de certa maneira, decepcionante, que não conseguiu manter o alto padrão obtido pelo seu filme anterior, e fez com que as dúvidas sobre o futuro da série voltasse às nossas cabeças.

E o que se podia esperar do novo filme da série? Uma continuação do sucesso de Cassino Royale ou uma queda ainda mais acentuada do que foi a do filme antecessor?

Nem uma coisa nem outra.

Após alguns arquivos importantes serem roubados do computador de M (Judi Dench), a MI6 acaba sendo atacada, pelo que parece ser um ato terrorista, e descobre-se que dentre os arquivos roubados está a lista de todos os agentes infiltrados da agência em vários pontos do mundo. James Bond (Daniel Craig), mesmo debilitado devido a uma missão que lhe deixou sequelas, é encarregado para interceptar o autor dessa ameaça. Depois de uma investigação, ele descobre que quem está por trás de tudo é Silva (Javier Bardem), um ex-agente da MI6, que jurou vingança contra M depois de julgar que foi traído por ela. Ainda por cima, a credibilidade da agência está colocada em jogo pelo governo, sempre questionada por Gareth Mallory (Ralph Fiennes).

O filme começa com uma longa e ótima sequência de ação. Ágil, grandiosa, criativa, de tirar o fôlego, estabelecendo uma relação imediata com o público, querendo mostrar que veremos mais daquilo com o passar do tempo, o que não acaba se concretizando.

Mas até aí não há nenhum problema, pois como poderíamos esperar de um trabalho de Sam Mendes, mesmo se tratando de um filme de ação, as partes em que ele desenvolve a sua linha narrativa sem auxílio de lutas e coisas do tipo é bem construída, conseguindo tranquilamente manter a atenção do público com o desenvolvimento dos personagens no tempo certo, sem causar danos a trama. Soma-se a isso, o fato de Mendes, junto com o seu experiente diretor de fotografia, Roger Deakins, claramente mostrarem uma atenção especial com os enquadramentos do filme, sempre elegantes e bem pensados, muitas vezes se utilizando da economia de cortes para criar imagens marcantes, com destaque para o momento em que Bond está na boate e acena, com uma bebida, para os capangas que o estão observando, ou quando vemos toda a apresentação de Silva com a câmera parada, logo atrás de Bond, deixando que o personagem se apresente aos poucos, e só depois se aproximando, tudo isso sem cortes, demonstrando a reconhecida competência de seu diretor.

Além disso, as sempre presentes inserções de piadas de humor refinado e cortante dão um charme todo especial para o filme, e funcionam maravilhosamente bem, sempre inseridas de maneira pontual, ao mesmo tempo em que fica claro em algumas sequências do filme uma espécie de auto referência pelo fato de estar fazendo 50 anos, seja com inserções pontuais da clássica trilha do filme, ou quando Bond e M entram em um carro bem antigo, fazendo uma clara e óbvia lembrança aos dias de glória da série.

Mas não há como falar das qualidades deste filme sem citar o sempre excepcional Javier Bardem. Com uma construção ousada, criativa, e como de praxe se falando do ator, com uma verdade inquestionável, ele nos brinda com um trabalho de quem sabe o que faz, trazendo uma feminilidade que na mão de muitos atores soaria caricata, mas que com ele se torna completamente verossímil. Ele demonstra ter o domínio total da cena, fazendo com que não vejamos outra coisa senão ele. E, claro, é responsável pela melhor cena do filme, que é a que ele se apresenta para Bond, e ambos tem um diálogo, digamos, revelador.

Porém, mesmo apresentando estas qualidades, a película se perde completamente em seu final, a partir do momento em que os personagens tentam fugir e vão para a casa de infância de Bond. Primeiro que o filme é longo demais, e isso fica ainda mais evidente no seu final, que devido, primeiro a sua concepção como um todo, e depois ao seu desenvolvimento, faz com que ele soe completamente desnecessário, mostrando-se entediante, interminável e muito previsível. Um filme dessa qualidade merecia um final mais digno, pois o que vemos ali é ele se render a um esquematismo de filme de ação antiquado e gasto, terminando em uma sequência digna de trabalhos ruins de Van Damme e Stallone dos anos 80 e 90.

E é realmente uma pena, pois até este momento, o longa se apresentava de maneira admirável, sendo uma mescla interessante entre um filme de ação popular, com um drama maduro desenvolvido com correção.

Porém, não é isso o que fica, e o final que não acabava nunca é o culpado disso.

Bardem, nós e a série merecíamos um desfecho melhor.

NOTA: 6,0

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