quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Crítica: Até que a $orte nos Separe, com Leandro Hassum

Por Diego Bauer


Já é notório que o cinema nacional dos últimos anos aprendeu a como fazer sucesso de público, e pensar que ainda existe preconceito com o cinema brasileiro, pelos próprios brasileiros, é algo que talvez não se possa mais dizer. Mesmo que o filme nacional mais visto da história, Tropa de Elite 2(2010), não seja uma comédia, indiscutivelmente são elas que tem, hoje em dia, o maior poder de levar a massa ao cinema.

Citando os filmes mais recentes, temos Muita Calma Nessa Hora (2010), De Pernas Pro Ar (2010), Cilada.com (2011), As Aventuras de Agamenon, O Repórter (2012), E aí... Comeu? (2012), sendo que este último alcançou a fenomenal marca de mais de 2 milhões e meio de espectadores.

Isso se deve ao fato de que os filmes citados levam muitos elementos da televisão para o cinema, e como o público brasileiro é bastante habituado à linguagem televisiva, é um tiro certeiro investir nessa vertente se se quer levar multidões ao cinema, mesmo que com isso se faça um trabalho com uma série de vícios e pouca profundidade.

E em Até que a sorte nos separe, isso está bastante presente também, embora exista um carisma marcante do seu protagonista que faz com que o mais do mesmo se torne engraçado, mesmo sendo indiscutivelmente mais do mesmo.

O filme conta a história do casal Tino (Leandro Hassum) e Jane (Danielle Winits), que possuem uma filha (Julia Dalavia), e vivem com dificuldade financeira. Certo dia eles ganham cem milhões de reais na loteria, e têm a vida transformada. Depois de esbanjarem todo o seu dinheiro em uma vida repleta de excessos, Tino descobre que a sua fortuna acabou, e que ele precisa mudar radicalmente o seu estilo de vida. Porém, Jane está grávida, e o médico afirma que ela não pode sofrer nenhum tipo de emoção negativa forte, pois isso seria perigoso para a sua saúde. Então com a ajuda de Amauri (Kiko Mascarenhas), Tino tenta diminuir o alto custo de sua vida, sem deixar que a sua esposa descubra.

A história nos remete a Adeus, Lênin (2003), porém as semelhanças param por aí. Enquanto o filme alemão caminha para um estilo de humor mais refinado e sutil, o brasileiro vai para o escracho, tendo como clara referência programas de televisão como Zorra Total e, principalmente, Os Caras de Pau, no qual Hassum é um dos protagonistas.

Como se trata de mais um “filme da Globo”, o filme possui uma série de defeitos, típicos de produtores e diretores de televisão que querem trazer os mesmos elementos de lá para a telona. Como na TV as coisas são mais desenhadas para o público compreender, e há um claro pressuposto de que tudo tem que ficar claro para que não haja interpretações divergentes de quem assiste, é lógico que quando isso é levado para o cinema, o processo já começa com um estilo que trará uma série de complicações ao filme.

Mais do que ter piadas que, ou não funcionam, ou tem um estilo rasteiro, de fácil assimilação, que acabam indo para o caminho mais empobrecido possível dentro do estilo, o filme é sabotado por uma direção que quer desenhar as piadas, deixando claro para o público que ele deveria estar rindo naquele momento. Como na piada em que Tino joga o livro pela janela do carro, em que entra o óbvio efeito sonoro de uma buzina; quando o cofrinho de Tino aparece, e mesmo que já estejamos vendo, o diretor se sente na necessidade de dar um close no lugar; o momento em que Jane fala de sua mãe, e ela recebe uma ligação em seguida, numa obviedade bastante prejudicial; ou quando, na aula de aeróbica, vários planos dos rostos estupefatos das alunas aparecem para ressaltar desnecessariamente o ridículo da cena. Sem a contar a cena da partida de tênis, que é bastante mal filmada, deixando aquela partida muito inverossímil.

Os arcos dramáticos dos personagens são muito previsíveis, e acabam recorrendo a clichês para chegarem ao lugar que almejam. O arrependimento de Amauri é uma pedra cantada desde o início da história; o relacionamento dos jovens Tete e Bruno (Vitor Mayer) é desinteressante para a história, e soa forçado; e na trama principal o clichê está ainda mais presente, com direito até a cena de aeroporto no final do filme, presente em muitos outros filmes do gênero. E quando o filme investe em momentos dramáticos, ele soa piegas e até bobo, embora bem interpretado, principalmente por Hassum e Winits.

O filme também peca na obviedade da fotografia feita por Juarez Pavelak, que ressalta desnecessariamente um tom desbotado em cima de Amauri. A casa do personagem, o seu figurino e o tom sempre impecavelmente elegante já mostram suficientemente bem a personalidade dele, fazendo com que a fotografia assuma um papel repetitivo e até desnecessário.

Apesar de possuir defeitos, a trama se apoia em seu protagonista para alcançar momentos verdadeiramente divertidos. Mesmo fazendo o mesmo trabalho que faz na televisão, com todos os seus maneirismos e vícios, Hassum mostra bastante carisma no decorrer da trama, e cria a vontade da plateia em se relacionar com o personagem e se importar com ele. E mesmo que as piadas sejam repetidas, ou até pobres em alguns momentos, o ator mostra uma habilidade cômica admirável. Isso fica claro nas cenas do leilão, e quando ele descobre que a sua esposa está grávida.

O filme também conta com o correto trabalho de Kiko Mascarenhas e Danielle Winits, e uma participação curta, mas bastante divertida de Ailton Graça e Rodrigo Sant’anna, em momentos dignos de gargalhadas.

Claro que quando falamos de milhões de pessoas irem ao cinema para assistir a um filme brasileiro é algo que merece um olhar minimamente positivo. Porém talvez já seja a hora de tentar dar um passo a frente, e arriscar seguir um caminho mais rico, artisticamente falando, e que não tente ser uma produção de TV com tela grande.

NOTA: 5,5

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