segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Crítica: O Hobbit, de Peter Jackson

Por Diego Bauer

Em 2003 chegou ao fim uma das séries mais respeitadas da última década, a trilogia O Senhor dos Anéis, com os bastante elogiados capítulos, A Sociedade do Anel, As Duas Torres e O Retorno do Rei.

Depois disso, Peter Jackson se viu envolvido em projetos que nem de perto chegaram a ter o mesmo apelo perante o público e crítica, com King Kong (2005) e Um Olhar do Paraíso (2009). Quando os boatos foram confirmados, e foi oficializado que O Hobbit sairia mesmo do papel, os fãs da série se viram novamente excitados com a chance de revisitar a Terra Média, além de ser a chance de o diretor voltar a ganhar destaque no cenário mundial.

 
Como era de se esperar, O Hobbit possui algumas características bem semelhantes a da trilogia de sucesso, mas isso não se configura como um defeito, pois Jackson manteve o que deu muito certo nos filmes anteriores, ao mesmo tempo que inseriu mudanças pontuais que diferenciam este longa dos demais, e dão uma importante revigorada à história.

 
60 anos antes dos acontecimentos que vimos em A Sociedade do Anel, Bilbo (Martin Freeman) recebe uma visita inesperada de Gandalf (Ian Mckellen), que propõe a ele uma jornada para a Montanha Solitária, onde o dragão Smaug ocupa a terra que era dos anões. Relutando a princípio, Bilbo se junta ao grupo liderado pelo mago e por Thorin (Richard Armitage), e parte em uma aventura cheia de batalhas e seres extraordinários.

 
Logo de cara fica bem evidente a principal diferença deste filme para os outros da série: ele é bem mais leve e divertido, assumindo um tom predominantemente cômico em seu decorrer. E isso se mostra como uma opção interessante, visto que os filmes anteriores eram bastante carrancudos, e extremamente sérios e catastróficos. As cenas em que os anões chegam à casa de Bilbo e o momento em que eles passam por alguns problemas com uns trolls são bastante divertidas e engraçadas, e impensáveis de se imaginar nos filmes anteriores.

 
Outro fator que pode ser visto como uma diferença entre os títulos, é que aqui há um ritmo mais constante de ação, não há mais aqueles intervalos intermináveis de uma batalha para outra, em que se falava, falava e falava e demorava quase uma hora de filme até a chegada do próximo momento, fato que se devia, obviamente, à escrita de Tolkien, bastante descritiva. Aqui, talvez pelo filme ser mais de meia hora mais curto, isso trouxe uma concisão benéfica à história, tornando o ritmo do filme mais equilibrado e constante.

E quando o filme desacelera também consegue ser competente e interessante, como na sequência tarantinesca entre Bilbo e Gollum (Andy Serkis), a melhor cena do filme. Este momento, que nos remete a sequência do pub em Bastardos Inglórios (2009), é quase um parêntese dentro da história, um intervalo pensado para criar uma cena diferente de tudo o que vimos nos outros filmes, trazendo versatilidade e um novo frescor à trama, além de ser extremamente bem interpretada.

 
Diferenças a parte o road movie, O Hobbit, consegue manter, e até melhorar, o já altíssimo nível de suas cenas de batalha. Com efeitos especiais melhores do que há dez anos atrás, e com a excelente direção de Jackson, as cenas de luta são um deslumbre visual, além de magistralmente coreografadas, com destaque para a batalha entre os gigantes de pedra, e toda a grandiosa e brilhante sequência dos anões dentro do refúgio dos goblins.

 
Carregando o filme com bastante tranquilidade, e apresentando um carisma realmente admirável, Martin Freeman se sai muitíssimo bem como Bilbo, e é responsável pelos momentos mais divertidos do filme, além de ser competente ao mostrar como o seu personagem, apesar de pequenino, é valente e corajoso.

 
Junto com ele, está o sempre correto Ian Mckellen, que é também um dos principais responsáveis pela mudança de tom que acontece no filme, com um tempo cômico excelente, e uma presença de cena imponente, mostrando toda a sua força e grandiosidade através, muitas vezes, apenas do seu olhar.

 
Que me desculpem esses dois atores, mas a melhor interpretação do filme fica para Andy Serkis. Um trabalho realmente brilhante! Um personagem como Smeagol traz tanta coisa, tantos elementos, tantos sentimentos, que apenas um grande ator seria capaz de levar isso para a tela com a complexidade devida. E Serkis o faz de maneira excepcional.
Aliás, o seu trabalho que sempre foi digno de aplausos, apresenta uma evolução ainda maior aqui. Vemos as emoções do personagem de maneira ainda mais vívida e verdadeira do que antes. E como já disse anteriormente, a cena dele com Bilbo é a prova de que o seu trabalho é, sem medo de errar, um dos maiores do cinema dos últimos anos.

Quando foi anunciado que O Hobbit seria uma trilogia, surgiu uma desconfiança geral, visto que este é o menor dos livros da série do Tolkien, e parecia improvável e desnecessário fazer três filmes com esse material. Bom, se os demais longas são justificáveis e se serão bons, isso ainda não sei. Só sei que este primeiro capítulo, foi uma grata surpresa, e um dos melhores filmes do ano.

 
NOTA:8.5

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