sábado, 31 de março de 2012

Crítica: "Jogos Vorazes", de Gary Ross

Por Emanuelle Canavarro

 
Ouvi dizer que "Jogos Vorazes" era mais uma franquia adolescente, no medíocre estilo da saga de vampiros que brilham no sol. Fiquei até com medo diante dos comentários, mas resolvi tirar essa história a limpo.

Resultado: descobri que o filme não se sustenta no moralismo americanizado pedante, como aquele encontrado em "Crepúsculo" e outros do gênero; pelo contrário, questões morais sérias são abordadas com competência. Não o assistiria de novo, mas vale o ingresso.

 
Adaptado da obra literária de Suzanne Collins, “The Huger Games” – o primeiro de uma trilogia que continua com “Catching Fire” e termina com “Mockingjay”, já publicados no Brasil –, o filme ganhou os ares cinematográficos sob a competente direção de Gary Ross (“Seabiscuit”, 2003).

Mesmo deixando a desejar no quesito originalidade, a abordagem chama a atenção ao dar margem à crítica de uma sociedade que se autoconsome, em meio à manipulação de pessoas como forma de entretenimento.

 
Em uma perceptível referência a “1984”, clássica obra de George Orwell, a trama se constrói em uma sociedade futurista distópica, onde os EUA se esfacelaram e, no lugar dele, surgiu um país chamado Panem – que foi dividido em 12 Distritos, mais a capital.

Devido a uma rebelião frustrada, há 74 anos, que culminou no extermínio do 13º Distrito, a Capital (que mais parece o “país das maravilhas”), criou os "Jogos Vorazes", uma espécie de versão high-tech dos jogos gladiatoriais romanos.

Cada Distrito tem que oferecer, ano após ano, dois tributos: um menino e uma menina, na faixa de 12 a 18 anos. No total, os 24 participantes são levados a uma arena megalomaníaca e têm de lutar até a morte – tudo controlado pelo governo e transmitido para o público em um reality show.

O vencedor, único sobrevivente, garante ao seu Distrito um bônus em suprimentos e regalias pelo próximo ano.

 
A trama acompanha Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence), adolescente de 16 anos que se oferece para lutar no lugar da irmã, sorteada pelo Distrito, ao lado do jovem Peeta Mellark (Josh Hutcherson).

Depois de excelentes atuações em filmes como “Inverno da Alma” (2010), “X- Men Primeira Classe (2011) e “”Like Crazy” (2011), a atriz acrescenta muito ao filme com a sua performance que transita da doçura ao medo, passando pelo tom desafiador, com bastante desenvoltura.

Agora, ela aparece cercada por ótimos nomes, como Stanley Tucci, Wes Bentley, Woody Harrelson, Toby Jones, Elizabeth Banks e Donald Sutherland.

 
O espetáculo de horrores reflete a temática do poder da manipulação da comunicação. Algumas cenas parecem até inverossímeis em um primeiro momento, mas, se considerarmos o fato de que vivemos num mundo que dá ibope para coisas como Big Brother e outras involuções, elas acabam se tornando plausíveis.

Os Jogos Vorazes nada mais são do que ferramentas de controle de um estado fascista, que explora seus 12 Distritos para que os habitantes da Capital vivam na pomposidade do luxo.

 
Apesar do teor relativamente violento da história, o diretor Gary Ross opta por desviar-se elegantemente da barbárie, dando vislumbres dela, claro, mas extraindo das cenas o impacto gráfico que poderia torná-las fetichistas (obviamente, por conta da classificação indicativa).

O enredo dá brecha a uma discussão sobre a preocupação cada vez maior de uma geração jovem que cresce em meio à violência permitida e incentivada pela mídia, quando o governo de fato obriga seus jovens a serem violentos com o seu próximo.
 
O sempre eficiente Stanley Tucci está excelente como apresentador do torneio, Caesar Flickerman, à moda Pedro Bial (sem as gracinhas ou arroubos poéticos), que varia sua personalidade de incentivador dos competidores a aquele que deseja mais sangue e audiência.


Woody Harrelson, o responsável por orientar Katniss e Peeta antes da competição, também merece destaque pela atuação.

Josh Hutcherson conquista sua importância na trama, como Mellark, demonstrando uma insegurança acompanhada de integridade.

 
O blockbuster arrecadou US$ 61,1 milhões nos EUA e Canadá e ficou em primeiro lugar nas bilheterias da América do Norte, pelo segundo fim de semana consecutivo.

De acordo com as estimativas dos estúdios, "Jogos Vorazes" está acima de "Fúria de Titãs 2", com Sam Worthington, que amargou o segundo lugar em sua estreia com US$ 34,2 milhões.Perseu derrota monstros gigantes em “Fúria de Titas 2″, mas provou que não tem a mesma força para derrubar uma menina armada de arco e flecha.

 
NOTA: 7.5

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