segunda-feira, 12 de março de 2012

Crítica: W.E. - O Romance do Século, de Madonna

Por César Nogueira

A importância de Madonna para a música é indiscutível. A cantora tem no currículo 12 discos, 9 Grammys, mais de 300 milhões de discos vendidos e músicas que fazem parte da, digamos, cultura global. Fora isso, a artista sabe como poucos popularizar modas e criar polêmicas. A Rainha do Pop também causa controvérsia quando se arrisca no cinema.

De A Certain Sacrifice, filme de guerrilha que fez antes de ser famosa às obras com o então marido Guy Ritchie, ela recebeu mais trolladas do que elogios. Agora, em W.E. - O Romance do Século, seu segundo trabalho como diretora, há mais munição para os convictos de que ela deveria se concentrar apenas na música.
No filme, acompanhamos duas histórias em paralelo. A nova-iorquina Wally Winthrop (Abbie Cornish) vive infeliz. Casada com um médico que vende uma imagem de sucesso e moral exemplares, mas que na intimidade se revela alcoólatra, infiel e covarde, ela idealiza, numa tentativa de escapismo da realidade, o relacionamento de Wallis Simpson (Andrea Riseborough) com o rei Edward VIII (James D`Arcy).

Isso porque o monarca abdicou o trono da Inglaterra em plena ascensão do Nazismo para se casar com a “americana divorciada” e, assim, viver um conto de fadas. No decorrer da história, Wally descobre que a vida do casal estava longe de ser um filme da Disney, principalmente para Wallis.
O maior trunfo de W.E. fica por conta do figurino. A reconstituição de época é competente. Além disso, ela vai além do elogio ao jeito inglês de ser, tão corriqueiro em Hollywood. Como Wallis admira admira muito Wally, a nova-iorquina passa a se vestir de vez em quando como as mulheres da segunda metade do século XX.

Com isso, as fronteiras entre o presente do filme e o passado idealizado pela contemporânea ficam borradas – de maneira orgânica e coerente com a proposta do filme.

A fotografia também tem pontos fortes. Madonna opta por closes e planos fechados nas expressões dos personagens, o que ressalta o tom intimista da história. Este é ressaltado com o desbotamento e o cinza predominantes.
A quebra de padrão que era uma americana divorciada no centro da monarquia britânica aparece sutilmente na fotografia, com o vermelho vivo do batom usado por Wallis. Apesar de ter algumas qualidades técnicas, “W.E.” tem arestas consideráveis no roteiro e na direção.

Nenhum personagem tem carisma o suficiente. O médico constrange com sua canastrice. Wally sofre como uma protagonista de novela mexicana e precisaria ir imediatamente a um psiquiatra, porque as conversas com a sua heroína são um claro sintoma de esquizofrenia. Edward VIII se mostra uma presença nula. Wallis nos é apresentada como uma mulher sem beleza, mas com muita personalidade.

Por alguns milésimos, parecia que ela seria uma personagem à la Almodóvar. Enquanto sua falta de charme ficou clara, sua força foi engolida pela sua resignação às circunstâncias.

A coerência das ações do roteiro perde força com a evidente falta de timing narrativo. Por exemplo, você acha que o filme, felizmente, vai acabar. Mas surgem mais acontecimentos. Então, chega o que você considera o clímax. No fim das contas, era só o fechamento de uma ponta que você nem tinha mais interesse.
Por isso, o sentimento de “tanto faz como tanto fez” ganha força à medida que as quase duas horas de projeção se aproximam do fim.
W.E. - O Romance do Século é um drama genérico de tamanho médio. Não conquista, mas pelo menos não ofende. Parece-me que, como Madonna revolucionou a indústria da música, as pessoas (e a própria) acham que ela conseguirá fazer o mesmo no cinema. A artista vem tentando isso há mais de trinta anos, mas até agora não conseguiu.

Nessa área, ao olharmos o todo, veremos que ela tem mais fracassos e críticas negativas no currículo. Se Madonna continuar desse jeito, a chance dela entrar para o lado da história do cinema que causa vergonha alheia é grande.

Até agora, essa combinação não tem se mostrado relevante.

Nota: 6,5

Nenhum comentário:

Postar um comentário