segunda-feira, 1 de março de 2010

Crítica - NINE


Expectativa. Essa é uma palavrinha maldita qunado vou analisar um filme.

Explico: quando vejo um trailer maravilhoso, ou sei da continuação de um sucesso de grande potencial ou ocorre um lançamento de algo que promete revolucionar a história do cinema, começo a falar desse filme direto, contando os dias e as horas para o lançamento dele. Quando, enfim, chega a hora de assistir o dito cujo, eis que deparo-me com algo vazio,sonolento, chato. Na melhor das hipóteses, aceitável. E saio prometendo que nunca mais vou criar expectativa por um filme.

Matrix Revolutions, 300, Carandiru, Homem-Aranha 3, Watchmen, Bruno, O Curioso Caso de Benjamin Button e Avatar são alguns desses filmes "amaldiçoados" pela praga da expectativa.

Agora chegou a vez de Nine se juntar a eles.
Inspirado no clássico 8½ de Federico Fellini, o filme acompanha a história de Guido Contini, grande diretor italiano que passa por uma crise criativa, impedindo-o de dar início a seu novo filme. Guido procura nas sete mulheres mais importantes de sua vida a inspiração para conseguir superar esse problema. Ele só não sabe que tal jornada também irá mudar sua vida por completo.

Nine é dirigido por Rob Marshall, diretor que conseguiu fazer um dos melhores muisicais das últimas décadas, Chicago. No filme de 2002, os números musicais estavam associados ao pensamento da protagonista da trama, Roxie Hart (Renée Zellweger). Assim, Marshall conseguiu superar uma das maiores barreiras dos detratores dos musicais: a de que os personagens saíam cantando do nada. Esperava-se que dessa vez o diretor conseguisse encontrar uma nova forma de apresentar os números musicais com o mesmo brilho de seu trabalho anterior. Porém, não é isso o que se vê na tela, causando a inevitável comparação entre Chicago e Nine.
A narrativa, porém, é o menor dos males de Nine. Os grandes problemas do filme estão nas músicas e nos personagens.

Se em Chicago as músicas possuíam uma energia hipnotizante, capaz de nos conduzir para dentro da história, utilizando a batida gostosa do jazz, aqui elas são tediosas e irrelevantes. É verdade que as partes interpretadas por Fergie (sim, ela mesma, do Black Eyed Peas) e por Marion Cotillard são excelentes e emocionantes, mas quando chega os momentos de Daniel Day-Lewis, Judi Dench, Sophia Loren e Nicole Kidman....
Interessante é notar que a música mais gostosa, "Cinema Italiano" intepretada por Kate Hudson, de tão mal inserida no filme passa despercebida.
Quanto as atuações, cometerei um ato que vai me levar ao inferno: criticar Daniel Day-Lewis. Um dos maiores atores da história do cinema americano, Day-Lewis fez de tudo para não aceitar o papel de Guido Contini, pois achava que não cantava o suficiente para estrelar um musical.
Foi depois de muita insistência de Rob Marshall que ele topou o desafio. O receio do astro de "Sangue Negro" se justifica: percebe-se o quanto Day-Lewis não está a vontade, cantando quase sempre de cabeça baixa, sem mostrar muito o rosto e com cara de cãozinho abandonado.
Se a idéia era mostrar a angústia que um artista passa ao dar início a uma nova obra, ela foi totalmente equivocada, pois Guido não passa de um tolo arrogante, um mulherengo e nada mais. O gênio que todos falam que ele é, passa longe.

Já o elenco feminino se destaca pela beleza.

E que beleza!

Penelópe Cruz, Nicole Kidman, Kate Hudson, Fergie estão incrivelmente lindas. Sophia Loren e Judi Dench emprestam elegância e glamour ao filme. Porém todas interpretam personagens sem carisma e pouco exploradas pelo roteiro.

Quem se salva é Marion Cotillard, intérprete da sofrida esposa de Guido. A atriz consegue transmitir os sacrifícios que ela faz pelo marido, sendo sempre um porto seguro para ele, apesar todas as traições de Guido.
É a única personagem de todo filme que realmente emociona.
Para não dizer que tudo é um desastre, a parte técnica do filme é um primor. O figurino retrata bem a revolução cultural e sexual dos anos 60, época na qual o moderno e o clássico disputavam território. Para isso, é só comparar as diferenças entre as personagens de Kate Hudson e Marion Cotillard.
A direção de arte e, especialmente, a fotografia do longa são de deixar qualquer amante do cinema extasiado.

Nine faz parte da atual safra de musicais em que a pretensão é maior que o resultado concreto. Dessa forma, junta-se a "Across the Universe", "Mamma Mia!", "Hairspray": quando chega na metade da música que está sendo tocada, a gente torce para acabar logo.
NOTA:6,0

Por Caio Pimenta
Diretor-Geral do SET UFAM

PS: já estou esperando "A Origem" de Christopher Nolan. Ai,ai,ai....

3 comentários:

  1. Olá Set UFAM!

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  2. Realmente, Nine não é tudo aquilo que prometia. Eu, como grande fã de musicais, também tinha altas expectativas, as quais não foram de fato cumpridas.

    Pra mim, o problema não chegou a ser a direção do Rob Marshal. Pelo contrário, ele continua demonstrando, como fez em Chicago, uma boa capacidade para criar números musicias interessantes e imagens hipnotizantes. Não, o problema é mesmo o roteiro. O filme se mostra bastante presunçoso ao tentar desvendar o processo criativo de um diretor, quando na verdade tudo o que consegue é mostrar é um cara mimado, que corre de uma mulher para outra em busca de soluções. Soma-se a isso o fato de de que Daniel Day-Lewis, mal escalado, não consegue transmitir o estilo malandro do personagem (Javier Bardem, a escolha inicial, realmente era o mais apropriado) e de que a maior parte das músicas, apesar de contagiantes, não agregam nada à história, e vc tem filme nada mais do que mediano.

    Vale a pena assistir, como foi colocado, pela atuação tocante de Cotillard (seus dois números musicais são os melhores) e por algumas músicas divertidas e animadas (como a de Penélope Cruz e Judi Dench).

    Como fã de musicais, eu admito que nem todo filme do gênero tem que ter necessariamente uma história complexa e madura para funcionar (as exceções são Chicago, Um Violinista no Telhado, All That Jazz e Cabaret, os quais possuem roteiros inteligentíssimos). Musicais como Moulin Rouge, A Noviça Rebelde e Hairspray têm histórias simplistas, para dizer o mínimo, mas empolgam justamente pela sua energia, inventividade e pela vontade de pura e simplesmente divertir o público com boas músicas.

    Nine, por outro lado, ao querer ser mais sério do que deveria ser, consegue apenas deixar ainda mais claras as suas falhas.

    Nota: 7/10

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  3. Ah, e A Origem também já está na minha lista de prioridades cinéfilas de 2010. ;-)

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