sábado, 18 de fevereiro de 2012

Crítica: A Dama de Ferro, com Meryl Streep

Por César Nogueira

A Academia gosta de filmes sobre o jeito inglês de ser. Há duas evidências disso. Uma é o feel-good movie O Discurso do Rei, melhor filme do Oscar de 2011. A outra é A Rainha, de 2006, que foi uma consagração para sua protagonista, Hellen Mirren, vencedora do prêmio de melhor atriz do mesmo ano. Agora, o gosto dos acadêmicos é atiçado com A Dama de Ferro. A história inspiradora da ex-primeira-ministra inglesa Margareth Thatcher foge das convenções e consagra o Talento de Meryl Streep.

A Dama de Ferro mostra Thatcher (Streep) já idosa e com o Mal de Alzheimer. Ela reluta para aceitar as limitações da idade e se recusa a admitir que as conversas com o  marido, Denis (Jim Broadbent), são delírios causados pela doença. Para se confortar, a estadista se prende às glórias do passado com fotos e vídeos. Assim, suas trajetórias política e pessoal são contadas em paralelo com a da Inglaterra.

Dirigida por Phyllida Lloyd, a produção tem vários pontos fortes. A fotografia opta por sempre realçar a grandeza da protagonista e cerca-a com o passado por meio de fotos. Além disso, é um ponto positivo a variação entre tons quentes (na juventude de Thatcher e na Guerra das Malvinas, ponto de virada da história) e frios (na velhice e nos momentos difíceis da vida da protagonista).

Outros pontos fortes são a direção de arte e a maquiagem. A reconstituição dos cenários e das roupas da Inglaterra pós-guerra é fiel. Nela, destaca-se o figurino de Thatcher. A firmeza das suas ideias e o fato dela ir contra a corrente são evidenciados com o contraste entre as cores vivazes das suas roupas e o preto e o cinza dos seus colegas. A maquiagem potencializa o trabalho de Streep. O retrato da decadência física da "Dama de Ferro" é admirável, assim como detalhes como suas características rugas, gengiva e cabeleira.

O preparo de ator é o maior dos pontos fortes. Jim Broadbent incorpora o companheiro de Thatcher que não perde o humor nem quando eles sofrem um atentado terrorista. Alexandra Roach faz a estadista antes do auge e mostra com competência que ela trabalhou os seus ideais desde a juventude. Mas, seguramente, o maior destaque fica com Meryl Streep.

A atriz acerta nas variações de dicção e segurança de Thatcher no decorrer da sua vida. Além disso, a artista encarna o seu papel com maestria. Vemos a estadista que mudou os rumos da Inglaterra no pós-guerra, e não a pessoa que fez uma ensolarada dona de hotel que canta os sucessos do Abba (no caso, Mamma Mia!, o filme anterior de Llody).

Margareth Thatcher foi uma das maiores figuras políticas da década de 80. Na sua trajetória política, há o conflito com os sindicatos ingleses, as privatizações, a Guerra das Malvinas e o fim da União Soviética. Lloyd opta por usar todos esses eventos como suporte para os conflitos psicológicos dela. Por outro lado, a “Dama de Ferro” é mostrada como alguém que luta contra o machismo da Inglaterra pós-guerra e pratica sem saber o “Faça Você Mesmo”, filosofia dos punks que tanto a odiavam.

Dois dos temas de A Dama de Ferro são a autoconfiança e a perseverança, tão comuns em feel-good movies como “O Discurso do Rei”. Mas foge das receitas do gênero ao defender que precisamos saber desistir e aceitar o fim. Assim como “A Rainha”, o filme tem uma protagonista forte, baseada numa figura histórica importante e vivida por uma atriz extraordinária; por conta desse trabalho, a expectativa que Meryl Streep ganhe seu terceiro Oscar é grande.

Os pontos em comum entre os três filmes são a qualidade das atuações o retrato simpático das tradições inglesas e das particularidades daquele povo de senso de humor peculiar.

Pois é, Hollywood espera que deus continue salvando a rainha.


NOTA: 8,0

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