quarta-feira, 25 de abril de 2012

Classic Movies: "Laranja Mecânica", de Stanley Kubrick

Por Jéssica Santos

Baseado no livro de Anthony Burgess, Laranja Mecânica é um filme audacioso.  A história parecia ser impossível de ser filmada no cinema, mas Kubrick escreveu um roteiro inteligente e o realizou brilhantemente.

O personagem principal, Alex De Large (Malcolm McDowell), é um rapaz que estuda e tem família, entretanto, é um criminoso; ele sente prazer em praticar a “ultraviolência” com seu bando, os “Droogs”.

Eles são bem diferentes, numa Londres do futuro, vestem-se com macacões brancos e chapéus pretos, comunicam-se com uma linguagem própria (uma mistura de russo e inglês), e praticam atos violentos contra idosos e mulheres, de forma gratuita.

As sequências no filme chocam porque não é comum ver esse tipo de crueldade mostrado com humor negro em muitos momentos, e principalmente, com música clássica ao fundo.

E ainda: imagine como é ouvir Alex cantar e dançar “Singing in the Rain” enquanto comete barbaridades? Realmente marcante porque até aqui a música nos lembrava de um lindo musical de Hollywood.

É, mas a trilha sonora de Laranja Mecânica é um espetáculo à parte: além da música clássica e do sucesso hollywoodiano, há o toque futurista de Walter Carlos, que criou a memorável e forte música do filme, que talvez você não lembre exatamente como é, mas quando ouvir saberá de onde vem.

O tema é diferenciado assim como tudo no longa também é. Vários tipos de arte são ressaltados no filme: os ambientes muito elegantes seguindo as influências da Pop art; as danças e músicas (Alex comete as maiores atrocidades, mas adora ouvir Beethoven, e a música clássica toca durante boa parte do filme), as sequências em câmera lenta, (como no momento em que Alex joga seus amigos no rio) e o roteiro que detalha bastante o caminho do personagem (como quando ele vai fazer o novo tratamento e vários papéis são assinados um a um).

Os primeiros 45 minutos do filme são para mostrar as crueldades atentadas por Alex e os Droogs. 

Algumas histórias de ultraviolência são contadas e naquele momento parecem que se encerram por ali, sendo soltas da história, mas depois o expectador percebe que não é bem assim.

Após sermos apresentados ao mundo da ultraviolência praticada por Alex e seus amigos, ele é traído por sua gangue e acaba preso. Para livrar-se mais rápido da cadeia, Alex decide participar da técnica Ludwig, que promete curar delinquentes, os deixando prontos para voltar à sociedade em pouco tempo.

Alex é levado para o Centro Médico. O tratamento consistia na visualização de imagens que mostravam a violência de todas as formas, passadas em um grande telão em cores e sons.

O paciente era obrigado a olhar as cenas, pois seus olhos estavam impedidos de se fecharem. Alex começa a passar mal ao assistir às tais cenas, e pedia que o deixassem vomitar.

Essa era a intenção do tratamento: fazer com que o paciente tivesse a sensação de terror e desamparo, pois aí “fará as associações mais proveitosas entre o catastrófico ambiente da experiência e a violência que presencia”, de acordo com o Dr. Brodsky, que o “tratou”, no filme.

O “tratamento” de Alex o deixa indefeso; assim ele se vê sozinho e sem saber para onde seguir. Seus amigos por ironia tornaram-se policiais e se voltam contra ele.

Alex não consegue mais praticar a violência, mas o mundo sim. Aqui entra o que considero mais interessante no filme: a crítica à sociedade doente e hipócrita em que vivemos.

Kubrick retratou o futuro de forma bem interessante, muito do que mostrou já foi moda e já aconteceu. 

Mas se o filme era forte e queria mostrar uma violência absurda que só aconteceria num mundo surreal, ele errou.


Hoje, os limites da violência são outros, e possivelmente haja muitas pessoas que nem se impressionem ao ver Alex estuprar, espancar e matar pessoas, porque atualmente isso, infelizmente, está diariamente nos jornais.

Mas o chocante e contemporâneo do filme está no fato de os crimes serem cometidos por jovens bobos e sem motivo nenhum pra isso, que se divertem cometendo atos de crueldade.

Kubrick já tinha vários filmes consagrados na carreira quando escreveu e filmou Laranja mecânica: entre eles Spartacus, Dr. Fantásticoe 2001. Depois ainda fez alguns filmes importantes como Nascido Para Matar, O iluminado e De Olhos Bem Fechados.

Até então, conhecido apenas por séries de televisão, Malcolm McDowell conseguiu este grande papel em Laranja mecânica e brilhou. Foi sórdido e inocente nesse filme.

Um garoto que conseguiu despertar no público o ódio e a pena, em seguida. Mas foi injustiçado ao não ser lembrado o Oscar, recebendo apenas indicação no Globo de Ouro, pela sua atuação no filme. Depois de Laranja Mecânica, Malcolm não fez nenhum filme tão marcante quanto, mas não parou de atuar nunca, e já tem mais de 200 filmes na carreira.

Laranja mecânica sempre será atual e nos faz refletir como nossos direitos são esquecidos quando não vão ao encontro dos interesses dos grandes poderes.

Um filme para nunca mais esquecer.

Nota:10,0

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