terça-feira, 10 de abril de 2012

Crítica: "Espelho, Espelho Meu", com Julia Roberts

Por Caio Pimenta

Recriar ou recontar histórias faz parte da indústria de Hollywood. Todos os anos vemos passar pelas telonas novas adaptações de clássicos como “Alice”, “Rei Arthur”, “Os Três Mosqueteiros”, “A Bela e a Fera” e por aí vai.

Porém, o que fizeram com “A Branca de Neve e os Sete Anões” é impressionante: duas adaptações do clássico de Walt Disney serão lançadas neste ano com uma diferença entre dois meses para cada um.

 
O primeiro é este “Espelho, Espelho Meu” que tem como grande atração a presença de Julia Roberts como a Rainha Má. No dia 1º de junho, estreia “Branca de Neve e o Caçador” com Charlize Theron e Kristen “Crepúsculo” Stewart.

Coisa de gênio, né? NOT!

 
A história de “Espelho, Espelho Meu” traz alterações sensíveis em relação à trama original. Aqui, a Rainha Má (Julia Roberts) é madrasta de Branca de Neve (Lily Collins), e domina o reino com mãos de ferro, após enfeitiçar o pai da heroína. Porém, as coisas começam a mudar após chegar ao local um príncipe (Armie Harmer) que vai mexer com o coração das duas moças e provocar a luta entre o bem e o mal.

 
As alterações percebidas ao longo de “Espelho, Espelho Meu” em relação ao original não chegam a incomodar e, algumas delas, são extremamente bem inseridas.

Dois bons exemplos são a proposta de trazer uma Branca de Neve mais guerreira, algo inusitado e bem inserido no contexto, e a passagem da maçã que resulta em um momento interessante devido ao encaixe no longa.

Além disso, é possível ver uma válida tentativa em dar novas características a personagens clássicos, como um lado mais humorado e sarcástico à vilã, trazer o príncipe como um fracote e anões de índole duvidosa.

 
Apesar de todas essas alterações interessantes, “Espelho, Espelho Meu” não chega a dar liga em nenhum momento, principalmente, devido à direção equivocada de Tarsem Singh e ao elenco pouco à vontade em seus papéis.

Com filmes questionáveis na carreira (o morno suspense “A Cela” e o épico de ação “Imortais”), Singh tentou fazer uma obra mais leve, apostando em um misto de comédia e aventura, com pequenos toques de romance.

 
Porém, as cenas de ação não chegam a convencer em nenhum momento, não colocando os personagens em um perigo que nos faça temer pela segurança deles, o romance entre Branca de Neve e o príncipe é tão insosso que dá vontade de torcer para a Rainha Má e as partes de comédia funcionam muito mais pelo talento de veteranos como Julia Roberts e Nathan Lane do que pela própria construção da cena em si.

Tudo isso acaba prejudicando o ritmo da história que não chega a empolgar, levando o filme a ser morno em praticamente todos os momentos, além de perder as potencialidades de inovação que o roteiro trazia.

Outro erro é não conseguir explorar os sete anões bem, o que faz com que cada um deles surja sem uma identidade verdadeiramente marcante, algo elementar na história original.

 
Já o elenco se divide entre os esforçados e os constrangedores. Julia Roberts bem que tenta trazer um sarcasmo à Rainha Má, sempre com um ar de superioridade e leve ironia, distribuída em tons de voz amenos com outros mais gritantes. Porém, seu rosto de boa moça jamais a torna temível como vilã.

 
Para piorar, Julia ainda tem como antagonista a sofrível Lily Collins que, baseada em caras e bocas, faz uma Branca de Neve sem graça, fazendo o público torcer pela vilã, um grave problema do filme.

 

Enquanto Nathan Lane, intérprete do mordomo da Rainha Má, consegue divertir com suas tiradas sutis e divertidas, além de ser um personagem rico, pois, mesmo sendo aliado da vilã, sabe o quanto ruim são os seus atos e reinado, Armie Hammer chega a nos deixar com vergonha de sua atuação como o príncipe.

Pouco à vontade no papel de galã, o ator não consegue disfarçar o incômodo de fazer um papel que oferece tão pouco, sendo apático tanto nos momentos em que precisa ser herói ou mais atrapalhado.

Porém, nada se compara ao trecho em que precisa imitar um cachorro na frente de Julia Roberts. Não sei vocês, mas a impressão que tive foi que Harmer estava visivelmente envergonhado ao gravar a cena.

Ou será que fui quem ficou com vergonha alheia?

 
A direção de arte extravagante, com toques meio indianos, principalmente no castelo luxuoso da Rainha Má com suas paredes gigantes e uma decoração detalhista, além do figurino luxuoso, com toques “ladyguagianos” que, na trama (e somente nela), funcionam muito bem são os principais pontos altos de “Espelho, Espelho Meu”, fazendo o filme não ser um desperdício de tempo como um todo.

Pode anotar aí: boas chances de ser indicados nessas duas categorias no Oscar 2013.

Além disso, é vale ressaltar a bela animação que nos introduz na história contada de maneira sarcástica pela Rainha Má.

 
Com boas ideias e uma execução irregular, “Espelho, Espelho Meu” é um filme que poderia render um pouco mais. Não chega a ser um desastre completo, mas fica aquém do que poderia ser.

Mas não se preocupem! Daqui a pouco tem mais uma versão da mesma história chegando por aí nos cinemas mais próximos.

Gênios!
 
NOTA: 6,0

PS: após o fim do filme, há um momento "Quem Quer Ser Um Milionário?" constrangedor. Repare que todos os outros atores, exceto a protagonista, evitam a todo custo dançar ou até mesmo cantar. A cara de "diz o corta, pelo amor de Deus!" é evidente em Hammer, Lane e no coitado do Sean Bean.

Nenhum comentário:

Postar um comentário