terça-feira, 17 de abril de 2012

Crítica: "12 Horas", de Heitor Dhalia

Por Diego Bauer



Heitor Dhalia é um dos cineastas mais promissores que surgiu no Brasil nos últimos anos. Mesmo com apenas três longas na bagagem, o diretor mostrou que tem grande potencial e talento. Estreou com o elogiado Nina (2004), depois surpreendeu com o original O Cheiro do Ralo (2006), e entregou o seu melhor filme três anos depois, o sensível À Deriva (2009), facilmente um dos melhores filmes brasileiros feitos em 2009.

Depois do sucesso de seu último filme, o cineasta brasileiro recebeu a chance de trabalhar em um filme norte-americano e, infelizmente, com isso deu alguns passos para trás na carreira.

É claro que quando se existe a chance de vermos um diretor brasileiro tendo a oportunidade de trabalhar no centro mais poderoso de cinema do mundo, ficamos ansiosos e até encaramos isso como um processo de evolução de um diretor que quer alcançar voos mais altos na carreira.

Mas entre ter escolhido um filme como 12 Horas (2012), com um roteiro fraquíssimo (falarei mais disso adiante), em que o estúdio interfere direta e indiretamente no resultado final, ou ter preferido desenvolver um outro projeto aqui mesmo no Brasil, mesmo que menor, mas ainda assim seu, e com total autonomia, é natural que vejamos que a segunda opção é a mais correta, mesmo que a primeira aparente que irá proporcionar maior visibilidade.

12 Horas conta a história de Jill (Amanda Seyfried), uma garota que foi sequestrada por um maníaco, quase foi morta, mas conseguiu escapar dele. Este fato se tornou um grande trauma em sua vida, e ela nunca conseguiu superá-lo. Depois de alguns anos do acontecido, Jill chega em sua casa, e nota que a sua irmã (Emily Wickersham) desapareceu.

Convencida de que se trata de mais uma ação do maníaco, ela tenta a ajuda da polícia, mas não consegue por acharem que ela é louca, e que também inventou todo o sequestro que sofrera anteriormente. Sem a ajuda de ninguém, Jill corre contra o tempo para salvar a vida de sua irmã.

A sinopse pode até vender uma thriller surpreendente, com muitas reviravoltas e boas doses de apreensão, mas o filme segue o caminho completamente contrário. É impressionante como ele consegue ser morno durante praticamente toda a sua projeção, fazendo com que ele se torne arrastado, quando deveria estar eletrizante.

O roteiro escrito por Allison Burnett é ruim, apresenta buracos inacreditáveis e é totalmente inverossímil em alguns momentos. Por exemplo: como que ninguém da polícia achou o esconderijo das vítimas, já que foi feita uma investigação rigorosa sobre o crime? Como, como, como ela pode ter ido ao encontro do assassino daquela forma, depois de tudo o que aconteceu?

Além desses e outros problemas, a busca pela irmã de Jill é mal feita, com soluções fáceis e momentos de vergonha alheia, como na cena em que ela pergunta a um skatista, um completo estranho que ela encontrou na rua, se ele tinha alguma informação para ajudá-la. Dá pra acreditar nisso? Pior que isso, só a resposta que ela recebe de volta.

E nem Dhalia se salva. A direção é frágil, e não diz a que veio. Não enxergamos nem de longe a ousadia da direção de O Cheiro do Ralo, e nem a sensibilidade vista em À Deriva. O que vemos é um thriller insosso, e que aparentemente sofreu forte influência do estúdio. Além disso, a recorrente utilização de flashbacks só atravanca ainda mais o filme, e pouco acrescenta no desenvolvimento da história.

Apesar de o filme ter tantos defeitos, pode-se dizer que o trabalho feito por Seyfried é correto e competente. Mostrando Jill como uma garota atormentada pela situação que passou, a atriz desenvolve uma interpretação na medida correta, sem exageros, desenvolvendo com qualidade o distúrbio psicológico da personagem sem recorrer a clichês. 

Infelizmente ela é prejudicada pelo roteiro, e confesso que fiquei com vontade de ver como ela se sairia se tivesse uma história com maior potencial dramático.

Apesar de ter feito uma escolha errada, gosto de acreditar que isso foi apenas um tropeço na carreira de Dhalia, e torço para que ele seja mais criterioso quando for escolher o seu próximo projeto, pois 12 Horas deveria ser um daqueles filmes em que ficamos grudados na cadeira, e faria com que o tempo passasse voando, mas aqui o filme demora, e muito, parecendo que horas e horas foram perdidas, infelizmente.

NOTA: 3,5

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