domingo, 15 de abril de 2012

Crítica: “À Toda Prova”, de Steven Soderbergh

Por Caio Pimenta



O início é inspirador: com uma marca roxa no rosto escondida pelo cabelo, Mallory chega a uma lanchonete em um pequeno vilarejo dos EUA. Em seguida, ao avistar um homem que acaba de estacionar seu carro, ela solta um “Oh Shit”, prevendo um grave problema nos próximos instantes.

Após um diálogo tenso e irônico, o rapaz parte para cima dela com um golpe violentíssimo. Pronto! A coitada vai apanhar para burro, certo?

Eis, então, a grande surpresa: Mallory reage e mostra uma movimentação incrível, sendo tão violenta quanto seu oponente. Até o fim da sequência, somos espectadores de um festival de socos e pontapés que não procuram poupar o espectador de qualquer pancada mais forte.

Neste misto de Tarantino e elementos da blaxploitation dos anos 70, “À Toda Prova” dá a impressão de que será um filme diferente da maioria das obras de ação do cinema atual ao conseguir criar bons diálogos e ter uma violência incomum.

Porém, o novo trabalho de Steven Soderbergh não se sustenta por muito tempo, sendo apenas um mero exercício de estilo vazio e com uma história confusa e mal resolvida.

A trama segue a agente secreta Mallory (Gina Carano) que trabalha em uma empresa especializada em prestar serviços militares para contratantes diversos comandada por Kenneth (Ewan McGregor). Após uma operação de resgate bem-sucedida em Barcelona, ela é convocada para outra missão em Londres e acaba descobrindo uma armadilha contra ela.

Como thriller de espionagem, “À Toda Prova” até consegue ser eficiente ao trabalhar a aura de mistério dos personagens com objetivos ambíguos e imprevisíveis. Antonio Banderas e Michael Douglas, os dois mais experientes do elenco, fazem isso com sucesso e usam o pouco tempo em cena para dar esse tom de mistério.

Apesar de se esforçar com um papel de um empresário levemente inseguro, Ewan McGregor não possui tanto talento para compor um papel enigmático e decisivo na trama. Já Michael Fassbander (o Magneto de “X-Men: Primeira Classe”) só pode emprestar elegância e charme, pois, o roteiro não é tão generoso com ele.

O filme, porém, pertence à ex-lutadora de MMA Gina Carano que surpreende em sua estreia como atriz por conseguir segurar o filme de maneira eficiente em meio a nomes mais do que conhecidos do grande público.

Carano pode até não ser das mais carismáticas e expressivas, porém, para uma personagem enigmática até que funciona bem. Interessante também é como ela consegue trabalhar a suavidade que apresenta, pois, ao observá-la em primeiro momento, você não a considera uma pessoa violenta, muito menos capaz de lutar como faz durante o longa, o que surpreende positivamente.

Mesmo com o elenco rendendo relativamente bem, Steven Soderbergh não consegue dar ritmo e fluidez à trama, complicando a história além do necessário.

Usando elementos que deram certo em “Onze Homens e Um Segredo”, o cineasta coloca os personagens em diálogos enigmáticos, dando a entender que tudo aquilo culminará em algo inteligente e surpreendente, já que boa parte das ações ficam sem grandes explicações.

Porém, ao chegarmos na conclusão, além de ser o óbvio, você fica com a impressão que não era preciso tantas voltas e tudo não passou de mise-en-scène gratuita.

Para piorar, Soderbergh ainda tenta dar um tom autoral à obra, brincando com a fotografia e os filtros mais amarelados e azulados em determinados momentos (algo que já havia feito em “Traffic” com muito mais sucesso), uma trilha sonora mais swingada e uma edição mais vagarosa do que a maior parte das fitas do gênero. O problema é que tudo isso soa vazio, pois, infelizmente, a história não empolga.

“À Toda Prova” comprova uma tônica dos filmes de ação da atualidade: quanto mais estilo e nomes famosos melhor; já a história fica em segundo plano.

O fato não chega a ser novidade, porém é lastimável ver um sujeito como Steven Soderbergh, antes uma cabeça pensante do cinema americano, se entregar a fórmula de maneira tão burocrática.

NOTA: 6,5

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