segunda-feira, 23 de abril de 2012

Crítica: American Pie: O Reencontro, de Jon Hurwitz, Hayden Schlossberg

Por César Nogueira

Os três primeiros American Pie marcaram a (pré-)adolescência de pessoas que, hoje, estão na casa dos vinte e poucos. Eles falam de grandes interesses dos jovens, como a descoberta e a busca por sexo e as amizades aparentemente eternas.

As histórias, embaladas pela escatologia e o humor pastelão de conotação sexual, também lembram que quase todos nós viraremos adultos cheios de responsabilidades. Antes disso, temos que aproveitar bastante, defendem elas. Seus destaques são o protagonista, Jim (Jason Biggs), que atrai para si situações constrangedoras, e Stifler (Sean William Scott), o típico mala metido a bonzão.

Em American Pie: O Reencontro, voltam, em tom saudosista, eles e sua turma, acompanhados do peso e das frustrações da vida adulta. Porém, o sexo e a bizarrice também reaparecem, junto com a ideia de que não precisamos nos levar muito a sério.

American Pie: O Reencontro conta a história da reunião do equivalente ao “terceirão” de 1999. Jim, Finch (Eddie Faye Thomas), Kevin (Thomas Ian Nicholas) e Chris (Chris Klein) têm uma vida cheia de conformismo e monotonia. Veem nesse evento uma maneira de reencontrar a galera e fugir dos problemas, pelo menos por um tempo.

Tudo sairia sem muitos atropelos, apenas com os micos de sempre de Jim, se Stifler não tivesse recebido o convite. Os dois protagonizam a maioria das situações cômicas, que se balanceiam entre o escrachado, o escatógico e a vergonha alheia. Por outro lado, os outros amigos contextualizam o enredo e servem de alívio cômico.
Ao contrário de certas comédias escrachadas, este American Pie realmente tem graça. É muito provável que veremos, na capa do seu Blu-Ray, citações como “hilário”, “você não vai parar de rir” e “a comédia do ano” escritas por algum jornal genérico dos Estados Unidos. O humor visual, baseado no constrangimento e na conotação sexual, tem força com Jim e Stifler.

Homem de trinta anos que ainda toma banhos de meia hora, Jim se mete em ciladas alheiamente vergonhosas, como a cena inicial ou a operação que fez para levar a vizinha ninfetinha para casa dela.

Paralelamente, “Stifodão” tem a habilidade de piorar o que já estava ruim enquanto pensa que está abafando. A cena que o mostra chegando na empresa onde trabalha evidencia a sua miséria. Por outro lado, a vingança contra os adolescentes do jet-ski e a sequência final, a da festa, mostram que ele é, indiscutivelmente, um adolescente tardio.

O humor discursivo também aparece, mas em menor proporção. Seus destaques são as tiradas do sr. Levenstein (Eugene Levy), como a da “vagi”, e uma ali e outra acolá de Finch, que, aliás, se parece muito com o Mr. Bean.

Durante o filme, o saudosismo aparece em vários níveis. Há alusões aos anos 90, como uma revista que fala sobre o Bug do Milênio e umdesktop no quarto de Jim. Muitas referências aos três primeiros American Pie também são mostradas.

O vídeo de Jim que vazou na Internet é uma piada recorrente. E a presença de “Sherminator” e de Nadia, a intercabista tcheca, nos fazem tomar um susto do tipo “olha! Desenterraram essa. Que legal!”.

O choque de gerações, como afirmações de que os jovens de hoje são uns perdidos, e a triste constatação de que se é adulto dão base ao argumento do filme. Eles não têm uma profundidade bergmaniana, o que não é problema, tendo em vista a proposta de "O Reencontro".

Tecnicamente, o maior destaque é o timing cômico dos atores e dos diretores, Jon Hurwitz Hayden Schossberg. As piadas funcionam por causa das situações absurdas em que se encontram, do talento da dupla Biggs/Scott e da amarração de pontas e disfarce de pistas que os diretores fazem.

Por outro lado, a fotografia e a direção de arte não mostram nenhuma inventividade e o roteiro tem umas forçações de barra; a bartender guardar o vídeo constragedor de Jim no celular não colou muito, não.

Além disso, as músicas dos ambientes magicamente se adequam à situação que os personagens se encontram. Por exemplo, uma música pop agitada dá lugar a uma balada romântica no exato momento em que um casal começa a ter um contato mais amoroso.


As falhas de American Pie: O Retorno não o diminuem. O filme promete saudosismo e risadas, e cumpre esse combinado. Além disso, nos mostra que o tempo passou e as preocupações da vida adulta nos ocupam, às vezes nos mortificam. Ao mesmo tempo, defende que a infantilidade e a inconsequência têm o seu valor.

Assim, vemos que Stifler não é um idiota completo.

NOTA: 8,0

P.S.: há uma cena após a subida dos créditos.

Cultura inútil: foi em American Pie que se popularizou o termo M.I.L.F., tão corriqueiro em sites de entretenimento adulto.

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