segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Crítica: Caça Aos Gângsteres, com Sean Penn

Por Diego Bauer


Nem precisa ser muito fã de cinema pra saber que filmes relacionados aos gângsteres norte-americanos proporcionaram diversos clássicos da sétima arte, como a trilogia O Poderoso ChefãoOs Bons Companheiros (1990), Era Uma Vez na América (1984), Os Intocáveis (1987), e tantos outros.

E como esse é um tema bastante rico, que traz uma série de possibilidades, é natural que ainda se faça trabalhos abordando este assunto, que já quase se tornou um gênero a parte.

E quando pintou Caça Aos Gângsteres e se pôde ver o elenco que estava envolvido na produção, já dava pra esperar que coisa boa viria por aí.

Bom, infelizmente algo se perdeu no caminho, e o resultado final não chega nem próximo aos filmes que citei no primeiro parágrafo.

Baseada em uma história real, a trama se passa na Los Angeles do final da década de 40. O mafioso Mickey Cohen (Sean Penn) está tomando poderes cada vez maiores na cidade, o seu império não para de crescer, e com a sua força ele já manipula a polícia, juízes, políticos e quem lhe for conveniente. Incomodado com a situação, o delegado-chefe Parker (Nick Nolte) decide montar um esquadrão por fora do esquema da polícia para frear a ascensão do gângster, e pra isso chama o incorruptível sargento John O’Mara (Josh Brolin) para comandar o grupo, que irá infernizar a vida e os negócios de Cohen.

Se algo se perdeu no caminho, isso se deve a direção do então promissor, Ruben Fleischer, que parecia ser sinal de bons ventos em Hollywood quando lançou o divertido Zumbilândia (2009), em que a direção era um dos destaques positivos da produção. O problema é que o tipo de direção presente nos dois filmes é bastante parecida, o que inevitavelmente traria problemas quando se trata de trabalhos tão diferentes.

Na teoria, não vejo absolutamente nenhum problema em empregar uma direção pop, com um estilo mais moderninho em um filme com uma ambientação antiga. Mas neste filme, a direção parece querer aparecer demais, e com isso aparenta não saber o que fazer em determinados momentos.

Se o estilo de Fleischer funciona em determinadas cenas, como na sequência de perseguição dos carros, ou na parte em câmera lenta que vemos vários momentos em que o esquadrão de O’Mara vai derrotando capangas, e destruindo estabelecimentos de Cohen, esse mesmo artifício é utilizado em demasia, fazendo com que o público se canse em ver isso repetidas vezes, sem contar que tal efeito não tem nenhuma função na história, sendo utilizado apenas por uma questão gratuita de efeitos visuais, como na cena do isqueiro, ou na parte final, em que vemos as balas explodirem os enfeites de natal em uma super câmera lenta, e fica nítido que aquilo está ali apenas por ser visualmente bacaninha.

Além disso, a direção de Fleischer se mostra completamente incapaz de saber o momento certo de utilizar a irritante trilha sonora (que se parece muito com qualquer trilha genérica de blockbuster). Até se pode redimir quando ela é colocada em momentos marcantes de ação (embora mesmo assim ela pareça bem exagerada), mas ela é usada incessantemente, e em momentos em que fica claro que a ausência de trilha seria benéfica às cenas, como no momento em que John fala para a sua esposa que vai montar o esquadrão para enfrentar Cohen, ou na cena em que o gângster conversa no restaurante com Dragna (Jon Polito).

Apesar da direção, o filme consegue facilmente envolver a plateia, e isso claramente se deve ao trabalho dos atores, que trazem para a cena bastante honestidade e força, dando vida e uma forte eletricidade àquelas situações, tornando-as interessantes de se ver na tela, seja nas partes dramáticas ou cômicas. Não seria adequado entrar em detalhes sobre o trabalho individual de cada um, pois desde os mais carimbados como Sean Penn, Josh Brolin e Ryan Gosling estão tão bem quantos os menos badalados Emma Stone, Anthony Mackie, Michael Peña e Giovanni Ribisi.

Como não podia ser diferente, o longa tem várias cenas de violência, e elas são vistas de maneira artística dentro do filme. Até aí nenhum problema, mas a forma como os mocinhos (e são mocinhos mesmo, pois o filme elimina qualquer tipo de ambiguidade em relação a isso) exercem a violência parece manipulada para não causar uma espécie de efeito inverso do espectador para com o filme. Eles não matam ninguém. 

É como se eles estabelecessem um código de que mesmo que o mocinho seja violento e cruel com os vilões, ele não pode se igualar a eles (porque ele é nobre e cheio de dignidade), pois isso poderia fazer com que o público deixasse de torcer pelo “bem”.

Acredito que isso seja um erro importante do filme, pois mostrar que, mesmo que os policiais demonstrem honestidade e estejam combatendo o “mal”, se torna algo inverossímil vermos os defensores da lei fazendo o que fazem, e deixando os caras vivos, para eles revelarem para todo mundo quem eles são, e assim eliminando o importante fator surpresa em suas operações. Aposto que, na vida real, os tais policiais não tinham este tipo de “ética”, visto que fica claro o tempo todo que, na cabeça deles, há a fortíssima teoria de que os fins justificam os meios.

E isso traz uma linearidade que enfraquece os personagens, tornando-os adestrados para fazerem o bem no final. Esse preocupação com a forma que as pessoas enxergariam os integrantes da polícia prejudica o fazer artístico do filme, e faz com que fique nítida a impressão de que, mesmo que o filme seja violento, ele foi bastante suavizado com medo do que isso poderia representar nas bilheterias.

Esses elementos ficam escancarados com o desfecho da trama, com um final bonitinho que é muito ruim, em que há até uma óbvia narração em off explicando milimetricamente tudo o que aconteceu com todo mundo.

É realmente uma pena ver que tantos elementos bons foram jogados fora, em alguns casos por um convencionalismo medroso, e em outros por um maneirismo que não vai a lugar nenhum.

NOTA: 6,0

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