sábado, 23 de fevereiro de 2013

Especial OSCAR 2013: O Estranho Caso de Ben Affleck e Argo

Por Caio Pimenta

Em sete capítulos, a mirabolante história que levou "Argo" a ser o grande favorito do Oscar deste ano.


Ato 1: Do Auge ao Declínio

Ganhar um Oscar aos 25 anos de idade ao lado do melhor amigo é algo improvável, a não ser que você seja talentoso como Ben Affleck e Matt Damon. Em um mercado dominado por veteranos e por jovens que se destacam mais por ser bonitões do que pelo talento, ver a dupla levantar a estatueta dourada de melhor roteiro original por "Gênio Indomável" era algo bom demais.

Após o Oscar, Affleck emendou participações em filmes bem-avaliados pela crítica como "Procura-Se Amy" e "Shakespeare Apaixonado" com blockbusters do naipe de "Armageddon" e "Pearl Harbor". Sem dúvida, era um dos astros de Hollywood no início do anos 2000 e dono de um alto salário.

Porém, a fama e bajulação fizeram o astro engolir o artista. A crença de que seria capaz de fazer sucesso a cada filme que protagonizava o fez estrelar bombas como "Jogo Duro", "Demolidor", "O Pagamento" e, principalmente, "Gigli", grande vencedor do Framboesa de Ouro de 2004.

Como desgraça pouco é bobagem, Affleck ainda emendou um namoro com a cantora/pseudo-atriz Jennifer Lopez. O relacionamento entre o casal era alvo dos paparazzis e cada movimento da dupla era capa de revista. Para sepultar a reputação fez o constrangedor videoclipe da música "Jenny From da Block" com direito a tapa na bunda da musa.

Ato 2: Reinício

Com o fim do noivado com Lopez em 2004 e a carreira de ator em baixa, Affleck se torna a grande piada de Hollywood. Enquanto o amigo Damon se consolidava como um dos nomes mais bem-sucedidos da atual geração,  o ator precisa reiniciar a carreira. Nessa época, lança filmes inexpressivos como "Menina dos Olhos" e "Um Cara Quase Perfeito". Pelo menos, não eram bombas, o que já significava um grande avanço.

No campo pessoal, Affleck se acalmou após conhecer a bela Jennifer Gardner, mais conhecida pelo papel de Elektra nos cinemas. Com a atriz, ele diminuiu a exposição nas capas de revistas de fofoca, além de ter um casamento sólido que já rendeu três filhos.

Os primeiros frutos dessa estabilidade e reorganização de prioridades na vida do ator deram frutos com uma bela interpretação no pouco visto "Hollywoodland - Bastidores da Fama".

Ato 3: Novo Caminho

Depois de dez anos sem escrever um filme, Ben Affleck resolveu, em 2007, voltar às origens e criou o roteiro do drama "Medo da Verdade". A boa trama sobre o desaparecimento de uma garota em bairro pobre de Boston conseguiu trazer grandes nomes do cinema como Morgan Freeman, Ed Harris e novos talentos como Michelle Monaghan e Amy Ryan, além do irmão do ator, Casey Affleck.

O filme, porém, traz a primeira incursão do ator como diretor de cinema, uma mudança que traria rumos inesperados à carreira dele.

"Atração Perigosa" veio dar mais esperanças sobre este novo caminho trilhado por Affleck. Um thriller com boas cenas de ação e personagens densos mostrava um ator/diretor mais centrado e amadurecido.

Ato 4: "Argo"

Se havia um nome mais inusitado para dirigir a mirabolante história do plano de resgate de um grupo de integrantes da embaixada dos EUA no Irã tomado pela Revolução Islâmica, este era Ben Affleck.

Sim, ele já havia conseguido reduzir a mancha da imagem de ator de filmes duvidosos e do astro envolvido em escândalos do mundo das celebridades. Porém, conduzir uma trama política, justo em um momento em que a relação entre os dois países envolvidos na história não anda nada bem, poderia ser uma decisão arriscada.

Só que Affleck fez "Argo", um filme que consegue conduzir o espectador para a trama de forma simples, sem perder a dimensão e seriedade sobre o que assunto trata. Capaz de mesclar momentos de tensão com os de humor e criando ótimas sequências de ação (o início do filme é um dos melhores momentos em 2012), o diretor/ator impressionou o mundo do cinema, conseguindo obter ótimas críticas e uma boa bilheteria.

E o que seria impensável há dez anos, começa a se tornar realidade: a volta ao Oscar.

Ato 5: O Baque

10 de janeiro.

Dia das indicações ao Oscar 2013. Hora da consagração de Ben Affleck e "Argo".

Só que não.

Naqueles golpes mágicos que somente o destino pode explicar, lá estava o astro fora das categorias de Melhor Diretor e Ator.

Os motivos especulados para a tragédia foram vários: os atrasos e problemas dos votantes mais idosos, a antipatia que membros da Academia tem por Affleck...

Nesse momento, as chances de "Argo" de faturar o prêmio de Melhor Filme pareciam zeradas, já que a Academia costuma conceder sua honraria principal para o vencedor da categoria de direção.

Era o fim da linha.

Ato 6: Reviravolta

13 de janeiro.

Globo de Ouro.

Com o favoritismo voltado para "Lincoln", detentor de 12 indicações ao Oscar 2013, ou seja, cinco a mais que "Argo", a tendência era Ben Affleck ser um mero coadjuvante na festa da Associação da Imprensa Estrangeira de Hollywood.

Porém, lá vinha a santa reviravolta que acompanha a carreira do amigo de Matt Damon. Prêmios de Melhor Diretor e Filme em Drama acompanhados da expressão atônita de Affleck.

E o fato se repetiu nos Sindicatos dos Atores, Produtores, Roteiristas e Diretores, além do Bafta, o Oscar da Inglaterra.

As conquistas credenciaram "Argo" ao posto de grande franco favorito na disputa deste domingo, 24 de fevereiro. Caso a vitória seja confirmada, o longa repetiria um fato inédito desde 1990: o filme vencer sem ter o diretor indicado. A última aconteceu com "Conduzindo Miss Daisy".

Ato 7: ?

Será "Argo" o grande vencedor do Oscar 2013?

Se analisarmos toda essa história de reviravoltas na carreira e vida de Ben Affleck e do próprio filme nessa temporada de premiações, a resposta é não.

Seria, no minímo, coerente com quase toda esse enredo dramático contado até aqui.

Por outro lado, o Oscar é a festa de Hollywood e este é um lugar de finais felizes.

A única coisa certa é que o Ben Affleck de hoje traz a cinéfilos do mundo todo os sentimentos surgidos naquele Oscar de 1998: a esperança de uma grande carreira pela frente.

Epílogo

Manaus ficou sem receber nos cinemas da cidade "Argo".

Cinemark, Cinemais, Playarte, Severiano Ribeiro e Warner Bros (distribuidora do filme) deveriam se envergonhar.

Aos fãs de cinema, dos bons filmes, cabe comprar o Blu-Ray na Saraiva, Bemol e lojas do ramo ou, infelizmente, fazer downloads.

Vergonha!

Nenhum comentário:

Postar um comentário