quarta-feira, 27 de abril de 2011

Harrison Ford e sua fase negra

POR CAIO PIMENTA
Diretor-Geral do SET UFAM

"Uma Manhã Gloriosa” é um filme para ser esquecido.

Roteiro falho, com furos absurdos (o repórter “seqüestra” o carro da emissora, faz um link ao vivo acusando gravemente o governador se baseando apenas em fontes que não podem ser reveladas só para mostrar que ele é o cara?!), Patrick Wilson e Diane Keaton apagados, Rachel McAdams afetadíssima, quase tendo um ataque epilético somente para aparentar que a personagem dela é empolgada e luta até o fim, edição equivocada, principalmente no terceiro ato, trilha sonora mal inserida e direção equivocada de Roger Michell (“Um Lugar Chamado Notting Hill”) são justificativas de sobra para tornar o longa medíocre. 

Porém, observar a atuação de Harrison Ford é constatar a decadência de um gigante. Ainda mais se lembrarmos que ele interpretou dois ícones da história do cinema: o mercenário de bom coração Han Solo na trilogia “Star Wars” e nada mais nada menos que Indiana Jones nos quatro filmes da série.

 
Em “Uma Manhã Gloriosa”, Ford parece estar incomodado de fazer o filme: apela para caras e bocas com o intuito de mostrar que seu personagem é rabugento e está insatisfeito com o trabalho, o que lembra em muitos momentos a patética atuação de Clint Eastwood em “Gran Torino” que fazia cara de buldogue bravo e só faltava latir para espantar os chineses que o enchiam o saco no longa dirigido pelo próprio em 2008.
Além disso, os momentos de humor nos quais Ford poderia se destacar são um fracasso, pois ele não consegue se expressar bem, chegando a ser constrangedor as horas em que tenta ser engraçado.

A situação é tão complicada que não dá nem para dizer que ele está no “piloto automático”, pois não creio que seria tão ruim se fosse o caso.

 
Harrison Ford vê a carreira declinar desde 1997, quando lançou “Força Aérea 1” e “Inimigo Íntimo” seus últimos sucessos. De lá para cá, o eterno Indiana Jones se meteu em uma série de filmes inexpressivos (“Seis Dias e Sete Noites”, “Revelação”, “Firewall”) até fracassos de público e crítica (“Divisão de Homicídios”, “Decisões Extremas”).

 Apesar de não ser tão talentoso como Al Pacino, Robert De Niro e Daniel Day Lewis, “monstros” da atuação desses últimos 40 anos do cinema americano, Ford, assim como Tom Hanks, tem potencial dramático excelente e possui carisma de sobra.

Porém, enquanto Hanks optou por produções mais sérias e trabalhou com diretores do naipe de Steven Spielberg, Robert Zemecski e os irmãos Coen, Ford preferiu as fitas de ação e suspenses menores.

 
Ator que estrelou clássicos como “Blade-Runner – O Caçador de Andróides” (1982), “Star Wars” (1977, 1980, 1983), “Indiana Jones” (1981, 1984, 1989), além dos excelentes “A Testemunha” (1985), “Acima de Qualquer Suspeita” (1990 e “O Fugitivo” (1993), Harrison Ford tem história e talento suficientes para conseguir papéis em filmes melhores. 

Basta vontade e desejar mudar o rumo de uma carreira em declínio assustador nesses últimos anos.

Quem sabe essa recuperação não leve o ator a faturar uma certa estatueta dourada ainda inédita em sua carreira...


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