sábado, 16 de abril de 2011

Novos Clássicos - O Pianista


Por Diego Bauer
 
            Os mais rabugentos, com o passar dos anos, criaram uma espécie de preconceito com filmes que têm o holocausto como tema. O principal argumento dado por eles é que estes filmes são feitos para ganhar Oscar, e que por isso devem ser encarados como “filmes interesseiros”.

É claro que a Academia já mostrou que de fato simpatiza com esse tipo de filme, e que realmente existe filmes que se aproveitam do tema, mas será que devemos colocá-los todos dentro do mesmo saco? Será que um filme, por apenas ter o holocausto como tema, é pensado, produzido, e moldado para ganhar Oscar? 

Eu realmente acho que não, e considero muito injusto desmerecer filmes excelentes, por eles apenas terem a companhia de outros filmes medíocres.

Quando se fala em holocausto, é muito comum citar A Lista de Schindler (1993), de Steven Spielberg, como o melhor trabalho feito com o tema. Realmente A Lista de Schindler é um grande filme e, na minha opinião, é o melhor trabalho de Spielberg, mas sinto dizer que ele não é o melhor exemplar sobre o que aconteceu com os judeus na segunda guerra mundial. Este lugar está reservado para a obra-prima de Roman Polanski, O Pianista (2002).

Pra começo de conversa, considero que ninguém poderia fazer este filme com mais competência do que Polanski, não apenas por ele ser um grandíssimo diretor [dono de clássicos como Chinatown (1974) e O bebê de Rosemary (1968)], mas também porque ele viveu tudo o que o filme mostra. O próprio Polanski disse que a forma que ele escolheu para fazer o filme era se lembrar do que aconteceu com ele e com a sua família na época, e fazer o filme se aproximar a isso.

Mas, vamos ao que interessa. O filme conta a história do pianista polonês Wladyslaw Szpilman (Adrien Brody), mostrando como começaram as restrições aos judeus em Varsóvia e como ele conseguiu sobreviver ao Holocausto.

Logo de cara, vemos a passividade da família de Szpilman, que apenas observa tudo o que acontece. Essa é uma forma muito elogiável do filme retratar como os judeus foram passivos com os alemães durante a ocupação, visto que a família de Szpilman se torna uma espécie de representante de todas as famílias que foram massacradas.

Para falar de O Pianista é imprescindível citar as cenas marcantes que estão no filme. Pouquíssimos filmes possuem cenas com dramaticidade tão forte como este, e o trabalho de Polanski se torna ainda mais brilhante porque ele mostra as cenas com grande maturidade, sem cair na armadilha de tentar sensibilizar a audiência, pois Polanski sabe que as cenas já são fortes por si só, portanto não precisariam da mão pesada de algum diretor que quer, a qualquer custo, fazer o público chorar.

Vou tomar cuidado pra não citar o filme todo, mas cenas como a do alemão que dá um tapa no pai de Szpilman por ele estar andando na calçada; as imagens dos guetos em que os judeus ficavam, onde até havia pessoas mortas nas ruas; a cena em que guardas alemães obrigam os judeus a dançarem enquanto eles esperam para atravessar a rua; e a cena em que uma fila de judeus é morta apenas para satisfazer um guarda são momentos que ficam na memória.

Um ponto brilhante do filme é mostrar cenas fortes e importantes pelo ponto de vista do pianista. Por exemplo, em um momento que vemos vários oficiais alemães invadindo um prédio, seria comum em outros filmes a câmera estar em vários lugares, para vermos a cena em todos os ângulos possíveis. Mas vendo através de uma janela, a cena tem um poder incrível, e faz com que o que não é visto não faça nenhuma falta, aliás muito pelo contrário.

Depois disso a história caminha, e infelizmente a situação do nosso herói só piora. Chega um momento do filme em que pensamos, por que esse cara ainda vive? O que faz com que ele sobreviva a tudo isso? Pra quê sobreviver? E descobrimos que não é para encontrar a sua família, pois é bem provável que eles não se vejam mais, nem por esperar que as coisas melhorem, pois como já foi dito, a situação apenas piora com o passar do filme. Porém, descobrimos que a música é o que mantém Szpilman vivo, como na cena em que ele “toca piano” no hospital.

O momento em que desafio o telespectador a não chorar é quando Szpilman encontra o capitão alemão Wilm Hosenfeld (Thomas Kretschmann). Uma cena surpreendente, e é o momento que transforma O Pianista de um filme excelente, para uma obra-prima inesquecível.

É importante também citar a direção de arte do filme, com cenários impressionantes, e muito bem feitos. Um trabalho brilhante, que faz com que realmente nos transportemos para esta época.

O que falar de Adrien Brody?  Um bom ator, que de vez em quando se mete em trabalhos muito abaixo da sua capacidade, tem em O Pianista a interpretação de sua vida. Se o filme é uma obra-prima, 50% disso se deve a ele. Com um personagem que exige o máximo de dedicação, física e emocional, Brody nos entrega um trabalho emocionante, em que não sobra nem falta nada. Ele ganhou o Oscar de melhor ator por este trabalho em 2003, mas digo que não é ele que tem que ficar orgulhoso, mas o Oscar que tem de se orgulhar de dado esse prêmio a ele.

Os outros 50% são para o trabalho brilhante feito por Roman Polanski, que dirigiu um filme com uma incrível sensibilidade, tendo acertado em todas as escolhas que fez durante o filme. O que eu falei sobre o Oscar de Brody se repete aqui.

 Dizer que O Pianista é o melhor filme sobre o holocausto é muito pouco.  

O Pianista é uma obra que nos faz pensar sobre a condição do ser humano, que nos deixa indignado com os absurdos que vimos, e que sabemos que aconteceram, que nos faz sentir um pouco mais de esperança, que nos emociona como poucos filmes conseguiram, e que, acima de tudo, me faz lembrar porque eu amo cinema.

NOTA: 10,0

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