terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Crítica – O Discurso do Rei

Por Diego Bauer

Confesso que nunca tinha ouvido falar de Tom Hooper, o diretor de O Discurso do Rei (filme com o maior número de indicações ao Oscar deste ano, 12 no total). Conhecendo o seu trabalho a partir desta obra, sou obrigado a elogiá-lo pelo grande filme que fez, e reconhecer que são merecidas as suas 12 indicações. Porém, sem querer desmerecer o seu trabalho, acho que a sua tarefa não foi tão árdua, pois com o elenco que ele tinha nas mãos, ele só precisaria não atrapalhar, e deixar que os seus grandes atores fizessem o que sabem.

O filme conta a história de Albert, o Duque de York (Colin Firth) que assumiu o trono depois que seu irmão mais velho, o então Rei Edward VIII (Guy Pearce), abdica o trono inglês. O mundo está inserido na Segunda Guerra Mundial, e o povo da Inglaterra espera de um rei alguém em quem confiar, que passe segurança e força, neste delicado momento. Só que Albert é gago, e não consegue fazer pronunciamentos em público, de jeito nenhum, sem parecer inseguro e nervoso. Com a ajuda de sua esposa, a Rainha Elizabeth (Helena Bonham Carter), ele procura profissionais que o auxiliem com a sua gagueira, mas nunca consegue encontrar alguém que pareça capaz o suficiente. Até que eles encontram o excêntrico Lionel Logue (Geoffrey Rush), que apesar de possuir métodos estranhos, consegue ajudar o rei a enfrentar a gagueira.

Como se pode ver, a trama é muito simples. Mas não me entenda mal, pois mesmo sendo simples, o roteiro de David Seidler passa uma grande complexidade no que se refere a densidade dada a cada personagem. Fazendo com que, sem pressa, acompanhemos o desenrolar da história e, com o passar do tempo, criemos uma simpatia pelos personagens. Aliás, é bom o Christopher Nolan ficar de olhos abertos, pois o roteiro de Seidler pode surpreender e roubar o prêmio de melhor roteiro original.

Mas mesmo com uma boa direção e um bom roteiro, o que diferenciaria o filme de ser um filme bom, ou um grande filme, seria a qualidade das interpretações, e o quão afinados estariam os seus atores principais. E é justamente esse o ponto que desequilibra a balança a favor de O Discurso do Rei.


Os três atores principais estão perfeitos. Helena Bonham Carter, vivendo a compreensiva e companheira esposa do rei transmite uma simplicidade e naturalidade que, antes de ver o filme, achei que ela não conseguiria passar. Calma. Acho a Helena Bonham Carter uma boa atriz, mas convenhamos: Ela se tornou conhecida por fazer papeis, digamos, excêntricos (saga Harry Potter, Clube da Luta, Sweeney Todd, Alice). Ou seja, é bom ver algum ator, que se tornou famoso por um estilo, ousar e ir por um caminho diferente na carreira. E ela se sai muito bem.

Já para Geoffrey Rush foi o contrário: Ele seria o excêntrico da história, e ser o contraponto do sisudo rei. E Rush cumpre o seu papel maravilhosamente bem. Ele é a alma do filme. Claro que Colin Firth tem o papel mais importante, mas é com a presença de Rush que o filme cresce. Aliás, os melhores momentos são quando Firth e Rush dividem a cena, com ótimos duelos de interpretação, mostrando como pode ser mágica uma cena em que temos dois grandes atores em grandes performances.

Colin Firth, criando uma gagueira perfeita, mostra todas as inseguranças vividas por um rei, que não queria ser rei, mas se viu obrigado a assumir o trono. A veracidade da gagueira dele me impressionou muito no começo, pois ela é perfeita. Porém, depois de um tempinho, percebe-se que isso é apenas 1% do trabalho de Firth, que explora todos os sentimentos do personagem. Insegurança, medo, vontade de vencer, ciúme, amizade, desejo e aceitação, enfim, tudo isso emana da figura de Firth. Um grandíssimo trabalho de um grande ator.

Outro ótimo ponto de O Discurso do Rei é a sua direção de arte. Ótima. Somos transportados para a Inglaterra e chega a impresionar o realismo dos seus cenários.

O Discurso do Rei é um filme simples, sem ser simplista; divertido, mas com muita inteligência; emocionante, sem ser apelativo; e com aulas de interpretação. E que, acima de tudo, merece ser visto e aplaudido.



NOTA: 8,0

2 comentários:

  1. Boa crítica, diego, mas se este filme ganhar o premio de melhor roteiro original, então realmente, o oscar está fadado à mesmice, pq de original o roteiro não tem nada.

    Quero dizer, segunda guerra mundial, contraste de classes (nada sutil por sinal - um é da realeza e o outro da classe trabalhadora inglesa?!), uma historia de superação, etc. São MUITOS elementos que já foram desgastados em outros vencedores do oscar.

    O filme realmente mostra atuações brilhantes, mas ao lado de aberrações, como o Timothy Spall franzindo a cara pra parecer o churchill... bizarro aquilo.

    Enfim, é um bom filme com uma história mt marromeno, se o nolan perder essa, seria so mais uma das inúmeras injustiças do oscar. (pulp fiction, taxi driver, etc)

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  2. Obrigado pelo comentário.
    E com relação ao Oscar de mlhor roteiro, tambem acho que "A Origem" merece vencer e provavelmente irá. Mas, como falei, uma zebra pode acontecer.

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