domingo, 6 de fevereiro de 2011

Crítica - O Vencedor

POR CAIO PIMENTA
Diretor-Geral do SET UFAM

Fazer um filme sobre o mundo do boxe é algo simples e difícil ao mesmo tempo.

Histórias de superação não faltam no esporte como o caso de Jim Braddock que inspirou o fraco "A Luta Pela Esperança" com Russell Crowe ou de Jake La Motta do qual Martin Scorsese fez um de seus clássicos, "Touro Indomável" em uma atuação inesquecível de Robert De Niro.

Sylvester Stallone talvez tenha realizado o mais popular clássico do gênero com "Rocky", personagem da vida do ator.

Já Clint Eastwood trouxe um "sopro" de inovação com "Menina de Ouro", capaz de trazer o ambiente do boxe feminino para as telonas, além de discutir o polêmico e sensível tema da eutanásia.

Por tudo isso, David O. Russell, diretor de "O Vencedor", tinha inúmeros exemplos de como fazer um filme sobre este esporte de maneira competente. Bastava seguir as regras colocadas e uma boa obra seria feita.

Porém, como seria possível se destacar?

Simples: bastou se juntar a atores dispostos a entregar atuações complexas e sem nenhum tipo de vaidade, como Christian Bale e Melissa Leo, e Russell conseguiu tornar seu filme acima da média da maioria das histórias sobre boxe feitas para o cinema.

Passado na década de 90, "O Vencedor" mostra a trajetória de Micky Ward (Mark Wahlberg), talentoso boxeador que vive sob as influências do irmão e treinador Dicky Eklund (Christian Bale), lutador de desempenho modesto durante os anos 70 e 80 e da mãe e empresária, Alice Ward (Melissa Leo). Porém, a família de Micky é um verdadeiro peso na vida dele: viciado em crack, o irmão falta em treinos, o coloca em confusões com a polícia, além de desgastá-lo psicologicamente; já a mãe parece mais preocupada em mimar Eklund, apoiando o filho sempre que preciso, mesmo que isso signifique colocar Micky em uma luta contra um boxeador 10 quilos mais pesado. Somente quando Micky conhece Charlene Fleming (Amy Adams), garçonete pela qual o boxeador se apaixona e capaz de enfrentar Eklund e Alice, que o ele começa a se destacar no mundo do boxe.

Não lembrando nem um pouco o diretor do ótimo “Três Reis” e do péssimo “Huckabees – A Vida É Uma Comédia”, David O. Russell opta por conduzir "O Vencedor" sem nenhuma grande ousadia, mostrando através de planos simples a difícil história de Micky Ward. Confiando extremamente no talento de seus astros, o diretor deixa a câmera fluir com elegância durante as discussões familiares que são o ponto-chave da obra. Uma decisão acertadissíma e que serve para mostrar quem manda no filme: Christian Bale e Melissa Leo.


Bale domina a cena em todas as sequências em que aparece. Vivendo um sujeto afundado nas drogas e nas lembranças de uma luta da qual teve apenas um bom momento contra Sugar Ray Leonard, uma das lendas do boxe, o ator constrói um homem incapaz de perceber o mal que faz ao próprio irmão, mesmo sabendo do possível potencial dele e do amor que nutre por Micky. Não enxergando a realidade, ele anima-se com a possibilidade de aparecer em um documentário da HBO como possibilidade de retomar a carreira. O problema é que as filmagens procuram mostrar o que vício do crack faz com as pessoas. Completamente entregue ao personagem, Bale mal lembra o ator que interpreta o Homem-Morcego, estando completamente magro e sem pudores.

Já Melissa Leo faz uma mãe possessiva que gosta de todos os filhos sob o seu comando, fazendo o que ela quer. Por isso, sua luta em manter o controle da carreira de Micky é tão feroz, mesmo quando parece ser tão óbvio o quão danoso é para a carreira do personagem de Mark Whalberg. Para isso, Melissa se impõe em cena de maneira estupenda: quando a personagem dela, Alice Ward, aparece vemos uma mulher forte, capaz de enfiar a mão no rosto do primeiro que a contrariar.

Porém, a atenção e preocupação principal de Alice recaem, acima de tudo, no estado de saúde de Eklund. Uma mistura de fracasso e impotência ao ver o filho cair sistematicamente da janela do quarto onde se droga com os amigos toma conta da mãe do lutador. Como forma para tirá-lo das drogas, ela enxerga na carreira de Micky um foco no qual o personagem de Bale pode encontrar para sair das drogas.

Não é à toa que uma das cenas mais bonitas do longa envolva justamente Bale e Melissa dentro de um carro cantando uma música triste e que diz muito sobre o mundo em que vivem.

Já Amy Adams mostra estar mais madura e usa de sensualidade ao interpretar a garçonete que se apaixona pelo protagonista. Surpreendente, visto que ela se caracterizou por personagens meigos e sensíveis, como nos filmes “Encantada” e “Julie & Julia”.

Infelizmente, Mark Whalberg não consegue em momento algum de “O Vencedor” se destacar, tendo uma atuação robótica e sem vida. Durante os 115 minutos do filme, Whalberg é incapaz de desenvolver seu personagem e quando se coloca ao lado dos outros três atores ele se apaga de tal maneira que chega a ser constrangedor, diminuindo, de certa forma, a força do filme.

Outro problema grave de “O Vencedor” são as patéticas cenas de luta. As trocas de soco são risíveis (reparem que quando os lutadores apanham, eles abrem a guarda de maneira impressionante, como se pedissem para apanhar) e a primeira vitória da arrancada de Micky rumo ao título mundial vem com um dos nocautes mais toscos que o cinema já viu.

Só vendo para acreditar.

Por outro lado, a trilha sonora é sensacional. Apostando no rock´n´roll, o desfile de astros da música como The Rolling Stones, Red Hot Chilli Peppers, Aerosmith e Led Zeppelin é de fazer qualquer fã de boa música ficar louco para comprar o CD do filme.

No fim das contas, “O Vencedor” é mais um filme sobre personagens do que propriamente de boxe e explora o talento de seus atores ao máximo, destacando-se nesse mundo de produções que abordam o esporte.

NOTA:7,5

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