quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Especial Oscar 2011: História do Oscar – John Ford, Melhor Diretor


Por Renildo Rodrigues


Como medir a grandeza de um diretor? Pelo talento? Mas o que, exatamente, é o talento? Ele pode ser definido? Explicado? Se o critério fosse o sucesso de público, James Cameron (Titanic, Avatar) e Steven Spielberg (Tubarão, E.T. – O Extraterrestre, Parque dos Dinossauros) ganhariam disparado. Mas cifras não costumam decidir um Oscar (ao menos, não de todo). E, mesmo que decidissem, John Ford (1894-1973) estaria tranquilo.

Dada a produção descomunal do diretor – mais de 140 filmes, entre curtas, longas e documentários, numa carreira de 50 anos –, é bem provável que ele esteja entre os mais assistidos da história. Como Ford já era diretor quando o cinema engatinhava, é impossível precisar a audiência dos seus primeiros filmes. O que se sabe (graças a alguns documentos da época) é que eram um sucesso.


Mas Ford é o tema desde post por outro motivo: ele é o recordista do Oscar de Melhor Diretor, em 82 anos de premiação. Quatro vezes – a primeira delas ainda na 6ª edição do Academy Award, por O Delator (1935). Nos dezessete anos seguintes, seria a vez de As Vinhas da Ira (1940), Como Era Verde o Meu Vale (1941) e Depois do Vendaval (1952). Com competidores do nível de Howard Hawks, Alfred Hitchcock e Billy Wilder, isso deve querer dizer alguma coisa.

Sim, Ford é um dos grandes. E não só pelo pioneirismo. Embora pouco se fale dele nestes tempos de Michael-Bays, Adam-Sandlers e vampiros carolas (pobre Vlad...), Ford, em sua época, foi um grande inovador: muito lhe devem os westerns, os filmes de ação (sim!), os filmes de época e até mesmo a fotografia de cinema. Os westerns, aliás, quase tudo – em duas ocasiões, foi Ford o responsável pela sobrevida do gênero. A primeira delas em 1939, quando o diretor lançou No Tempo das Diligências (filme que revelou ao mundo o astro John Wayne). A segunda, em 1956, ano de Rastros de Ódio. É bem provável, aliás, que a morte do diretor, em 1973, tenha sido o golpe que faltava para sepultar o faroeste.




Por aí já deu pra ver que o diretor era diferente. Ford era especialista num gênero que nem existe mais. De repente, isso pode ter feito com que as novas gerações já não se interessassem por sua obra (minha teoria). Mas os novos diretores não o esquecem: Quentin Tarantino, que, ao lado de Christopher Nolan, Paul Thomas Anderson e David Fincher, é um dos cineastas mais talentosos em atividade, não cansa de lhe pagar tributo. Sangue Negro, de Anderson, é rigorosamente fordiano em suas panorâmicas do deserto do Texas. Os antigos não deixavam por menos – Orson Welles confessou ter assistido mais de 40 vezes a No Tempo das Diligências antes de filmar a sua obra-prima, Cidadão Kane. Outra de Welles: uma vez um repórter lhe perguntou quem seriam os três maiores diretores do cinema. Fácil: “John Ford, John Ford e... John Ford”.




Mas para atestar, afinal, a riqueza de Ford, é preciso ver seus filmes. E aí, leitor, é com você. Da minha parte, do alto de minhas cópias de Rastros de Ódio, Paixão de Fortes, Sangue de Herói, O Céu Mandou Alguém, Como Era Verde o Meu Vale e Depois do Vendaval (no Brasil, seus filmes, quando à venda, são caros e difíceis de achar. Vale tentar a Livraria da Travessa), fico muito feliz por conhecer o seu trabalho.

Como medir a grandeza de um diretor? Não sei. Só sei que John Ford é um dos maiores. E que, ao menos nesse caso, a Academia soube reconhecer isso.

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